Certa vez me contaram que um pescador pescou um peixe tão grande, mas tão grande que a linha do anzol que ele usava começou a se romper. Exausto o pescador foi à casa de um vizinho e lhe pediu uma corda de bacalhau e assim enrolou a corda no corpo do peixe e a amarrou no barco e tentaram puxar, mas a corda começou a ruir e preocupado em perder a pescaria foi à Fazenda mais próxima e pediu ajuda ao fazendeiro que lhe cedeu um trator 85 e um grande e grosso cabo de aço e assim repetiu o procedimento de amarrar o peixe e ordenou ao tratorista que, estava à beira do rio, que ligasse o trator e o reduzisse em sua força máxima e este, com muita presteza, começou a missão, mas como eu disse no início o peixe era tão grande, mas tão grande que o cabo de aço também começou a se romper e o trator, usando de sua força total, também começou a apresentar exaustão deslizando e soltando muita fumaça e o peixe firme no mesmo lugar… mas depois de muito esforço quando tudo parecia estar perdido o peixe foi pescado e retirado da água, daí a confirmação; era tão grande, mas tão grande, insisto em dizer que era tão grande porque de verdade era muito grande, tão grande que entortou o rio. Caso o leitor não acredite, me contaram ainda que estão à disposição dos incrédulos para mostrarem a eles a curva do rio. Contaram-me!!!
Agora eu vou contar…, certa vez presenteei a um amigo, senhor Amado, um peixe da espécie, bagre africano, que segundo a literatura é originário das bacias do Rio Nilo e de algumas regiões tropicais da África. Foi trazido para o Brasil na década de 80, sob os argumentos de que era um peixe que não escolhe comida, resistente e que cresce rápido. Virou febre!!! Voltemos ao amigo. Ele ficou muito satisfeito com o presente, levou-o para casa, exibiu o peixe para a família e o colocou em uma bacia com água e a cobriu com um compensado, colocando sobre ele alguns tijolos para que ele morresse de forma digna e depois se transformasse em uma apetitosa refeição, assado com farofa, ensopado, por que não frito?
Ainda me sobraram oito peixes, talvez imitasse o senhor Amado e presenteasse os outros sete a outros sete amigos. Até que me decidisse, coloquei os bagres em duas caixas de papelão e as coloquei em sacos de fibras, deixando-os na área de serviço.
Veio a noite, ficou o peixe do senhor Amado em sua nova morada, os meus na área de serviço e todos fomos dormir…ou não? Pela madrugada enquanto todos lá na casa do senhor Amado dormiam, em minha casa ouvíamos ruídos…. ladrão? Precisava verificar. Comecei checar todos os espaços da casa e nada, restava a área de serviço e lá fui, para minha surpresa, os peixes haviam aprontado a maior confusão, em clima de festa, saíram das caixas que estavam na área de serviço, rasgaram os sacos de fibra, passearam por toda área, incluído a cozinha e corredores, além do espanto escorreguei-me na bagunça que fizeram e como única alternativa me livrei de todos eles.
Na casa do senhor Amado parecia que estava tudo bem, a noite parecia tranquila…, mas no outro dia cadê o peixe? Morto não estava, pelo menos na bacia. Pergunta um aqui outro lá e de repente um sujeito que nada queria com o peixe disse que na noite anterior havia visto um bicho atravessando a rua e assustou-se achando que era uma cobra, mas pasmem era o peixe. Meu amigo ficou animado, sentia o cheiro do peixe na panela, buscou informações na vizinhança que mais parecia uma grande família, e depois de uma rua e dois quintais, lá havia chegado o famigerado peixe.
Desta vez o lendário peixe se tornou uma deliciosa refeição. Muitos podem se perguntar: como pode um peixe fujão, que consegue andar tranquilamente pelas ruas, acabar na panela de uma prendada cozinheira? Talvez seja porque tem cabeça de bagre. Certo é que esta história, quem me contou foi o meu amigo Sr. Amado.
* Antônio Fonseca da Silva é reitor e professor de Linguística do Centro Universitário de Caratinga – UNEC. Mestre em Administração pela Fundação Pedro Leopoldo. Mais informações sobre o autor: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4137123U3