Núcleo de Emergências Ambientais foi acionado. Copasa garante que não há prejuízos à saúde dos caratinguenses
CARATINGA- Após confirmar que as alterações no cheiro e sabor da água distribuída pela Copasa em Caratinga foram provocadas por um acidente ambiental com um caminhão carregado com silagem de milho, que tombou em um afluente do Córrego do Lage, a empresa afirma que não há prejuízo à saúde de quem utilizou a água.
O DIÁRIO questionou a Copasa sobre sintomas relatados pelos internautas, como náuseas, diarreia e dor de cabeça, além de coceira e ressecamento da pele. No entanto, em nova nota emitida, a Copasa informou que as alterações organolépticas da água, tanto no cheiro quanto no sabor, não têm potencial de prejuízo à saúde de quem utilizou a água.
“O cheiro e o sabor são características organolépticas previstas na portaria GM/ MS888 do Mistério da Saúde, que não causam danos à saúde, mas que alteram os componentes naturais da água. Desta forma, não há evidências de que os compostos de silagem de milho, neutralizados pelo contato com o processo de tratamento da água da Copasa, possam causar risco ou prejuízo para a saúde”, disse. Característica organolépticas são alterações que podem ser percebidas pelos sentidos, neste caso, olfato e paladar.
NÚCLEO DE EMERGÊNCIAS AMBIENTAIS É ACIONADO
Na manhã desta sexta-feira (6), a Polícia Ambiental foi acionada pela Copasa para avaliação do acidente ambiental.
O DIÁRIO conversou com sargento Edil, que destacou as primeiras informações apuradas. “O tombamento desse caminhão sobre o curso d’água provocou um derramamento considerável de, a princípio, silagem de milho no córrego e, também, algum ponto ou outro de derramamento de óleo nas proximidades das margens do curso d’água, que poderiam afetar a qualidade da água para a cidade de Caratinga. Assim que tomamos conhecimento desse fato, viemos até o local, estamos colhendo ainda algumas informações a respeito do fato, para que as devidas providências sejam tomadas, confecção de boletim de ocorrência e envio às autoridades competentes. Já foi acionado o Núcleo de Emergências Ambientais (NEA) do Estado de Minas Gerais e seguimos acompanhando”.
Sargento Edil destaca que o caso segue em apuração. “Estamos correndo atrás de informações, inclusive alguma pessoa que tiver alguma informação que possa repassar para a Polícia Militar possa acionar o 190, para que a gente possa concluir com êxito os desdobramentos dessa ocorrência. Como ocorreu um acidente no leito do curso d’água, a pessoa que foi vítima, precisamos saber até o estado de saúde dessa pessoa, se está bem, foi atendida. Sabendo desses fatos, vamos entrar em contato, saber o que houve, a versão dessa pessoa, se realizou algum acionamento de órgão ou entidade para comunicar o acidente. Isso tudo ainda precisa buscar informações para que possamos desdobrar o mais rápido possível essa ocorrência”.
COPASA FALA COM EXCLUSIVIDADE AO DIÁRIO
Em entrevista ao DIÁRIO, o técnico químico de produção Reginaldo Lima, da Unidade de Apoio Operacional Leste da Copasa, destacou que alterações na água foram percebidas antes mesmo da população procurar os órgãos de imprensa. “Aqui dentro da unidade mesmo foi percebido um cheiro forte pelo próprio operador, uma variação na demanda de cloro. Ele percebeu e disse que tem algo errado com essa água. Ele fez a análise de cloro, dosando a mesma quantidade e percebeu que houve uma queda sensível, ou seja, algo na água consumia esse cloro. Esse consumo joga o residual de cloro livre, na água tratada, para baixo, quase zerando. No momento em que o operador percebeu a redução de cloro dentro da análise, procurou medidas para resolver. Ou seja, preciso que saia um cloro da estação, por exemplo, em torno de 2 mg. No momento que chegou a onda aqui de material orgânico que passou pela estação, esses nutrientes, nitrogênio, principalmente, esses compostos nitrogenados, tendem a consumir o cloro, para oxidar essa matéria orgânica”.
De acordo com Reginaldo Lima, nesse momento o operador tentou uma manobra de aumentar um pouco a dosagem na tentativa de normalizar. “Ver se conseguia combater toda essa carga que chegou e ter cloro livre disponível na distribuição. Ele percebeu que não teve sucesso, havia algo errado sim e tomou outras medidas, uma delas foi fazer alterações nos pontos de dosagem e alterar também o tipo de cloro”.
São disponíveis três opções de cloro no mercado: cloro gasoso, hipoclorito de cálcio e hipoclorito de sódio. “A estação de Caratinga produz o seu próprio cloro que é o hipoclorito de sódio, na concentração de 0,5 a 0,8%. No momento estava se usando hipoclorito de sódio, que é bem mais reativo que o Hypocal, por exemplo, que é o hipoclorito de cálcio” disse.
