* Cláudia Cardoso da Cruz Gomes
O RITMO DA VIDA
Já dizia o poeta: “É melhor viver Dez anos a Mil do que Mil anos a Dez”. Mas será que estava certo o poeta? Estando correta ou não, a afirmação nos faz refletir quando constrói uma metáfora na qual a vida é uma jornada onde devemos escolher entre viver um milênio em uma caminhada de 10 passos a cada dia, ou viver apenas uma década, mas em uma corrida de 1000 passos a cada dia.
Quando refletimos sobre a citação, a primeira interpretação que temos é de que o caminho lento e duradouro é aquele no qual abrimos mão de prazeres que afetam nossa longevidade, e o caminho mais rápido aquele em que sacrificamos vitalidade em troca de deleite. Entretanto, a diferença entre os caminhos abrange muitos outros aspectos.
No percurso lento, estamos optando por um ritmo de vida calmo e tranquilo, renunciamos às buscas de grandes conquistas em troca de evitar a possibilidade de grandes perdas. Durante uma viagem por um continente que não conhecíamos, deixamos de conhecer superficialmente vários países, para conhecer bem poucos países. Preferimos a estabilidade de uma carreira de baixo crescimento, que os riscos de uma carreira de alto crescimento. E tomamos várias outras decisões que são amparadas por ditados populares como “Devagar se vai mais longe”.
Mas, será que esse ditado está errado? Será que deveria ser “Rápido se vai mais longe”?
No percurso rápido, estamos buscando uma vida mais agitada e audaciosa, que nos proporcione maiores triunfos, apesar dos perigos. Escolhemos trocar o feriado com a família, por uma reunião de negócios que resultará na possibilidade de prover melhor qualidade de vida para os filhos. Nos arriscamos ao praticar esportes radicais que podem nos machucar ou até nos matar, mas que nos proporcionam emoções que jamais poderiam ser encontradas num sofá. E também temos nesse caso o apoio de ditados populares como “Navios estão mais seguros nos portos, mas navios não foram construídos para ficarem nos portos”.
Com tantos prós e contras em ambos os caminhos, e também com tantas questões filosóficas entre eles, fica difícil escolher qual seguir. Mas, será que precisamos escolher entre os dois? Ou será que existe outro caminho?
Existe sim outro caminho, no qual não nos preocupamos somente em minimizar os riscos, e tão pouco somente em maximizar os ganhos, mas que ainda assim, otimizamos os resultados. Um caminho onde harmonizamos nossas decisões. Onde conciliamos a vida profissional com a vida pessoal. Onde, eventualmente, nos damos ao luxo de nos preocuparmos pouco com as consequências dos riscos, mas ao mesmo tempo nos atentamos muito aos equipamentos de proteção. Onde cuidamos da saúde, mas não nos tornamos neuróticos nem hipocondríacos. Um caminho muito regrado e um pouco exagerado, e que jamais seja exageradamente regrado e tão pouco regradamente exagerado. O caminho do equilíbrio.
E se houver alguma dúvida sobre a eficiência desse caminho, podemos retornar à metáfora do poeta e levá-la à análise da mais correta de todas as ciências: a matemática. Adequando à metáfora a uma função em que precisamos sacrificar um ano de vida para acelerar em um os nossos passos diários, podemos ir às contas e verificar que, independente de escolhermos dez passos por dia durante mil anos, ou mil passos por dia durante dez anos, no final vamos ter percorrido exatamente a mesma distância de 3,6 milhões de passos. Mas, se quisermos otimizar a distância, a matemática nos mostra que o melhor caminho é precisamente o caminho do meio: percorrer 505 passos por dia durante 505 anos, e assim teremos percorrido quase 90 milhões de passos a mais que nos outros dois caminhos extremos. Então, não é devagar e nem rápido: É equilibradamente que vamos mais longe.
*Cláudia Cardoso da Cruz Gomes é Coordenadora do curso de Letras e professora dos cursos de Letras e Pedagogia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC