Nas últimas horas, a decisão da Justiça brasileira de bloquear o aplicativo de mensagens multiplataforma WhatsApp por dois dias pegou muita gente de surpresa. Além do espanto naturalmente causado, o sentimento para alguns era o de desespero.
Para muitas pessoas, pensar em uma vida offline é a morte. O que nem todas as pessoas não se dão conta é que há algo que está morrendo lentamente, que não estão vendendo, e, se estão vendendo, não estão entregando. O leitor que ainda se dá ao trabalho de ir à banca para comprar uma publicação impressa talvez possa imaginar do que é que eu estou falando.
Quem poderia imaginar, há algum tempo, que uma notícia como esta poderia até resultar em um transtorno? Mas resulta e tem nome: Nomofobia. Pois é. Esta nova fobia ou sensação de angústia aparece quando o indivíduo se depara com a impossibilidade de contatar com alguém ou de ser contatado.
Apesar de ser um termo novo – onde o Nomo vem do inglês No-Mobile, sem celular – muita gente já ‘deu sinal’ de que poderá vir a sofrer deste mal. Pelo menos durante período em que o WhatsApp ficou fora do ar.
Este novo formato de recepção e transmissão de informação, seja na vida pessoal ou profissional, nos obriga a estar sempre conectados. Porém, a que ponto a possibilidade de uma vida offline nos deixa nervosos e impacientes? E qual é o nível de stress essa possibilidade pode nos causar?
Um estudo realizado com cerca de mil pessoas no Reino Unido, país onde surgiu o termo Nomofobia, revelou que dos entrevistados, 66% se mostrariam ‘muito angustiados’ com a possibilidade de perder o celular. Em outra pesquisa realizada pela revista Time e pela Qualcomm no Brasil, 58% dos entrevistados admitiu verificar o celular a cada 30 minutos enquanto 35% verificam o aparelho de dez em dez minutos.
Outro estudo, da Universidade de Maryland, nos EUA, apresentou dados ainda mais alarmantes. Dos 1000 alunos entrevistados, com idades entre 17 e 23 anos, 79% deles apresentaram sintomas como coceira e uma sensação parecida com a de dependentes químicos em abstinência, durante o período de 24 horas no qual ficaram privados de seus aparelhos.
Necessidade e vício. Estas são as duas palavras chaves para se alongar neste debate. Quais os prejuízos que o uso das redes sociais e dos aplicativos multiplataforma acarretam na vida social e pessoal do usuário? Ao sentar-se em uma mesa de bar, o usuário dá mais atenção ao seu smartphone ou àqueles que compartilham consigo o ambiente?
As redes sociais com as suas altas cargas de anúncio e de conteúdo são espaços para tudo, menos para a real socialização. É um ‘ambiente’ onde o indivíduo encontra a liberdade de promoção de suas próprias opiniões e frustrações. Mas será que estão conectando as pessoas?
A decisão da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o desbloqueio do WhatsApp muito antes do prazo de 48 horas. Ainda que provisória, a decisão trouxe alívio para os usuários.
Estas horas sem WhatsApp poderiam ter sido utilizadas para diversas atividades e questionamentos, pois o que está morrendo lentamente é a relação pessoal e o contato face a face. O cantor cearense Belchior cantarola que o seu delírio é a experiência com as coisas reais. Em 1976 ele já sabia o que é realmente importante para o indivíduo. Nós, em 2015 experimentamos o inédito bloqueio de um aplicativo de mensagens e fomos levados a questionar “o que é realmente importante para nós”. Horas depois fomos afagados pela sensação de alívio. Boa notícia. Conexão restabelecida com sucesso.