Psicóloga Juliana Isabel fala sobre medos e fobias incapacitantes, mas que tem tratamento e controle
CARATINGA – Você sabia que existe um tipo de fobia chamado de agorafobia, que está ligada a transtornos de ansiedade e tantesíndrome do pânico. As pessoas desenvolvem medos e fobias de muitas formas e por vários motivos. Além disso, entre as mais conhecidas está o medo de aranhas, baratas, altura, fobia social, claustrofobia e até mesmo medo de buracos, também conhecida por tripofobia.
Em geral, pessoas com agorafobia sentem um medo incontrolável de viver situações que podem ser gatilhos para crises de pânico, falta de controle e vergonha.
Segundo dados do Hospital Israelita Albert Einstein, 150 mil brasileiros sofrem desse distúrbio mental e buscam tratamento psicológico para controlar.
A psicóloga Juliana Isabel Castro de Oliveira esclarece pontos importantes da doença e também fala da possibilidade do tratamento e controle.
Muito comentada ultimamente, poderia nos explicar o que é agorafobia?
Segundo o Código Internacional de Doenças, (CID-10) em um sentido mais amplo, a agorafobia inclui, além do medo dos espaços abertos, o extremo desconforto na presença de multidões, e ausência ou dificuldade de visualizar um escape fácil para um local onde a pessoa se sinta segura, como em sua casa, por exemplo. Relaciona-se também a um conjunto inter-relacionado e sobreposto de fobias que abrangem os medos de sair de casa, entrar em lojas, multidões, lugares públicos ou viajar sozinho em trens, ônibus ou aviões.
O que causa e quais os principais sintomas?
São três os principais fatores que podem contribuir para a agorafobia: fatores temperamentais, ambientais e genéticos e dentre eles observamos a inibição comportamental, afetividade negativa (humor depressivo) a sensibilidade à ansiedade, eventos traumáticos na infância, separações, mortes, assaltos, abuso de substâncias químicas, etc. A predisposição para agorafobia também aponta o mais forte e o mais específico fator genético, à razão de 61%. Os principais sintomas, como elencados anteriormente, são o medo desproporcional e excessivo, trazendo prejuízo social ao indivíduo, de situações agorafóbicas, como por exemplo: ir ao mercado, filas de banco, estacionamentos, shoppings, multidões, aeroportos, etc. É importante salientar que a observância dessas características e fatores são necessários antes de fechar um diagnóstico, pois há uma variedade de situações, transtornos e fobias específicas a serem consideradas, além das cognições diferentes entre crianças, jovens, adultos e idosos. Devido às múltiplas variáveis, evidencia-se que o diagnóstico correto deve ser essencialmente clínico e médico.
Essas crises são frequentes? Onde elas podem ocorrer?
Quanto a sua frequência, os indivíduos portadores do transtorno buscam evitar ao máximo qualquer situação que os exponha aos eventos considerados agorafóbicos, podendo inclusive ficar restritos ao confinamento domiciliar, o que torna a agorafobia o mais incapacitante dos transtornos fóbicos. Quando não conseguem ou decidem não evitar essas situações, podem experimentar pânico, sensação de desmaio, desorientação, muitos experimentam intenso pavor de serem deixados sem socorro caso adoeçam em público, além da falta de um escape imediatamente disponível, uma saída rápida deste ambiente agorafóbico para o indivíduo portador do transtorno.
E a respeito dessas crises de pânico, como proceder?
É de suma importância tratamento adequado, acompanhamento médico e psicológico, além de compreendermos que o curso da agorafobia é persistente e crônico. Estamos falando sobre um dos transtornos mais incapacitantes, que impede a milhares de indivíduos de trabalhar, sair, estarem em ambientes onde se sintam bem, acolhidos e produtivos. É preciso compreender e analisar caso a caso, pois é comum que a maioria das pessoas com transtorno de pânico venham a apresentar sinais de ansiedade e agorafobia antes do início do transtorno. Neste sentido, se conhecer e se observar é fundamental, além de buscar informações e auxílio adequado, nos serviços de saúde, apoio da família e amigos.
Ainda vivemos num período de pandemia. Essa situação pode levar ao aumento de casos de agorafobia?
O aumento dos registros de síndrome do pânico e ansiedade estão correlacionados em sua gênese, aos fatores que comumente observamos em nosso estilo de vida. Há também a predisposição genética, os eventos traumáticos ou marcantes, que serão assinalados de maneira única na existência de cada pessoa, a pouca ou quase inexistente política de apoio e prevenção à saúde mental em diversas partes do globo, etc. Nosso psiquismo é belíssimo, mas exige alguns cuidados, que precisamos inserir em nossa vida moderna. As exigências cotidianas, as condições sociais, a amplitude das pesquisas voltadas para o tema, as descobertas científicas e o desejo de tratar uma sociedade que se vê enredada em extremos: de um lado, percebemos aos poucos a importância do cuidado com a saúde física e mental, de outro, os preconceitos, precariedade das condições de vida, escassez de oportunidades e serviços de qualidade que atendam às famílias e comunidades, estilos de vida que induzem a alta performance e produtividade instantânea, o tempo todo, adoecem e distorcem nossa percepção de realidade e felicidade. Não há uma causa única, e nos últimos tempos temos lidado com uma pandemia que ceifou milhares e milhares de vidas, trazendo contextos antes não imaginados pela comunidade humana. É necessário perceber, cada vez mais, que precisamos rever nosso estilo de vida e senso de valor e respeito às individualidades. O sentimento de não pertencimento, desamparo e angústia crescente nas pessoas, pode encontrar alívio com mudanças comportamentais e apoio adequado, políticas de saúde voltadas para compreensão, tratamento e psicoeducação acerca destes temas. Ainda que não possamos mudar/evitar tudo de desagradável que nos ocorra, pois são fatos naturais à nossa existência, mudanças e escolhas mais conscientes são benéficas, em todos os âmbitos da sociedade.