Ao lermos A grande história da evolução e O maior espetáculo da Terra (dos quais baseio e referencio este texto) de Richard Dawkins nos deparamos com a arrogância da interpretação a posteriori. A história tem sido definida como uma coisa depois da outra. Essa ideia pode ser considerada um alerta contra duas tentações. Primeiro, o historiador é tentado a vasculhar o passado à procura de padrões que se repetem. A segunda tentação do historiador é a soberba do presente: achar que o passado teve por objetivo o tempo atual, como se os personagens do enredo da história não tivessem nada melhor a fazer da vida do que prenunciar-nos.
A história evolutiva pode ser representada como uma espécie depois da outra. Mas muitos biólogos hão de concordar comigo que se trata de uma ideia tacanha. Quem olha a evolução dessa perspectiva deixa passar a maior parte do que é importante. A evolução rima, padrões se repetem. E não simplesmente por acaso. Isso ocorre por razões bem compreendidas, sobretudo razões darwinianas, pois a biologia, ao contrário da história humana ou mesmo da física, já tem a sua grande teoria unificada, aceita por todos os profissionais bem informados do ramo, embora em várias versões e interpretações.
As evidências da evolução aumentam a cada dia e nunca foram tão convincentes. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, a oposição mal informada, também é hoje a mais forte.
A evolução é um fato. Além de qualquer dúvida razoável, além de qualquer dúvida séria, além da dúvida sã, bem informada, inteligente, além de qualquer dúvida, a evolução é um fato. As evidências da evolução são tão fortes quanto as da Segunda Grande Guerra. É a pura verdade que somos primos do chimpanzé, primos um pouco mais distantes dos macacos, ainda mais distantes do porco-da-terra e do peixe-boi, mais distantes ainda das bananas e dos nabos… uma lista que podemos continuar até onde desejarmos. Isso não precisava ser verdade. Não é uma verdade evidente, tautológica, óbvia, e houve um tempo em que a maioria das pessoas, inclusive as instruídas, pensava que não fosse. Não tinha de ser verdade, mas é. Sabemos disso porque é atestado por uma crescente enxurrada de evidências. A evolução é um fato.
A evolução está dentro de nós, à nossa volta e entre nós, e suas obras estão incrustadas em rochas de eras passadas, já que, na maioria dos casos, não vivemos o suficiente para ver a evolução acontecer diante dos nossos olhos, podemos então utilizar a metáfora do detetive que chega à cena do crime depois do evento e faz inferências. Os recursos para as inferências que levam os cientistas ao fato da evolução são muito mais numerosos, mais convincentes, mais incontroversos do que qualquer depoimento de testemunha ocular jamais usado em qualquer tribunal e em qualquer século para estabelecer a culpa por um crime.
A evolução é um fato!
*Rafael Luiz da Silva Neves
*Rafael Luiz da Silva Neves é biólogo e enfermeiro, professor do Curso de Enfermagem e Nutrição do UNEC- Centro Universitário de Caratinga.
-Mais informações sobre o autor: http://lattes.cnpq.br/2929919224378232.