(Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer. Eclesiastes 12-1)
*Arnaldo Gomes Pinto Júnior
Muitos dos meus amigos acham interessante esconder a idade. Entendem que ao declarar a idade correta, constante da carteira de identidade, sentem-se discriminados porque a velhice, para a maioria, é considerada ponto negativo em muitas circunstâncias.
Em alguns momentos, a discriminação é uma verdade. Exemplo: quando um coroa vai procurar um emprego, é difícil acontecer o aproveitamento. Fazem pouco da sua experiência. Um tabu é a história da competência sexual. Os idosos nem sempre conseguem dar conta do recado. E sofrem com a chacota que é feita, principalmente quando um velhinho cisma de se aproximar de alguma gata de pouca idade.
Interessante. Já tendo passado dos 50, não me preocupo tanto com o fator idade. Sei das minhas limitações. Não exagero, principalmente porque além dos janeiros, sou também safenado e prefiro ficar na minha: nada de voos mais altos.
Mas se tem uma coisa que me aperreia é o excesso de não pode a que fica penalizado um cinquentão na hora que está à mesa para as refeições. Para controlar o colesterol, os triglicérides, a glicose, as alergias, a pressão arterial, e outros tantos detalhes do organismo humano, o cidadão se vê frustrado diante de uma mesa de guloseimas. Não se tem mais prazer em comparecer a um restaurante porque os impedimentos são tantos que, de repente, o cara fica restrito a, apenas, tomar um copo de água natural. E olhe lá!
Pior é quando se vai atender a algum convite para um almoço ou jantar na casa de um amigo. Se o prato destaque é, por exemplo, uma feijoada, o próprio anfitrião fica chateado, quando o convidado lhe confidencia as inconveniências que podem advir caso ele saboreie as delícias dos ingredientes colocados junto ao já saboroso feijão preto.
Na sobremesa é outra decepção. A madame, dona da casa, distribui um doce caseiro, feito com todo o carinho por ela mesma. E vem o descaso porque há de se controlar a glicose diante da possibilidade da diabetes.
Ou seja, assuntos sobre comidas nem sempre devem ser abordados em uma crônica de jornal. Deixam o pessoal de água na boca, principalmente aqueles que têm restrições catalogadas.
É por isso que eu digo. A pessoa tem que aproveitar até a faixa dos 30, 35 anos para fazer o que pretende. Até para o seu paladar. Depois, tudo fica mais complicado.
Observem a última notícia que os jornais estão publicando. A baiana Lindinalva de Assis, mais conhecida por “Dinha do Acarajé”, consciente do sucesso do seu produto em Salvador, vai partir para a concessão de franquias, incialmente para São Paulo e Brasília, e posteriormente, para o restante do território brasileiro, e depois para o exterior.
Ela fatura bruto R$ 65 mil por mês, com lucro médio em torno de R$ 13 mil. Quando o faturamento está em baixa, o lucro fica na casa dos R$ 9 mil. Quer dizer, é um negócio altamente rendoso para a Dinha que tem fregueses famosos como Antônio Carlos Magalhães, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Tem gente em Caratinga que não vai gostar se houver interesse pela franquia do acarajé da Dinha para a Cidade das Palmeiras. Já pensaram o que é saber que tem um quitute desta natureza pertinho de você, e o médico ter-lhe dito, depois do último exame de sangue que acarajé tem muito colesterol?
(Publicado no Jornal de Caratinga, de 31 de maio de 1997)
*Jornalista-Editor do Jornal AFATO, da Associação dos Filhos e Amigos de Teófilo Otoni, que se edita em Belo Horizonte.