Missa marca encerramento das atividades do Mosteiro Nossa Senhora do Rosário e São José
CARATINGA- Apesar dos esforços da Diocese, na manhã de ontem, o Mosteiro Nossa Senhora do Rosário e São José encerrou as suas atividades. A missa das 7h, celebrada por dom Emanuel Messias de Oliveira e monsenhor Raul Motta de Oliveira, trouxe uma mensagem de despedida e gratidão, na última ceia das Irmãs Maria Aparecida, Maria dos Anjos, Maria José e Rosalina em Caratinga.
Em outras épocas, o Mosteiro já chegou a abrigar 17 irmãs, quando ainda funcionava na Avenida Moacir de Matos. A diminuição no número de vocacionadas era motivo de preocupação há algum tempo.
Monsenhor Raul, que atuou diretamente na implantação do Mosteiro, se recorda de como foi esse processo e detalha o motivo do fechamento. “Vou sentir muita falta delas. Sempre trabalhei muito para elas virem para aqui, 1963, lutei muito. Eu que as busquei lá em Macaúbas para aqui. Principalmente nesses últimos 15 anos, celebrei todo dia aqui nesse Mosteiro. Isso nos faz sentir muito, mas, paciência, fazer a vontade de Deus. Elas estão obedecendo a um mandado do papa, que há pouco tempo escreveu um documento organizando os mosteiros contemplativos no mundo inteiro, que aquele que não tivesse seis monjas não poderia continuar, o nosso só tem quatro. Não tinha esperança de ter mais agora proximamente, então eles deliberaram o fechamento do nosso mosteiro que está aqui há 56 anos na nossa diocese”.
O destino das monjas de Caratinga foi decidido após uma deliberação de duas Irmãs da Federação do Brasil, uma de salvador, outra de São Paulo. “A Irmã Rosalina vai para o Mosteiro da Ajuda, no Rio de Janeiro, porque a organista de lá está muito doente e não está conseguindo mais; Irmã Rosalina é a nossa organista aqui. As outras três vão para Macaúbas (região metropolitana de Belo Horizonte), a Irmã Maria dos Anjos que veio com as primeiras e está aqui até hoje conosco, volta então. E as outras duas que foram recebidas aqui nesse mosteiro de Caratinga estão indo para lá pela primeira vez para morar lá”.
Monsenhor Raul faz o pedido de orações para o povo da diocese e fala sobre a esperança de que Caratinga abrigue em breve o Mosteiro. “Continuem rezando por elas e agradecendo a Deus por esse período tão grande oração que tiveram conosco aqui. Pedir a Deus, na sua graça, que possamos ter o quanto antes outro mosteiro contemplativo na diocese, as beneditinas de Campos do Jordão estão querendo já há muito tempo fundar um mosteiro. Estou pedindo a Deus para abreviar isso e o quanto antes elas puderem vir para cá também para manterem-se em oração constante dia e noite, por todos nós”.
‘DESENRAIZAMENTO’
Dom Emanuel Messias também deixou sua mensagem de gratidão e de solidariedade às monjas que ficaram décadas em Caratinga. “Nós estamos sentidos, no último encontro vocacional elas estavam muito animadas, porque através do esforço do monsenhor Raul, nós conseguimos 13 jovens para vir fazer o encontro e todas dispostas, animadas, alegres, gostaram demais do encontro. Uma semana depois a irmã falou assim: ‘Dom Emanuel, infelizmente vamos ter que ir embora porque nenhuma ficou’. Não teve jeito. Imaginamos a situação delas, sobretudo, a mais idosa, a Maria dos Anjos, está com 85 anos e é um desenraizamento, um momento de dor para elas. Sair daqui é ser ‘arrancada’ do seu solo, de onde elas achavam que iam passar o resto da vida. Tenho rezado muito para Deus dar forças para elas, nesse despojamento, nesse desprendimento dessa realidade nossa e partir para outra realidade”.
O bispo frisa toda a logística que foi preparada para a mudanças das Irmãs. “É um momento também de ação de graças, como falamos na missa, da nossa parte, da parte delas também. Nós agradecendo a elas as orações, 56 anos de presença orante na nossa igreja e agora partem de repente, porque hoje (ontem) elas estão indo embora, até assumi a cúpula do mosteiro para ficar fácil para elas. Ontem (quinta-feira) fomos ao cartório para nós passarmos o registro do carro, comprei o carro também. E me encarreguei de transportar a mudança delas, está combinado já, agora no domingo, vai vir a transportadora às 9h, que vai pegar aquilo que elas vão levar. E depois vamos providenciar, que tiver liberado do ponto de vista judicial, os corpos das duas freiras que estão sepultados aqui e vamos enviar também”.
Sobre a destinação da estrutura que abrigava o Mosteiro, dom Emanuel afirma que há dois possíveis projetos. “O pensamento que não é para amanhã, mas é mais imediato, é transformar esse mosteiro no Propedêutico nosso, o primeiro ano de estudo dos seminaristas, que acontece lá em Ubaporanga, uma casa muito bem estruturada, grande, mas, a casa da paróquia. Pensamos em trazer para aqui mais perto, dar uma reforma bem brava aqui, porque tudo é pequeninho e transformar isso aqui num espaço para o Propedêutico. E, futuramente, nós temos aqui 15 celas com suíte, pequenininhas, apertadinho, mas se não tivermos tomado providência ainda, pode servir para o lugar onde os padres idosos possam vir ficar. Mas, eu pretendo para os padres idosos construir próximo ao seminário, para ficar mais alegre para eles”.
GRATIDÃO
Irmã Maria dos Anjos já 63 anos à vida religiosa. Ela fez parte da primeira turma das monjas da Ordem da Imaculada Conceição em Caratinga, em 1962. Hoje, aos 85 anos, retorna para o Mosteiro de origem, em Macaúbas e deixa sua mensagem aos caratinguenses. “Gostaria de deixar um agradecimento a todo o povo de Caratinga, como nos acolheu, nos tratou, dentro desses 56 anos que estivemos aqui. Para nós não é fácil deixar Caratinga, eu deixo materialmente, mas, espiritualmente Caratinga vai ficar sempre na minha vida, vou esquecer nunca. Agradecemos a todos os setores da cidade, todos aqueles que nos conhecem, nos ajudaram muito. Um pouco difícil, minha vida ficou todinha aqui”.