Eugênio Maria Gomes
Na última terça-feira, durante treino na academia, eu, alguns alunos e o nosso treinador Maimone iniciamos um bate-papo sobre a falta de apoio às atividades esportivas por parte dos gestores municipais das cidades do interior de Minas. Em determinado momento da conversa, quando o assunto já havia transposto o âmbito do esporte e chegado à forma nefasta como muitos têm aplicado o bom e velho conceito de Político na vida pública, ouvi da Érika, profissional da Educação Física e treinadora de uma equipe de handball da cidade, o seguinte: “Eu consigo entender essa politicagem, onde os gestores se sucedem e a coisa não muda: é para dar descanso à mão que bate e à bunda que apanha”.
Se pensarmos bem, as coisas acontecem assim mesmo, numa roda viva em que os atores ora saem de cena, ora retornam e, nas cidades interioranas, parte da população “paga a conta” em um governo e, a outra, no governo que o suceder. A um novo governo, os servidores comissionados – escolhidos sem concurso, cuidarão dos assuntos estratégicos do município, enquanto os outros, oriundos da gestão que saiu ficarão aguardando uma nova eleição para, então, retornarem ao trabalho.
Não há projeto que aguente essa alternância de Poder, posto que a maioria deles ficará paralisada por quatro ou oito anos, à espera do retorno do ex-patrão ou de alguém indicado por ele.
Não deveriam as ações governamentais, principalmente aquelas que interferem na vida dos cidadãos, relacionadas à saúde, educação, transporte e desenvolvimento humano, por exemplo, serem dirigidas por funcionários efetivos? É bem possível que, caso isso acontecesse, tivéssemos o mínimo de continuidade dos planos de ação efetivados e dos planejamentos em curso. Evitaríamos, inclusive, aqueles comentários comuns de que no “governo x” tinha isso e aquilo e que no “governo y” não e vice e versa.
Nós reclamamos muito dos funcionários públicos, mas nos esquecemos de que eles, também, raramente são valorizados, treinados, desenvolvidos. O que acontece normalmente é a concentração da “confiança” nos funcionários nomeados por cada gestor, em cada governo. E é justamente esta “confiança” a grande responsável pelo inchaço da folha de pagamento e pela falta de dinheiro dos municípios para a realização de atividades básicas de infraestrutura, saneamento, prevenção de doenças e de fortalecimento da cidadania.
Não, eu não sou contra a admissão de funcionários “em confiança”, para cada exercício, para cada mandato. Sou contra a descontinuidade das ações apenas porque elas não foram implantadas por este ou aquele partido, por um ou outro gestor.
Para tanto, deveria ser feita uma diferenciação entre os diversos setores da administração. Aqueles que tratam de temas de relevância permanente e constante, como saúde, educação, cultura, esporte, segurança, saneamento e outros, que deveriam ser gerenciados por uma administração profissionalizada, composta por servidores efetivos, concursados, bem remunerados, bem treinados e que estivessem imunes às vicissitudes políticas, e aqueles que tratam diretamente de assuntos de cunho tipicamente político, como o assessoramento direto do governante, que, obviamente, precisam ser ocupados por servidores comissionados, ou seja, da confiança do Gestor, escolhidos livremente por ele.
Infelizmente, não é isso que temos. No afã de agradar a gregos e troianos, de retribuir as colaborações obtidas na campanha, os gestores públicos lotam os diversos setores da administração de servidores nomeados em comissão, sem conhecimento, sem capacidade técnica para exercerem aquelas atividades, descontinuando projetos e atropelando políticas públicas que deveriam ser uma constante.
Mas, voltando ao tema inicial que motivou este texto, a persistir este modelo de administrar os municípios e de gerir o seu Capital Humano, jamais teremos no esporte equipes campeãs que representem a cidade, daquelas que levavam as pessoas ao campo de futebol ou aos ginásios, como acontecia no governo do… Sei lá o nome!!
Pois é, a Érika acertou em cheio. Mudam-se as mãos que batem e as bundas que apanham. Só não muda quem paga a conta: o contribuinte!
. Eugênio Maria Gomes é escritor e professor.