José Celso da Cunha
Palenque, México – Parte I: O Rei Pakal e o Palácio
Palenque, uma das mais fascinantes e mais importantes cidades maias, está localizada em um sítio virtuoso, numa região de florestas densas e de montanhas suaves, a noroeste das terras baixas, no Estado de Chiapas, México. A região foi ocupada a partir do primeiro século antes de Cristo, por agricultores que vieram a formar um centro de atividades artesanais e de comércio bem desenvolvido. Mas somente entre os séculos IV e VIII d.C., observou-se um importante desenvolvimento da engenharia e da arquitetura, civil e religiosa, com a construção de templos e palácios em torno de sua área central.
A topografia privilegiada de Palenque permitiu a formação natural de praças em diversos níveis e locais, conformadas com edifícios públicos como templos, palácios e estádios de jogos de pelota, considerado o entretenimento cívico-esportivo dos povos da América Central desde o tempo dos olmecas, mil e quinhentos anos a.C. Os principais edifícios de Palenque, da forma com que são vistos hoje ― após anos de restauração e de recuperação das áreas e construções que se encontravam degradadas pelo abandono da cidade a partir do século IX d.C. ―, foram construídos entre os anos 600 e 700 d.C., pelo rei K’inichJanaab’Pakal, foto, mais conhecido como Pakal o Grande, e seus filhos. Dessa época em diante Palenque tornou-se um centro importante de uma macrorregião que se estendia deste as fronteiras da Guatemala até o Estado de Tabasco, no México.
Palenque foi identificada pelos espanhóis apenas entre o final do século XVII e início do século XIX, mas somente foi explorada oficialmente a partir de 1839 por pesquisadores europeus. Os trabalhos de restauração e recomposição do sítio arqueológico ocorreram após os anos 1950, quando o explorador e arqueólogo mexicano Alberto Ruz Lhuillier descobriu a cripta intacta do rei de Pakal, o Grande, localizada na parte inferior da pirâmide do Templo das Inscrições.
Os construtores de Palenque, influenciados e estimulados pelos governantes dos séculos VI e VII, progrediram significativamente no emprego da estrutura do arco de avanço ― técnica da construção vãos e aberturas através da fixação ordenada de pedras ou tijolos em que o elemento da camada superior avança sobre o da camada inferior, formando um arco aparente ―para ampliar os espaços internos das habitações e palácios. Ver a figura ao lado.
Seus engenheiros e arquitetos introduziram o uso de paredes e colunas centrais, proporcionalmente mais finas do que seus antecessores da região de Tikal, na Guatemala, de modo a formar corredores paralelos ligados por aberturas nessas mesmas paredes.
A construção do Palácio, com alguns edifícios e pátios internos, iniciou-se por volta do século V d.C.,
sobre uma plataforma com aproximadamente oito mil metros quadrados. As pesquisas realizadas por escavações e prospecções nas diversas camadas da plataforma ou estrutura de base do Palácio identificaram etapas construtivas anteriores a essa, sendo que uma delas teria ocorrido no final do século II d.C. Os pesquisadores de Palenque identificam etapas construtivas distintas entre os séculos III e IV, e uma última, no século V d.C., quando foram construídas galerias subterrâneas e alguns edifícios sobre a plataforma superior. Entretanto, reconhecem que as principais obras foram construídas sob os governos de Pakal o Grande, seus filhos, e, com grande influência da mãe de Pakal, a chamada Rainha Vermelha[1]. Aparentemente o Palácio de Palenque funcionava como um centro administrativo da cidade e região, assim também como espaço habitacional, onde ficavam as famílias do governante, sacerdotes e pessoas mais ligadas à classe dominante. O acesso principal às dependências do Palácio era feito do lado Oeste, por uma escadaria central com dois patamares intermediários, voltada para a Praça do Templo das Inscrições localizado mais ao sul, mostrada na foto abaixo.
Além do palácio mostrado nesta breve abordagem sobre Palenque, há nesta cidade inúmeros outros templos e construções representativos do conhecimento técnico na arte de construir do mundo maia do Período Clássico e da importância relativa que tinha na região, com forte influência sobre as demais cidades maias das terras baixas de Chiapas como em Campeche, Tabasco e Yucatan no México. Nela se consolidam uma arquitetura a serviço do homem, desenvolvida por seus arquitetos, com as técnicas dominadas da sua engenharia milenar, sobretudo sob a influência e inspiração do grande Rei Pakal, que elevou a cidade em um patamar de importância regional jamais superado.
José Celso da Cunha, engenheiro civil, professor, escritor, doutor em Mecânica dos Solos-Estruturas pela ECP-Paris. E-mail: [email protected] é membro da ABECE.
Com base na série do autor: “A História das Construções” – www.autenticaeditora.combr . As fotografias das construções apresentadas neste artigo foram tiradas pelo autor.