* Ricardo Luis Aguiar Assis
Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define período da adolescência entre 11-19 anos englobando os aspectos biológicos e culturais do desenvolvimento humano considerado, mas aponta as diferenças entre as culturas. No entanto, alguns estudos, como de Crews & Hodge (2007), destaca os aspectos da maturação neurobiológica apontando para uma fase de 12 a 25 anos para o desenvolvimento neurológico adequado das funções humanas. A Organização das Nações Unidas (ONU) define o período da adolescência na faixa etária entre 15 e 24 anos, critério, este, usado principalmente para fins estatísticos e políticos, ONU (2015).
A compreensão das diferenças individuais na maturação neurobiológica durante a adolescência pode contribuir para uma maior compreensão dos impactos psicossociais, promovendo, assim, um refinamento de avaliações e intervenções. A adolescência é um período de desenvolvimento muitas vezes associada a aumento da incidência de comportamento de risco. Esses comportamentos têm consequências negativas a curto, médio ou longo prazo e pode prejudicar a diferentes aspectos do funcionamento psicossocial.
Comportamento de Risco é definido como qualquer comportamento que ponha em risco a saúde ou o bem-estar si ou de outro, seja através de risco imediato de dano físico ou por violar as regras ou normas estabelecidas para evitar esse dano (Maslowsky, 2011). O comportamento de risco é consistente em todos os grupos raciais e levam a morbidade em todos os sistemas do corpo (Gramkowski, 2009) .O termo “comportamento de risco” pode incluir qualquer número de comportamentos, e considerando a heterogeneidade da experiência adolescente, é provável que o comportamento de risco é um constructo multidimensional (Gibbons, Gerrard, Blanton, & Russell, 1998; Reyna & Farley, 2006).
Comportamento de risco na adolescência podem surgir a partir de regiões sub-corticais modulado pelo córtex pré-frontal, a região responsável pelas funções executivas Kim ( 2011). As funções executivas são processos complexos cognitivos relacionados ao comportamento intencional e são compostas de três grupos: a memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. Destacamos também alguns processos mais complexos, tais como planejamento, resolução de problemas e tomada de decisão, que estão diretamente relacionadas com a capacidade de um indivíduo ter autocontrole comportamental, emocional e cognitivo. Até o final da adolescência dos circuitos fronto-estriatais são imaturos, causando disfunção executiva e gerando aumento de comportamentos de risco.
No período Adolescência, regiões implicadas no comportamento cognitivo e motivacional são o córtex pré-frontal, importante para o controle cognitivo e striatum, crítico na detecção e no aprendizado sobre novas pistas gratificantes no ambiente . A Neurobiologia muda para equilibrar esses sistemas motivacionais e cognitivos sobre o desenvolvimento de busca de sensação e impulsividade (Figner et. al. 2009, Romer, 2011)
Podemos observar uma influência de fatores emocionais no aumento do comportamento de risco na adolescência. No entanto, ainda há a necessidade de ser mais investigada a relação entre comportamentos de risco e funções executivas na adolescência, a fim de permitir uma avaliação e modelo de previsão do comportamento de risco. O aumento da sensibilidade e especificidade do estudo podem trazer contribuições para a compreensão da predisposição e manutenção de fatores, a fim de promover iniciativas para prevenir e modificá-los. Este papel é restrito como a avaliação da tomada de decisão afetiva e comportamento de risco na adolescência.
Comportamento de risco pode expressar em multidimensionais comportamentos arriscados e deletérios, como a ingestão prejudicial de bebida alcoólica, o consumo de bebidas alcoólicas e sintomas depressivos na adolescência. Na população geral existem evidências de comorbidade entre dependência alcoólica e depressão maior e uma associação positiva entre a presença de sintomas depressivos e um maior volume de consumo de álcool (OMS, 2004).
Comportamento de risco de caráter exenalizante pode advir com a impulsividade, definida neste estudo como um comportamento que ocorre sem a oportunidade de reflexão e não é consistente com o seu contexto (Moeller et al., 2001). Há evidências que apoiam uma relação entre impulsividade e depressão, bem como mania. Impulsividade em pacientes deprimidos poderia ser um resultado de sintomas maníacos coexistentes (Swann et al., 2007). Kraepelin define “depressão animado” como um estado misto onde excitabilidade e hiperatividade, ao invés de humor elevado, eram proeminentes, de acordo com os temas depressivos mistos descritos por Akiskal et al., (2005).
Os adolescentes com traços impulsivos têm mais sintomas depressivos quando comparados aos adolescentes sem traços de impulsividade e a impulsividade provou ser um preditor quanto aos sintomas depressivos. O resultado, que é consistente com um estudo realizado por Jakubczyk et al., (2012), mostrou associação significativa entre a impulsividade ea gravidade dos sintomas depressivos. Os sujeitos do estudo mais impulsivas apresentaram maiores escores na escala de Beck para depressão e desesperança e impulsividade foi o mais forte preditor de gravidade da depressão.
No Brasil, usa-se o termo jovem adulto para englobar a faixa etária entre 20 e 24 anos de idade. Atualmente usa-se, por conveniência, agrupar ambos os critérios e denominar esse grupo de “adolescência e juventude” ou “adolescentes e jovens” em programas comunitários, englobando nele os estudantes universitários e os jovens que ingressam nas forças armadas ou participam de projetos de suporte social denominado de protagonismo juvenil. Nas normas e políticas de saúde do Ministério de Saúde do Brasil, os limites da faixa etária de interesse são as idades de 10 a 24 anos.
Adolescente entre 17-19 anos apresentam escores mais altos em tomada de decisão afetiva e menor controle executivo, aumentando a emissão de comportamento de risco. Nesta faixa etária na adolescência ainda não estão finalizados os processos de maturação das funções executivas e apresenta ser considerado um período de maior vulnerabilidade.
Conclusões
Alterações comportamentais, principalmente no período da adolescência, podem emergir de nodos sub-corticais, ou moduladores responsáveis pela organização dos processos de emissão de comportamentos devido a alterações seletivas em regiões específicas neuronais, alterando padrões de funcionamento. Neste cenário o potencial de equilíbrio neural em processo de maturação no modelo triádico pode ser afetado por várias regiões cerebrais que implicariam em mudanças específicas de comportamentos alterando o equilíbrio entre a motivação, a emoção e a regulação do comportamento inibitório, componentes cognitivos relacionados as funções executivas, e uma vez num processo de neurodesenvolvimento disfuncional ou o desequilíbrio do amadurecimento das áreas neurobiológicas com implicações em alterações funcionais do comportamento adaptativo, promoverá maior vulnerabilidade ao indivíduo.
A adolescência é apontada como um período de grande vulnerabilidade, correlacionada com a emissão de comportamento de risco e baixo desempenho em diversas tarefas executivas, gerando prejuízos nos indivíduos a si mesmo e ao outros que compartilham de ambientes sociais. Comportamentos internalizantes ou externalizantes, influenciados pela imaturidade ou disfuncionalidade dos circuitos neuromoduladores das funções executivas, culminam na emissão de Comportamento de Risco os prejuízos psicossociais.
*Ricardo Luis Aguiar Assis, Professor do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Caratinga
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