Nos dias atuais, a pressa tem sido uma das principais características de nossa sociedade. E isso não é por acaso, já que estamos diante daquela que, talvez, seja a sociedade mais atarefada que já existiu e, para dar conta de tantos afazeres com tão pouco tempo disponível, a pressa se torna necessária.
Mas, como todos sabem que, quando priorizamos a velocidade, pressionados pelas inúmeras tarefas a serem feitas, abrimos mão da qualidade daquilo que estamos fazendo, e também de todo proveito e satisfação que poderíamos ter com elas. Assim, por causa da pressa, perdemos a qualidade e a satisfação em nossos relacionamentos, em nossos hobbies, em nossos estudos, nas conversas com os amigos, no tempo gasto na conversa e interação com nossos vizinhos e, principalmente, a pressa têm nos impedido de viver e desfrutar a vida da forma como deveríamos e, muito mais do que viver apressadamente, sem sentir o verdadeiro “gosto” das coisas, o ritmo frenético em que estamos vivendo tem nos impedido de fazer algo essencial para todos: pensar na vida.
Pensar na vida é muito mais do que pensar nos problemas e nas dificuldades que a vida nos traz, é muito mais do que pensar no sustento da casa, no cuidado dos filhos, é mais do que se preocupar com o trabalho ou status social. O “pensar na vida” que proponho, ou melhor, que Sócrates propõe, têm relação com o que dá sentido a todas essas coisas; o “pensar na vida” a qual me refiro, é pensarmos no propósito que nos leva a fazer todas essas coisas, refletirmos nos “porquês” de fazermos o que fazemos.
Sócrates, conhecido filósofo grego, ao chegar ao final de sua defesa contra as acusações de Meleto e Anito, que acusaram o filósofo de corromper a juventude ateniense com seus ensinos, disse que ele não se arrependia de ter vivido a vida examinando as coisas e as pessoas ao seu redor e, principalmente, examinando a si mesmo, afirmando que o maior bem do homem é se aplicar em conhecer essas coisas e buscar a conhecer e discorrer sobre a virtude. Dando ênfase à defesa desse exame da vida que ele fez a vida toda, ele acrescenta que: “Uma vida sem esse exame não é digna de um ser humano” – (uma outra tradução diz; “A vida sem investigação não é digna de ser vivida”).
Sócrates tinha total consciência da importância de pensarmos e examinarmos a nós mesmos, a nossa vida, nossos atos, e enfatiza que a vida sem essa reflexão não vale a pena.
Infelizmente, ainda hoje, mais de 2.400 anos depois, a maioria das pessoas continuam sem se preocupar em refletir sobre suas vidas, continuam sem fazer um exame do mundo ao seu redor, das pessoas ao seu redor e, principalmente, continuam sem fazer um exame de si mesmo. “Conhece a ti mesmo” é um aforismo grego bem conhecido que muitos atribuem a Sócrates, mas que, na verdade era uma máxima de Delfos, e que foi escrito na antecâmara do Templo de Apolo, em Delfos. Sócrates tomou essa inscrição da entrada do templo de Delfos como inspiração para construir sua filosofia.
Vivendo no mundo da pressa e da correria, muitas vezes estamos nos deixando guiar pela correnteza sem ao menos nos perguntar para onde estamos indo. Pela falta de reflexão, muitos têm sido coadjuvantes de suas próprias vidas e histórias, e têm deixado a vida passar. Viver é muito mais do que estar vivo, é muito mais do que simplesmente passar pela vida, é mais do que deixar a vida passar!
Para terminar, deixo uma frase do poeta brasileiro, Alberto da Cunha Melo, que ilustra bem nossa realidade: “Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem”.
Que venhamos deixar a pressa de lado, deixar por um momento as preocupações de lado, e parar um pouco para refletir sobre a nossa vida, e os rumos que ela tem tomado, e buscar compreender nosso lugar no mundo.
(Wanderson R. Monteiro)
(São Sebastião do Anta – MG)