INHAPIM – 9 de outubro de 2014. Essa data ficou marcada para muitas famílias de Inhapim, que fizeram parte do Movimento Sem-Teto. 36 pessoas, entre adultos e crianças precisaram deixar as terras do Patronato, situadas às margens da BR-116, após invasão das terras, consideradas improdutivas em setembro de 2013. Algumas pessoas, sabendo da decisão, já tinham desocupado a área. A desocupação foi determinada pelo juiz da vara agrária de Minas Gerais, Otávio Almeida Neves.
Ao todo, 63 casas foram derrubadas e 24 famílias tiveram que sair do assentamento. Passados pouco mais de quatro meses da desocupação, quem chega a Inhapim pode perceber que o assunto ainda está vivo na memória dos moradores. A Reportagem esteve na cidade novamente. Algumas pessoas disseram que há a possibilidade de que ocorra outra invasão, a partir da articulação de uma nova liderança do grupo.
Segundo informações fornecidas por famílias que deixaram o terreno, algumas estão morando em São Domingos das Dores, São Sebastião do Anta e outras permaneceram em Inhapim. Os relatos ainda são de pessoas que ficaram em estado de depressão e que amargam prejuízos financeiros.
Uma destas famílias é a de Tereza Justina da Silva. Ela mora ao lado do filho, Lourival Alexandre da Silva. Após depositarem a esperança da casa própria fazendo parte do MSTI, ambos voltaram para o aluguel.
Lourival mora com a esposa e dois filhos. Ele lembra como decidiu invadir as terras e tentar a sorte e conta que seu primeiro contato foi com o ex-líder do movimento, Rondinelli Marcelino Dias (N.E.: Rondineli, assassinado em julho do ano passado). “Ele disse para eu levar a minha mãe, para tentar conseguir uma área para a gente. Eu disse que estava sem dinheiro para investir, mas tinha intenção de fazer uma casa para mim e outra para a mãe, porque ela já é de idade, isso facilitaria para tratar da saúde dela”.
Pouco a pouco, o desejo e a empolgação de conseguir a casa própria falaram mais alto e Lourival viu a oportunidade de dar uma vida melhor para a sua família. Assim, ele decidiu fazer um empréstimo para adquirir o terreno. “Chamei a mãe para fazermos um empréstimo no valor de R$ 5.500. Comecei a construir, fiz a base e levantei a alvenaria da casa da mãe. Para a minha surpresa, venderam a minha parte, fiquei no prejuízo e tive que comprar de novo da pessoa por R$ 1.000. Isso me deixou chateado, porque eu já tinha começado a construir e venderam a minha parte sem me consultar. Depois, pediram uma arrecadação para fazer a rede de esgoto e contribuí com mais R$ 120”.
Ele lembra que os gastos no decorrer da obra fugiram até mesmo ao seu orçamento. “Atrasei o aluguel e as contas de água e luz na casa da minha mãe para mexer na construção. Fiz conta alta no depósito. Eu tentava fazer duas casas ao mesmo tempo, me complicou. Me disseram que daria certo para todo mundo. Comprei materiais e guardei em casa para ir levando devagar, até hoje tenho guardado. Eu levava areia no saco todos os dias para ir fazendo tudo aos poucos. Tive um prejuízo total de R$ 12 mil reais”.
Ao ser questionado sobre o dia em que aconteceu a desocupação, Lourival afirma que lamentou por sua situação e de outros colegas. “Pegou a todos de surpresa. Eu fiquei sem saber onde recorrer. Meu pai faleceu na época, de desgosto. No dia eu fiquei chocado até mesmo vendo pessoas que precisam daquelas moradias, com filhos perto vendo tudo. Algumas moravam em locais de difícil acesso, com filho deficiente. Agora todos estão com esperança de que tudo se resolva”.
“O povo estava lá por necessidade”
Eliane Louback também foi uma das pessoas que invadiu o terreno. Ela acredita que, além do prejuízo financeiro, o sonho da casa própria também ficou na memória. “A vida não anda muito boa, porque a gente tinha esperança de construir lá, ter moradia fixa, ter um teto. Depois de tudo o que aconteceu, o jeito é trabalhar e seguir a vida. Foram tomados os loteamentos de pessoas que precisavam. Ninguém estava lá para brincar, todo mundo estava precisando de moradia. É um absurdo. O pessoal não cuidava do terreno, não pagava, não tinha necessidade de ter o terreno e ter tirado de tantas famílias que precisavam daquilo para morar. O povo estava lá por necessidade”.
Quanto à assistência necessária, Eliane lamenta não ter recebido ajuda neste recomeço. “Ninguém nos procurou, pelo contrário. Ninguém quis saber de prejuízo, danos e nada. É muito triste, porque todos que pegaram lote tinham família grande, não foi nem por vaidade. Muita gente perdeu muita coisa, eu graças a Deus perdi pouco, mas e agora o prejuízo? As pessoas não tinham condições de arcar com a construção, imagina com estes prejuízos”.
PREJUÍZO DE 40 MIL REAIS
Edmilson da Costa Araújo é mais um que contabiliza os gastos. Ele foi uma das pessoas que mais tiveram prejuízos com a construção. Devido a problemas de saúde, não pode trabalhar e após ver a sua moradia ser demolida, voltou para a casa do pai, onde morava. “Não tá fácil. No começo, os amigos apareceram aqui, a família me ajudou, estou no terreno do meu pai. Se não fosse isso, não teria para onde ir. Faço alguma coisa para ajudar a manter a casa, mas é mais a minha mulher que trabalha, porque eu sou aposentado e não posso trabalhar”.
Edmilson amarga ainda, o prejuízo que gira em torno de 40 mil reais. “Custamos a levantar, ficamos muito tempo baqueados, a verdade foi essa. Fiquei chateado mesmo. Para ajudar nunca apareceu ninguém. Uma casa grande, com ponto de comércio. Sem contar as outras coisas, tudo é gasto, uma gasolina daqui pra lá é gasto”.