* Vânia Maria O. Pereira
Sons, imagens, produtos, apelos, ofertas, notícias, bombardeios de informações que recebemos a cada segundo, dia-e-noite, todo o tempo. O tempo não para, o mundo não dorme, e nada deve nos escapar.
Não é preciso mais ligar a TV ou o computador, mensagens chegam por celular e toda a parafernália tecnológica anunciando que se não conferirmos imediatamente, ficaremos excluídos, alheios ao que se passa no mundo, e tudo é urgente, importantíssimo saber…
O quanto aguentamos de tanta informação? O quanto desejamos saber sobre pessoas, seguidores, política, humor, questões sociais e econômicas de nosso universo pessoal ou mundial – que se tornou a mesma coisa nos últimos tempos?
Lidamos com pessoas da mídia, com a mesma intimidade que tratamos de questões pessoais. Seguimos pessoas nas redes e nos tornamos “amigos”, mas paradoxalmente, nos desconectamos de nós mesmos.
Precisamos mostrar que estamos bem, que somos felizes, bem sucedidos, para isto, exibimos nossa vida cotidiana: lugares onde vamos, o que comemos, o que fazemos, com quem saímos, o que vestimos, quem somos nós, através de símbolos, de status, bem-estar e felicidade.
E a certeza de que somos tudo isso, vem pelo reconhecimento do outro. O “Grande Outro’, que curte, segue, comenta, compartilha.
Mas para além desse reconhecimento, o que fica? Quem somos nós? Na intimidade, quando estamos “fora de área”, sem conexão com tudo e com todos, quando não precisamos ou não podemos nos mostrar para ninguém, o que fica? Fica algo? Ou alguém? Mesmo que todos nos “curtam”, o que sentimos em relação a nós mesmos é real? Ou sem a aprovação do outro não resta nada?
Assistimos à busca por profissionais diversos que permitem melhorar a aparência física, ou aplacar sentimentos de tristeza e inadequação diante do que as pessoas sentem como “necessidades” ou padrões desejáveis de beleza, de realização, de interação com o outro, ou de adequação ao que sentem que deveriam ou gostariam de ser como pessoas.
E de onde vêm tais padrões? Segundo Gilles Lipovetsky, vivemos numa sociedade pós-moderna, onde o que se busca é viver o momento presente, onde predomina o vazio, o individualismo, numa sociedade de consumo, onde cada vez mais é possível escolher, levando à perda de uma visão crítica sobre objetos e valores que estão à nossa volta.
Em sua obra A Felicidade Paradoxal – Ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo, afirma que a sociedade atual está entrelaçada à busca do prazer, satisfeito em grande parte pelo ato de consumir. Entretanto, sabemos que mesmo consumindo continuamente, sempre haverá a falta, a insatisfação. Produtos novos se tornam objetos de desejo um após o outro, sempre trazendo o sentimento de incompletude. Quando o vazio não pode ser preenchido com a novidade da vez, surge o desejo de que alguém seja capaz de fazê-lo.
Novamente vem o sentimento de que para encontrar esse alguém, ser aceito e valorizado, é preciso passar uma imagem interessante para o outro, num círculo vicioso, onde o consumo acena como estratégia para a satisfação pessoal e o reconhecimento pelo outro, levando ao sentimento de incompletude e vazio sucessivamente.
Não há saída para o ser humano a não ser se enfrentar.
Desde tempos imemoriais o homem busca se conhecer e se compreender. Mas isso não é possível fugindo de si mesmo, estando conectado somente com o mundo externo. A única possibilidade é lidar consigo mesmo e preencher ele próprio esse vazio, encontrando o que é importante para si mesmo, o que realmente o faz se sentir bem, feliz. Pode ser fazendo algo por si próprio ou pelo outro, buscando coisas simples da vida, encontros verdadeiros consigo ou com o outro, mas sabendo que cabe a cada um essa missão. Cada um é responsável por si mesmo, por sua felicidade ou infelicidade, pela forma como se compromete consigo mesmo e estabelece seu projeto de vida, um projeto possível de ser realizado, porque depende só de si mesmo.
* Vânia Maria O. Pereira – Psicóloga pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CES/JF, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/Rio, atua em Psicologia Clínica e Organizacional, Professora no Curso de Psicologia do UNEC
Mais informações sobre o autor(a):http://lattes.cnpq.br/2342983547615432