ALERTA PARA O SARAMPO

A vacina tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) é altamente eficaz, conferindo imunidade de longa duração e prevenindo tanto os sintomas quanto as complicações graves

Médico infectologista responde por que o mundo volta a enfrentar uma doença que já tinha sido controlada

 

CARATINGA- Em meio a surtos nos Estados Unidos e ao número recorde de casos na Europa em 2025, o sarampo volta a preocupar autoridades de saúde ao redor do mundo. Os novos casos da doença, antes considerada sob controle em muitos países, levanta um alerta global sobre os perigos da queda nas taxas de vacinação e da desinformação.

Para entender os motivos por trás desse cenário e o papel fundamental da imunização na prevenção de epidemias, o DIÁRIO traz entrevista com o médico infectologista Klinger Soares Faíco Filho e doutor em Infectologia pela UNIFESP.

 

Surto nos EUA, recorde de casos na Europa: por que o sarampo reapareceu?

O sarampo reapareceu em várias regiões do mundo, como Estados Unidos e Europa, principalmente devido à queda nas taxas de vacinação. Essa redução pode ser explicada por múltiplos fatores: a disseminação de desinformação e teorias conspiratórias sobre vacinas, o impacto da pandemia de COVID-19, que interrompeu muitos programas de vacinação infantil, além do enfraquecimento da confiança pública em instituições de saúde em algumas localidades. O sarampo é uma doença altamente contagiosa e, quando a cobertura vacinal cai abaixo de 95%, o vírus encontra espaço para circular rapidamente, levando a novos surtos.

 

O Brasil recuperou, em novembro de 2023, o certificado de eliminação do sarampo, que havia sido perdido em 2019 devido à queda na cobertura vacinal. Como a vacinação contribui para a saúde pública?

A vacinação é fundamental para a saúde pública porque impede a transmissão de doenças infecciosas, reduz hospitalizações, evita mortes e alivia a pressão sobre os sistemas de saúde. Além da proteção individual, existe o efeito coletivo: ao imunizar um número elevado de pessoas, diminuímos a chance de surtos e protegemos inclusive aqueles que não podem ser vacinados, como bebês muito pequenos ou indivíduos imunossuprimidos. A eliminação do sarampo no Brasil só foi possível graças ao esforço conjunto da sociedade em recuperar a confiança na vacinação e ampliar a cobertura vacinal.

 

Quais são os riscos de não vacinar crianças contra o sarampo?

Não vacinar crianças contra o sarampo expõe essas crianças a uma infecção que, embora evitável, pode ser extremamente grave. O sarampo pode levar a complicações como pneumonia, encefalite (inflamação no cérebro), surdez, cegueira e até morte. Além disso, o vírus pode desencadear uma condição chamada Panencefalite Esclerosante Subaguda, uma doença degenerativa fatal que surge anos após a infecção. Portanto, a falta de vacinação coloca a criança e a coletividade em risco de epidemias e complicações graves.

 

O que é imunidade de rebanho e como ela se relaciona com a vacinação contra o sarampo?

A imunidade de rebanho ocorre quando uma proporção suficientemente alta da população está imunizada contra uma doença, impedindo que o agente infeccioso se espalhe, mesmo entre aqueles que não estão imunizados. Para o sarampo, por ser extremamente contagioso, a imunidade de rebanho exige que cerca de 95% da população esteja vacinada. Atingir essa cobertura é essencial para proteger especialmente os grupos que não podem receber a vacina, como recém-nascidos e pessoas imunocomprometidas.

 

Quais são os principais sintomas do sarampo e como a vacina ajuda a preveni-los?

O sarampo se manifesta inicialmente com febre alta, tosse, coriza, conjuntivite e manchas brancas dentro da boca (sinal de Koplik). Poucos dias depois, surgem manchas vermelhas pelo corpo. Em casos mais graves, pode haver pneumonia, infecções bacterianas secundárias, comprometimento neurológico e morte. A vacina tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) é altamente eficaz, conferindo imunidade de longa duração e prevenindo tanto os sintomas quanto as complicações graves.

 

Por que o sarampo pode ser considerado uma doença grave, mesmo sendo evitável?

Apesar de ser prevenível por vacina, o sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo e pode evoluir para formas clínicas graves. A cada mil casos de sarampo, entre um a três podem resultar em óbito, especialmente entre crianças desnutridas e imunossuprimidas. Além disso, o sarampo pode desencadear sequelas neurológicas irreversíveis. A facilidade de transmissão do vírus torna sua contenção muito difícil sem cobertura vacinal adequada, o que reforça sua gravidade como problema de saúde pública.

 

Como campanhas de vacinação ajudaram a reduzir ou eliminar surtos de sarampo em diferentes países?

Campanhas de vacinação em massa, como as realizadas nas Américas, na Europa e na África, foram responsáveis por eliminar o sarampo de vários países e regiões. Elas envolveram estratégias de busca ativa de casos, vacinação porta a porta, campanhas de sensibilização da população e parcerias com escolas e instituições comunitárias. Esses esforços coordenados permitiram a erradicação do sarampo em alguns países por décadas. No entanto, a complacência e a queda nas taxas de vacinação mostram que o vírus pode ressurgir se a vigilância diminuir.

 

Quais são os grupos mais vulneráveis ao sarampo e por que é crucial que estejam vacinados?

Os grupos mais vulneráveis ao sarampo são os bebês menores de um ano, pessoas com imunossupressão (como pacientes oncológicos ou transplantados), gestantes e indivíduos desnutridos. Esses grupos têm maior risco de desenvolver formas graves da doença e complicações fatais. Como alguns deles não podem receber a vacina, a proteção coletiva por meio da vacinação de toda a sociedade é essencial para impedir que o vírus chegue até essas pessoas.

 

Quais mitos ou fake news ainda cercam a vacina do sarampo e como combatê-los?

Entre os principais mitos estão a falsa associação entre vacina e autismo, alegações de que vacinas causam doenças crônicas ou que contêm “substâncias perigosas”. Essas informações não têm base científica e já foram amplamente desmentidas por estudos rigorosos. Para combater essas fake news, é fundamental investir em educação em saúde baseada em evidências, divulgar informações de fontes confiáveis e reforçar a importância da vacinação em campanhas públicas e no atendimento médico.

 

O que pode acontecer com uma sociedade que deixa de vacinar amplamente sua população contra o sarampo?

Uma sociedade que deixa de vacinar corre o risco de reviver cenários trágicos do passado: epidemias de doenças altamente contagiosas, aumento de mortalidade infantil e sobrecarga dos sistemas de saúde. A ausência de proteção coletiva favorece a circulação do vírus, colocando em risco principalmente as populações mais vulneráveis. Além dos impactos em saúde, surtos de sarampo também afetam o desenvolvimento econômico e social, com perda de produtividade e altos custos para o sistema de saúde pública.

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