CARATINGA- A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Caratinga iniciou, na última quinta-feira (20), a Jornada de Libertação com Cristo, que segue até o dia 23 de fevereiro. O evento, realizado em parceria com a Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC) e a 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais, visa proporcionar um momento de reflexão e espiritualidade para os recuperandos, alinhado à metodologia própria da APAC.
De acordo com Tatiana Faria, diretora geral da FBAC, a jornada é uma oportunidade de reflexão profunda para os participantes. “É um dos elementos da metodologia APAC, que vai auxiliar os recuperandos na espiritualidade, para que a gente possa fazer durante quatro dias muitas reflexões, a partir de quem são, de onde eles são, de onde eles estão, para onde que eles vão, fazendo as reflexões sobre a caminhada deles e os novos propósitos para a vida deles. Então, é um evento para que eles busquem propósito para conseguir apreender a metodologia e para seguir no seu processo de recuperação, de ressocialização, com muito mais firmeza, pautado em valores morais e cristãos”, explicou.
Tatiana enfatiza que a APAC tem uma proposta de ressocialização diferenciada em comparação com as prisões tradicionais. Enquanto as demais unidades prisionais são administradas pelo Estado e focadas no perfil punitivo do preso, as APACs são geridas pela sociedade civil e destinam-se aos detentos que atendem aos critérios para transferência. “As APACs têm uma proposta de ressocialização, porque o sistema prisional historicamente se preocupou muito com a visão punitivista. E nós temos uma preocupação também, além da função punitiva, da pena privativa de liberdade, da função recuperativa. Então, nós temos uma metodologia própria para que trabalhe essa possibilidade de recuperação com resultados muito profícuos. Nosso índice de reincidência é de 13,9%. Então, significa que a cada 100 presos, 14 somente voltam pela criminalidade, aqueles que passam pelo nosso sistema”, afirmou Tatiana Faria.
Maurício Henrique, presidente da APAC de Caratinga, destacou a importância da mudança de mentalidade durante o processo de recuperação. “Estamos trazendo para os recuperandos não somente mudar a conduta, mas mudar também a mentalidade. O que é mudar a mentalidade? Pensar diferente, se arrependendo daquele erro, do que aconteceu no passado, através da luz da palavra. Vamos trazer aqui na jornada Libertação a luz da palavra, a luz do estudo da palavra e, através de várias palestras, a libertação e o arrependimento. Trazer o recuperando da APAC, através dos estudos, através das palestras ministradas, ao arrependimento, bem como o reconhecimento daquilo que ele fez, mas também buscando para que ele mude a mentalidade”, ressaltou.
O crescimento do método APAC em Caratinga tem sido significativo. Atualmente, a unidade conta com 150 vagas, das quais 147 já estão ocupadas. Maurício Henrique explicou o processo de seleção dos recuperandos. “Eles passam pelo sistema judicial, vão para o presídio e no presídio eles têm uma lista de chamada onde passam por pré-requisitos para vir para a APAC. Quem determina quem vem para a APAC é o juiz criminal da comarca, o doutor Consuelo, que encaminha do presídio aqui para a APAC. Eles vêm para o regime fechado, passam por laborterapia, estudos do método APAC, é uma escola verdadeira, onde se busca, através do método APAC, ressocializar. Um método diferenciado de responsabilização, bem como também trazendo um cumprimento de pena humanizado”.
Adriana Luppis, gerente geral da APAC, compartilhou a expectativa positiva em relação à jornada e ao processo de ressocialização dos recuperandos. “A jornada é o ápice da nossa metodologia, porque é nesse momento que o recuperando para tudo para ficar esses quatro dias num processo de reflexão. A última jornada que aconteceu foi em 2015, já tem bastante tempo e agora estamos voltando com a jornada e pretendemos fazer todos os anos. A decisão de mudança precisa ter, mas o processo de mudança, ele é mais demorado. E é nesse processo que nós estamos aqui, trabalhando, para que quando esse recuperando sair de novo para a rua, ele possa estar com a vida direcionada, com a decisão convicta dessa mudança”, comentou Adriana.
O juiz Consuelo Silveira Neto, que acompanha o trabalho da APAC, também destacou a importância da jornada no processo de transformação dos recuperandos. “É uma jornada que vai trabalhar, buscar a reforma íntima de cada um que participa desse evento, seja recuperando ou não, desse poder transformador, dessa possibilidade da pessoa se reencontrar e seguir um caminho que possa atingir objetivos, que possa avançar e evoluir pessoalmente. O Poder Judiciário apoia essa iniciativa, dá total apoio no intuito de assim aprimorar cada vez mais a possibilidade daqueles que vão retornar ao convívio social e assim poderão retornar longe da criminalidade, podendo retornar dentro de uma família já constituída, reconstituída e assim melhorarmos o ser humano”, afirmou o juiz.
Adriana Luppis, gerente geral da APAC, compartilhou a expectativa positiva em relação à jornada e ao processo de ressocialização dos recuperandos
- Adriana Luppis, gerente geral da APAC, compartilhou a expectativa positiva em relação à jornada e ao processo de ressocialização dos recuperandos
- O evento visa proporcionar um momento de reflexão e espiritualidade
- Representantes da APAC de Manhuaçu, magistrado Consuelo Silveira Neto e o veador José Cordeiro