O Brasil e os brasileiros tem vivenciado hoje em dia uma situação que há pouco era nada frequente: o envelhecimento populacional. A convivência com idosos longevos, de 80, 90 e 100 anos de idade tem sido cada vez mais comum, e melhor, eles estão conosco com toda saúde, têm energia e disposição para o lazer, o trabalho, a política, para liderar grandes empreendimentos e até para novos relacionamentos.
O desenvolvimento socioeconômico e cultural, aliado aos avanços tecnológicos, principalmente na área da saúde, tem garantido vida longa aos brasileiros. Contudo, embora esperássemos por isso, não estávamos preparados para o envelhecimento populacional, nem nós, nem o Brasil. Poucos lugares em nosso país são preparados para atender efetivamente bem o idoso, as ruas, as calçadas, os estabelecimentos comerciais, os espaços de lazer e até mesmo os públicos ainda precisam aprimorar a infraestrutura para atender as necessidades funcionais do idoso.
Com o passar dos anos, nosso corpo passa por modificações que acabam por comprometer nossa mobilidade, nossa capacidade de locomoção, nossa audição, visão, paladar, equilíbrio e nossa memória. Isso não quer dizer que estamos perdendo a saúde… Significa apenas que estamos envelhecendo. É perfeitamente normal que um idoso tenha menos força que um jovem para erguer algo pesado, que necessite de apoio para subir degraus, que tenha mais dificuldade em retomar o equilíbrio caso tropece, que precise de óculos para enxergar melhor ou aparelho auditivo para ouvir bem e que demore um pouco mais para realizar algumas tarefas… Tudo isso são consequências do envelhecimento fisiológico, portanto, é normal.
Para que o idoso possa usufruir da oportunidade de viver longos anos uma vida de boa qualidade torna-se fundamental a adequação dos ambientes nos quais ele poderá estar. Do contrário, ele estará exposto a um dos maiores riscos à sua saúde, às quedas.
Quando um idoso cai ele acaba reduzindo sua expectativa de vida pelas restrições as atividades físicas que a queda trás. Cair pode ter consequências simples como escoriações e também mais complexas, como as fraturas, que acabam por restringir a mobilidade do idoso, que então passa a ser dependente de outra pessoa em atividades que, usualmente, eram simples de serem realizadas sozinhas como preparar o próprio alimento, tomar um banho, se vestir, sair para pagar contas, ir ao supermercado, visitar um amigo ou trabalhar. Mesmo o idoso que cai e não têm nenhum tipo de lesão, passa a restringir suas atividades por medo de cair, e o excesso de cautela pode vir acompanhado de consequências negativas para a saúde, já que a imobilidade é um estado perfeito para instalação de doenças do coração, respiratórias e mentais.
Nesse contexto, é imprescindível que o idoso tenha boas condições de acesso aos locais por onde transita, seja em casa, na rua, em clubes, em bancos, em supermercados, em igrejas, enfim, em todos os lugares, e ainda, que prime por desenvolver boas condições físicas para envelhecer.
Algumas políticas públicas têm sido instituídas em prol da acessibilidade aos idosos. No Brasil, um dos principais avanços nessa área foi o Estatuto do Idoso, o qual definiu que a diminuição de barreiras arquitetônicas e urbanas seja uma das preocupações das áreas de habitação e urbanismo e garantiu gratuidade para transporte coletivo urbano, reserva de assentos nos transportes públicos, prioridade de embarque para transportes coletivos, vagas de estacionamentos, dentre outros benefícios. Não obstante, ainda é um sonho a implantação de uma política pública que garanta a mobilidade e a acessibilidade ao idoso de maneira universal e igualitária. Até o momento, o que se tem são experiências exitosas e isoladas em algumas cidades e que contemplam setores específicos. Ainda não encontramos cidades plenamente preparadas para atender populações idosas ou com limitações diversas.
Por outro lado, a adequação de infraestrutura não é suficiente para garantir vida longa, de qualidade e livre de quedas. No que tange a prevenção das quedas e suas limitações, se faz igualmente necessário adotar um estilo de vida em que a prática regular e sistemática de exercício físico esteja incluída de forma a garantir condicionamento cardiovascular, força muscular e equilíbrio adequados ao desempenho das atividades do cotidiano, de lazer e de trabalho.
É preciso encarar o envelhecimento considerando todas as facetas que o definem. Estamos ficando idosos e convivendo com cada vez mais idosos, mas talvez ainda não tenhamos dado conta de que teremos que nos preparar para envelhecer.
* Juliana Carvalho Reis é fisioterapeuta especialista em Reabilitação Cardíaca e Fisioterapia Respiratória, coordenadora e professora do curso de Fisioterapia do Centro universitário de Caratinga.
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