Hélio Amaral
No dia 19 de junho de 1947, o estudante Afonso Gomes, do sexto ano, cadeira de Obstetrícia, da Faculdade de Medicina da UFRJ, escreveu ao Presidente Eurico Dutra, carta em que solicitava emprego como funcionário público. Esperava alavancar, assim, o desejo de se tornar Escritor. O episódio para por aí, pois o jovem foi atropelado pela morte do pai, João Theodolino Gomes. Deveu terminar o curso e retornar a Entre Folhas, na época Distrito de Caratinga, para ficar ao lado da mãe viúva, Virgilina Maria de Jesus.
Clínico Geral, ganhou renome não apenas como primeiro médico do povoado, também pela sabedoria, dedicação, perícia incomum em lidar com os trabalhos de parto e, sobretudo, pela visão social de atender doentes tendo ou não recurso financeiro. Era notório como apoiava os estudantes entrefolhenses que continuavam a formação em centros mais desenvolvidos. Tornou-se líder da oposição, elegendo-se Vereador por Entre Folhas quando a Ditadura de 1964 instalou o bipartidarismo da ARENA e MDB.
Em Caratinga, onde exerceu o mandato de Vereador e presidiu um partido político, pôde realizar o sonho de Escritor, na Academia Caratinguense de Letras, ao lado de luminares como Monir Ali Saygli, Marilene Godinho e Professor Lacerda. A instalação deste “silogeu de intelectuais” se deu no dia 11 de agosto de 1984 sob a presidência do professor Monir que exerceu o honroso cargo desde a fundação em 1983 a dezembro de 2016.
Um dos mais entusiastas das reuniões, autor de “Divino Nazareno” e “Sonetos em Panóplia”, ambos em 1969 pela Pongetti, no estilo de Fagundes Varela seu Patrono na Academia, o acadêmico Afonso Gomes faleceu no dia 7 de novembro de 1985. Era vizinho do Doutor Agenor, de quem partilhava amizade e morava no mesmo quarteirão da atual acadêmica, Dora Bonfim. Exímio escritor deixou imagem de bondade e cidadania. O fecho de ouro do soneto “Entre Folhas”, retrata o amor pela terra natal “Ao ver as casas brancas em pessoa / Recordo em tom alegre, a minha aldeia / A tarde merencória que s’escoa”.
Professor doutor Hélio Amaral – Presidente da ACL – Academia Caratinguense de Letras.