Anotações sobre a A HISTÓRIA DAS CONSTRUÇÕES

 

José Celso da Cunha

 

Palenque, México – Parte I: O Rei Pakal e o Palácio

Palenque, uma das mais fascinantes e mais importantes cidades maias, está localizada em um sítio virtuoso, numa região de florestas densas e de montanhas suaves, a noroeste das terras baixas, no Estado de Chiapas, México.  A região foi ocupada a partir do primeiro século antes de Cristo, por agricultores que vieram a formar um centro de atividades artesanais e de comércio bem desenvolvido. Mas somente entre os séculos IV e VIII d.C., observou-se um importante desenvolvimento da engenharia e da arquitetura, civil e religiosa, com a construção de templos e palácios em torno de sua área central.

Vista parcial de Palenque. À esquerda, ao fundo, o Templo ou a Pirâmide das Inscrições. À direita, o Palácio, residência dos governantes, com a torre de vigília.

Vista parcial de Palenque. À esquerda, ao fundo, o Templo ou a Pirâmide das Inscrições. À direita, o Palácio, residência dos governantes, com a torre de vigília.

A topografia privilegiada de Palenque permitiu a formação natural de praças em diversos níveis e locais, conformadas com edifícios públicos como templos, palácios e estádios de jogos de pelota, considerado o entretenimento cívico-esportivo dos povos da América Central desde o tempo dos olmecas, mil e quinhentos anos a.C. Os principais edifícios de Palenque, da forma com que são vistos hoje ― após anos de restauração e de recuperação das áreas e construções que se encontravam degradadas pelo abandono da cidade a partir do século IX d.C. ―, foram construídos entre os anos 600 e 700 d.C., pelo rei K’inichJanaab’Pakal, foto, mais conhecido como Pakal o Grande, e seus filhos. Dessa época em diante Palenque tornou-se um centro importante de uma macrorregião que se estendia deste as fronteiras da Guatemala até o Estado de Tabasco, no México.

Escultura original em estuque da cabeça do rei Pakal o Grande. Máscara mortuária, em jade, encontrada em 1952 no sarcófago deste governante em uma galeria subterrânea do Templo das Inscrições, em Palanque. Museu Nacional de Antropologia do México.

Escultura original em estuque da cabeça do rei Pakal o Grande. Máscara mortuária, em jade, encontrada em 1952 no sarcófago deste governante em uma galeria subterrânea do Templo das Inscrições, em Palanque. Museu Nacional de Antropologia do México.

Palenque foi identificada pelos espanhóis apenas entre o final do século XVII e início do século XIX, mas somente foi explorada oficialmente a partir de 1839 por pesquisadores europeus. Os trabalhos de restauração e recomposição do sítio arqueológico ocorreram após os anos 1950, quando o explorador e arqueólogo mexicano Alberto Ruz Lhuillier descobriu a cripta intacta do rei de Pakal, o Grande, localizada na parte inferior da pirâmide do Templo das Inscrições.

 

 

 

Fachada noroeste do Palácio que foi construído sobre uma grande plataforma em camadas escalonadas. No lado oeste do Palácio a entrada formada por seis grossas colunas de seção quadrada, formando um pórtico contínuo, é acessada por uma escadaria principal.

Fachada noroeste do Palácio que foi construído sobre uma grande plataforma em camadas escalonadas. No lado oeste do Palácio a entrada formada por seis grossas colunas de seção quadrada, formando um pórtico contínuo, é acessada por uma escadaria principal.

Os construtores de Palenque, influenciados e estimulados pelos governantes dos séculos VI e VII, progrediram significativamente no emprego da estrutura do arco de avanço ― técnica da construção vãos e aberturas através da fixação ordenada de pedras ou tijolos em que o elemento da camada superior avança sobre o da camada inferior, formando um arco aparente ―para ampliar os espaços internos das habitações e palácios.   Ver a figura ao lado.

Seus engenheiros e arquitetos introduziram o uso de paredes e colunas centrais, proporcionalmente mais finas do que seus antecessores da região de Tikal, na Guatemala, de modo a formar corredores paralelos ligados por aberturas nessas mesmas paredes.

A construção do Palácio, com alguns edifícios e pátios internos, iniciou-se por volta do século V d.C.,

Vista sudoeste do Palácio de Palenque a partir do Templo das Inscrições. Detalhe do arco contínuo e colunas que compõem o corredor da fachada do prédio

Vista sudoeste do Palácio de Palenque a partir do Templo das Inscrições. Detalhe do arco contínuo e colunas que compõem o corredor da fachada do prédio

sobre uma plataforma com aproximadamente oito mil metros quadrados. As pesquisas realizadas por escavações e prospecções nas diversas camadas da plataforma ou estrutura de base do Palácio identificaram etapas construtivas anteriores a essa, sendo que uma delas teria ocorrido no final do século II d.C.  Os pesquisadores de Palenque identificam etapas construtivas distintas entre os séculos III e IV, e uma última, no século V d.C., quando foram construídas galerias subterrâneas e alguns edifícios sobre a plataforma superior.  Entretanto, reconhecem que as principais obras foram construídas sob os governos de Pakal o Grande, seus filhos, e, com grande influência da mãe de Pakal, a chamada Rainha Vermelha[1].  Aparentemente o Palácio de Palenque funcionava como um centro administrativo da cidade e região, assim também como espaço habitacional, onde ficavam as famílias do governante, sacerdotes e pessoas mais ligadas à classe dominante. O acesso principal às dependências do Palácio era feito do lado Oeste, por uma escadaria central com dois patamares intermediários, voltada para a Praça do Templo das Inscrições localizado mais ao sul, mostrada na foto abaixo.

 

Além do palácio mostrado nesta breve abordagem sobre Palenque, há nesta cidade inúmeros outros templos e construções representativos do conhecimento técnico na arte de construir do mundo maia do Período Clássico e da importância relativa que tinha na região, com forte influência sobre as demais cidades maias das terras baixas de Chiapas como em Campeche, Tabasco e Yucatan no México. Nela se consolidam uma arquitetura a serviço do homem, desenvolvida por seus arquitetos, com as técnicas dominadas da sua engenharia milenar, sobretudo sob a influência e inspiração do grande Rei Pakal, que elevou a cidade em um patamar de importância regional jamais superado.

 

José Celso da Cunha, engenheiro civil, professor, escritor, doutor em Mecânica dos Solos-Estruturas pela ECP-Paris. E-mail: [email protected] é membro da ABECE.

 

Com base na série do autor: “A História das Construções” – www.autenticaeditora.combr . As fotografias das construções apresentadas neste artigo foram tiradas pelo autor.

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