Reginaldo Lima ainda explicou a reação da silagem com água no córrego do Lage, responsável pelo abastecimento. “A própria silagem em si, vamos chamar aqui de composto orgânico, então, quando o fazendeiro mói a parte vegetal do milho com as espigas, faz o processo de fermentação sem oxigênio. Ali você aumenta a concentração, você quebra a parte orgânica e tem durante o processo de fermentação, as bactérias produzindo esses nutrientes, que são à base de nitrogênio e fósforo, são os compostos de cadeias orgânicas simplificadas. Quando se entra em contato com a água, como foi, a tendência desses compostos é dissolver na água. Foi isso que aconteceu. O que chegou aqui foram esses nutrientes, essa matéria orgânica dissolvida na água. E mesmo se houvesse a parte sólida, bagaço, dificilmente chegaria aqui. Mesmo se chegasse, o tratamento tem condições de remover”.
A reação do cloro com compostos orgânicos nitrogenados gera a formação da cloramina, como detalha Reginaldo. “A cloramina é também chamada de um cloro combinado, responsável por esse cheiro forte de cloro. Ela tem a mesma função do cloro livre que é a desinfecção, consegue atuar também com agente bactericida. Basicamente houve uma reação, uma demanda de cloro, essa baixa de cloro livre que percebemos foi a reação do cloro com os nutrientes à base de nitrogênio, o que foi essa sensação. E no intuito de resolver o problema, jogar uma demanda de cloro, ela subiu um pouco acima do que é perceptível, deu essa reação de odor. Percebendo isso, fizemos a ação corretiva para baixar essa dosagem e minimizar essa questão. Mas, foi bem controlado a ponto de não ultrapassar o limite da portaria”.
E destacou sobre a alteração na água que foi percebida pelos caratinguenses. “Inicialmente, sem ter a informação do acidente, a gente estava na identificação do problema, quando se cogitou na formação da cloramina, buscando apoio de outros especialistas, imediatamente já fizemos as alterações. Mas, até que fossem feitas, a quantidade normal de cloro que já havia processado foi para o reservatório, o que deu esse choque”.
Quanto ao óleo diesel que também foi derramado no córrego após o acidente, ele acredita ter sido em quantidade mínima, mas, a situação está sendo averiguada. “E quando chega na estação vai com proporções muito pequenas e a Estação vai ter condições de mostrar isso. Solicitamos uma análise especial, enviamos para laboratório, para justamente medir isso, se está chegando algum resíduo, esses compostos combustíveis, benzeno, tolueno, etilbenzeno e chileno. Também foi feita inspeção no local”.
ENGENHEIRO SANITARISTA
Heverton Rocha, engenheiro civil, ambiental e sanitarista com experiência em saneamento, também foi ouvido pela reportagem. Ele deu sua avaliação sobre o caso. “Quando acontece algum tipo de contaminação recursos hídricos, o recurso hídrico reage àquilo que acontece a ele. E quando existe contaminação orgânica, quando a matéria orgânica entra em contato com o recurso hídrico, ele diminui as taxas de oxigênio dissolvido, que faz com que o rio seja com qualidade saudável, quando oxigênio dissolvido dele está acima de 5 ou 6, que é geralmente a quantidade que pode ir para uma Estação de Tratamento de Água, que a qualidade da água é garantida. Quando existe algum tipo de contaminação o rio desequilibra, então, diminui a taxa de oxigênio dissolvido e pode acontecer algum tipo de problema, com relação, principalmente, com a potabilidade da água, que segue sérios padrões de exigência”.
Para Heverton, os gostos são padrões que o ser humano, precisa ter para uma água confiável para beber. “Quando se tem cheiro forte, um gosto diferente, os padrões organolépticos não estão de acordo. Tenho certeza de que Caratinga possui um sistema de identificação, quando as taxas de oxigênio dissolvido diminuem na água bruta que chega na estação de tratamento. Mas, não sabemos por que ocorreu esse acontecido, passou pelo sistema de tratamento e foi para o sistema de distribuição. Mas, é algo que não é tão incomum de acontecer, mas, como o sistema e abastecimento de água mexe com toda a cidade, tem sim que ter essa identificação. É uma poluição considerada difusa, quando vem da zona rural, diferentemente do esgoto que é pontual e geralmente, se ele ocorrer num ponto específico, morrem peixes. Mas, como o Ribeirão Lage é onde se capta o abastecimento público de água, deveria se ocorrer uma identificação sim. Acredito que o que precisa mesmo de fazer não só em Caratinga, mas, outras cidades, é o Plano de Segurança da Água ou algum Plano Diretor de Abastecimento de Água”.