*Eugênio Maria Gomes
Recentemente falamos sobre a importância de olharmos ao redor e tentar, de alguma forma, amenizar o sofrimento de milhões de brasileiros que vivem atualmente na famigerada linha da pobreza. Em seguida deparei-me com um comunicado da Associação Médica Homeopática de Minas Gerais, dando ciência à comunidade de que “Neste mês de abril, estamos contribuindo com 210 kg de feijão e 300 kg de arroz, produtos estes de boa qualidade e adquiridos de atacadistas. Fizemos essa opção, uma vez que observamos que as chamadas ‘cestas básicas’ nem sempre têm produtos de qualidade e necessários”, visando amenizar o sofrimento de parte dessa população que tanto tem sofrido.
Fiquei incomodado com o assunto. Uma Associação Médica tão importante não teria este posicionamento sem razão. Aí fui pesquisar, principalmente sobre o que é básico e o que é necessário. De fato, faz pouco sentido você ter, na mesma cesta, 1 kg de sal e 1 kg de fubá, quando se tem, apenas, 1 kg de feijão. Ademais, tirando os 5 kg de arroz, os demais itens – com exceção do sal e do fubá – são suficientes para poucas refeições. Você sabe, exatamente, quais produtos compõem uma cesta básica “padrão”?
Nas chamadas “Cestas básicas para doação” há os mais variados modelos, dependendo do valor, das marcas dos produtos, do tamanho do bolso do fornecedor e do interesse do supermercado em disponibilizar determinados produtos. Buscando na internet, em uma grande rede de supermercados do país, encontraremos basicamente dois tipos de cestas: a cesta básica “Básica” e a cesta básica “Completa”.
Na “básica”, normalmente, se encontram os seguintes produtos: 5 kg de arroz, 1kg de feijão, 1 kg de açúcar, 1 garrafa de óleo de soja, 1 pacote de macarrão, 1 kg de sal, 1 kg de fubá, 1 lata de massa de tomate, 1 pacote de biscoito recheado, 1 caixa de gelatina, l lata de sardinha, 1 lata de ervilha. Na versão “completa”, acrescenta-se: 1 kg de farinha de trigo, 250 gramas de pó de café, 1 lata de milho verde, 1 saco de farofa pronta, 200 gramas de achocolatado, 300 gramas de alho e sal, ½ kg de flocos de milho e ½ kg de farinha de mandioca.
Em qualquer dos dois modelos de cestas, o sal disponibilizado dará para cozinhar todos os produtos e ainda sobrar para cozinhar mais uma, e mais uma e mais uma cesta básica de produtos. Ademais, sabemos que muito sal nem é bom para a saúde… Sem falar na quantidade de fubá que acaba sendo usado para tratar de animais, até porque, angu sem feijão, sem uma verdura, não deve descer muito bem.
Não pretendemos aqui desfiar um rosário de críticas às cestas básicas, não obstante sabermos que ela foi criada, principalmente, para atender grandes empresas fornecedoras, a partir das necessidades apresentadas pela população mais pobre. Ou seja, mais uma vez é a miséria de muitos enchendo os bolsos de poucos.
Não podemos nos esquecer também, que as pessoas que doam a cesta básica – mesmo sendo essa que não atende às necessidades básicas de nenhuma família -, o faz com o intuito de ajudar. Graças a Deus que fazem isso. No entanto, a ajuda pode ser mais substancial, gastando-se o mesmo valor despendido na cesta básica. Essa relação de 5 kg de arroz, 1 kg de feijão e l kg de sal, não faz o menor sentido. O valor gasto com gelatina, ervilha, milho verde etc. pode muito bem ser convertido em mais feijão. 5 kg de arroz, 5 kg de feijão e um litro de óleo fariam muito mais sucesso e atenderiam muito mais as necessidades básicas da família do que essa miscelânia de produtos que não devem durar uma semana em uma casa com cinco pessoas para se alimentarem. E não se preocupe com o sal, porque este as famílias o têm aos montes, como resultado das sobras das tais cestas básicas, recebidas em outros carnavais.
É claro que o melhor seria acrescentar ao feijão e ao arroz (5 kg de cada) um pouco de proteína e de legumes. Mas, tudo quando é possível. O mais importante é que, ao darmos vazão a essa vontade que temos de ajudar, pensemos, também, em uma questão simples: se fosse eu, o que seria básico para mim? A partir disso, a gente consegue ajudar um pouco mais e de forma bem mais satisfatória.
Madre Tereza de Calcutá registrou que “O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá”. Com essas palavras, a nossa santinha disse, nas entrelinha, que tudo o que é feito com amor é bem-feito. A partir do amor, sempre doaremos o melhor de nós!
*Eugênio Maria Gomes é escritor