Aos 17 anos, Isadora Sofia mostra que sabe pensar e fazer suas escolhas
CARATINGA – Na edição do dia 1º de maio de 2016, o DIÁRIO publicou o artigo ‘50 Centavos’, de Isadora Sofia, estudante da Escola Professor Jairo Grossi. O texto, que tratava justamente da falta de ética do brasileiro, teve ótima repercussão e ainda gerou um artigo feito pelo advogado Ildelcir A. Lessa, que foi publicado no domingo seguinte (dia 8). Dentre os tantos elogios, o colunista escreveu: ‘A lição do artigo da estudante Isadora Sofia vale mais do que 50 centavos. Vale ouro! Parabéns Isadora Sofia’.
Então quando a equipe do DIÁRIO estava trabalhando nesta edição especial, o nome de Isadora Rosa foi um dos primeiros a lembrado. Afinal, ela joga por terra o estereótipo que o adolescente é alienado e não se preocupa com questões de política e de cidadania. Aos 17 anos, Isadora mostra que existe uma geração ávida por conhecimento e que pode, sim, ser considerada o futuro da nação. Objetiva, ela já traça seu caminho: “meu sonho é ser médica psiquiatra para tratar das feridas da mente”.
Você escreveu ’50 centavos’. Qual das situações descritas em seu texto lhe traz mais indignação?
Acredito que todas elas me trazem a mesma indignação. Porque toda corrupção, por mais que pequena, é responsável pela atual situação do país. Seja não devolver o troco, sonegar impostos, entre outras. É a partir delas que criamos políticos corruptos e, além disso, perdemos o direito de contestar. Afinal, como cobrar de alguém se você faz o mesmo?
Por pensar assim você se sente ‘um peixe fora d’água’?
Muitas vezes sim. Porém, ainda que em pequena parcela, eu encontro pessoas que pensam como eu. Como meu professor de Filosofia e Sociologia (Walber Gonçalves, o ‘Walbão’, que é colunista do DIÁRIO), que me ensinou muito daquilo que eu sei.
Como sua família e a escola influenciam no seu modo de pensar?
Eu sempre estudei na Jairo Grossi, então a escola me influenciou inteiramente. Sempre tive professores que me apoiaram, e de mim a eles. E sobre os meus pais, não tenho nem palavras para defini-los. Meu pai é professor de português aposentado, e minha mãe também já foi professora. Ambos me formaram como ser humano, e me forneceram o “pensar”, o “escolher”. Por isso, acredito que a educação seja a única saída do país, ela é quem faz a gente, ser verdadeiramente gente.
Em sua avaliação, o brasileiro se preocupa muito em criticar, mas pouco age?
Com certeza! É necessário que o brasileiro saia da inércia e reivindique seus direitos. Realizando manifestações e greves, mas principalmente nas urnas. Reclamar parado em casa de nada adianta.
Quais valores morais e éticos que você mais põe em prática?
O respeito e a probidade. O respeito por ser essencial, em meio a tantas diferenças. Você pode não concordar com o outro, mas respeitar é indiscutível. E a probidade, que é a retidão, honestidade. É ela que me faz devolver os 50 centavos quando recebo a mais de troco.
Você faz parte de uma nova geração. Qual seu conceito sobre os nossos políticos?
Acredito que aqueles que não são corruptos, acabam ficando de mãos atadas em meio à “lama” em que se encontram. Eu, sinceramente, não saberia por onde começar a “reparar” o nosso país. O que eu sei, é que é necessário começar do zero, seja o zero onde for.
Tem jeito para o ‘jeitinho brasileiro’?
O único jeito que me vem em mente é a educação de qualidade, setor tão precário no país. Uma valorização maior dos professores e um investimento sério nessa área. Mas os políticos não desejam pessoas inteligentes, desejam pessoas facilmente manipuláveis. Portanto a meu ver, como escrevi no texto “50 centavos”, a corrupção no Brasil, é uma sarna, que não há banho que tire. Porque o banho da educação, nossos governantes não querem dar.
50 CENTAVOS
“O melhor do Brasil é o Brasileiro.” Não, não é não. Não é mesmo. O problema do Brasil é o tal do brasileiro. E que problema. Mas não os culpo, não nos culpo. O Brasil “nasceu” da lama. Há em algum momento da história do Brasil que não houve corrupção? Procure. Não ache. O Brasil é fruto da corrupção. De Vera Cruz à Brasil. Está no sangue, dessa cultura miscigenada, o seu “jeitinho”. E que jeitinho hein? Hoje, há todo esse alvoroço de político corrupto, político ladrão… E o povo, é santo? Nem perto. Como reclamar da corrupção dos governantes se você faz o mesmo? “Mas o que você está falando, eu não faço isso!” Pois bem… Você fura fila? Sonega imposto? Aposenta por invalidez, sem ser invalido? Não devolve o troco errado? Tem “contatos” para ganhar “vantaginha”? Fica devendo no boteco? Inventa mentiras para se ausentar do trabalho? Favorece parentes e amigos próximos (nepotismo)? Não procura o dono ao encontrar uma carteira perdida? É. Então. Se alguma das respostas dessas perguntas for sim, você é sim, corrupto. E é esse cidadão, que quer levar vantagem diariamente, que vira o político corrupto, o tal do ladrão que ele mesmo critica. É isso mesmo. O político que rouba milhões começou assim, ficando com 50 centavos a mais de troco. A corrupção no Brasil é uma sarna que não tem banho que tire. Como diria Raul Seixas, “A solução é alugar o Brasil”.
Isadora Sofia