* Celeste Aparecida Dias
Entregamos à sociedade o segundo volume da obra “Além da Palavra”, tecida a 56 mãos, cada uma acrescentando o seu toque pessoal pelo seu jeito de pensar, de agir, de ser, de se reinventar e de enxergar o mundo e a vida.
Escrever é uma arte milenar inventada pelos seres humanos. Através da escrita podemos eternizar a comunicação de nossos sentimentos, pensamentos, ações, valores e jeitos de interpretar a vida e o mundo.
O que existe “Além da Palavra”!?
Existem 56 diferentes experiências pessoais e profissionais, vividas em diferentes lugares e tempos, mas que tiveram a UNEC como ponto de encontro e partilharam entre si o prazer de escrever. Algumas pessoas podem pensar: é possível alguém sentir prazer em escrever?
Sim, a arte de escrever é prazerosa e tem seus encantos. Antes das atuais Tecnologias da Informação e Comunicação, parece que menos pessoas sentiam este prazer, talvez pelos desafios de organizar o pensamento e registrá-lo no papel de tal modo que o leitor compreendesse e sentisse o prazer de ler. Lembro-me quando eu escrevia à caneta ou usava a máquina de datilografia. Quando errava uma palavra ou frase, havia somente duas opções: era preciso borrar a folha usando a borracha ou reescrever todo o texto em nova folha. Se, por um lado era trabalhoso, por outro, permitia-nos reescrever as ideias que não havia gostado na primeira versão escrita.
Com a invenção do computador substituindo a máquina de datilografia, o prazer e o encanto da escrita se democratizaram. Com ele o jeito de fazer a arte de escrever se transformou, ficando mais flexível, dinâmica e mais acessível até para quem diz não gostar de escrever. Usando o computador, o escritor escreve, corta, cola, recorta, acrescenta, apaga, reescreve, cola no início do texto, muda para o final dele e o texto vai tomando a forma que o escritor imagina ser mais atraente para seu público leitor. Depois das atuais Tecnologias da Informação e Comunicação, escrever ficou prazeroso e encantador, não importa se é uma escrita literária ou se é uma escrita utilitária, a serviço da profissão.
Um dos encantamentos da escrita literária está no fato de, por meio da palavra, o escritor transformar sofrimentos individuais e catástrofes coletivas em arte com estética inigualável e sensível, como o poema Rosa de Hiroshima, escrito em 1954 por Vinicius de Moraes, denunciando a estupidez humana no uso da bomba atômica; a música Asa Branca, escrita pelos nordestinos Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em 1947, que acabou se tornando um hino nordestino de denúncia da seca; e o poema O bicho, do nordestino Manuel Bandeira, também escrito em 1947, denunciando a fome de muitos brasileiros, que os obrigava a revirar as latas de lixo pelas ruas.
Escrever é a arte de conversar com as mãos e eternizar a vida por meio das palavras. Palavras são pegadas do escritor, deixadas nos mais diversos solos tecnológicos: livros, revistas, jornais impressos ou eletrônicos. À medida que escrevemos, os rastros desses solos tecnológicos serão caçados por leitores sedentos em dialogar sobre o jeito de ver e de viver a vida.
Os escritores se eternizam pela sua escrita. Suas obras impressas ou digitais ficam para as gerações futuras se deleitarem. Será que Sócrates, Platão, Heráclito, Aristóteles e outros tantos grandes pensadores da humanidade, há mais de 2000 anos atrás, imaginavam que seriam lidos por nós? Conseguiremos imaginar que poderemos ser lidos pelas gerações que viverão daqui a 2000 anos, no ano 4000 depois de Cristo?
O escritor português José Saramago (1922-2010), que viveu quase 90 anos, disse, talvez, uma das afirmações mais incríveis sobre o ato de escrever. Ele disse: “Escrevemos porque não queremos morrer. É esta a razão profunda do ato de escrever”.
Talvez algumas pessoas se perguntem: mas escrever o que? Escrever sobre o que? Não tenho ideias para escrever. Ora, para ter o que escrever basta olhar a vida a seu redor com os olhos do coração e da razão, ao mesmo tempo, e as palavras brotam dessa fusão mundo-cérebro-coração. A obra Além da palavra apresenta a riqueza plural dos múltiplos olhares produzidos pelas diferentes experiências dos autores de seus textos que olham o mundo em seu entorno, usando as lentes literárias de suas diversas formações profissionais: são administradores, advogados, biólogos, economistas, educadores físicos, enfermeiros, engenheiros, estudantes, físicos, fisioterapeutas, geógrafos, historiadores, médicos, nutricionistas, psicólogos, professores, químicos, mas, com um ponto de intersecção que os tornam semelhantes: somos todos escritores!
Pela formação múltipla de seus escritores, a obra “Além da Palavra” contém textos para todos os sabores literários: para quem gosta de ler sobre estilo de vida, sobre sustentabilidade ambiental, sobre saúde, sobre alimentação, sobre educação, sobre gestão de pessoas e outros tantos sabores. O leitor começa a ler este livro da página cujo sabor mais lhe agrada, pode começar até do último texto. E o primeiro texto pode ser o último a ser lido. A seqüência da leitura é o leitor quem faz, escolhendo o seu sabor literário preferido.
O livro Além da Palavra tem o sabor plural da vida! Bom apetite leitor a todos que vamos saboreá-lo.
Aos organizadores, agradeço a oportunidade de representar os autores dessa obra.
Muito obrigada!
* Discurso representando os autores do vol. II do livro Além da palavra, organizado pelos professores Antônio Fonseca da Silva e Eugênio Maria Gomes, em evento de lançamento, no dia 23 de fevereiro de 2016.
Celeste Aparecida Dias
Professora Universitária no Centro Universitário de Caratinga.
e-mail: [email protected]
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