Advogado Não se pode
fechar os olhos. A fome voltou. Ela não só está visível nas ruas, como cada vez mais surgem indicadores mostrando que essa chaga, em vias de ser superada anos atrás, retornou à centralidade dos problemas do país. Parece que é a releitura do livro ‘A Geografia da Fome’, de Josué Castro. Os registros das entidades especializadas, inclusive o IBGE, apontam para mais da metade da população brasileira sofre com algum grau de insegurança alimentar e pelo menos 15% convive com a falta diária e constante de ter o que comer.
Em vista desse quadro de grande preocupação, o assunto voltou a pautar o noticiário, os discursos políticos e a atuação da sociedade civil. “Quem tem fome tem pressa”, dizia a célebre frase do sociólogo Herbert José de Sousa, o ‘Betinho’ (1935-1997). A verificação no momento é de preocupação, no sentido de que, triste constatar o paradoxo de que, ao mesmo tempo em que a fome cresce, pouco se discute as razões de o país ter mergulhado nesta situação. Para os especialistas, que acompanham os indicadores de segurança alimentar e nutricional, a abordagem que tem sido reservada ao tema sugere que se trata de um problema conjuntural, ligado aos desdobramentos da pandemia do coronavírus. Essa, no entanto, é uma leitura reducionista. “A pandemia deixou óbvio qual é o projeto de país que se tem e que se implementa de uma maneira muito eficiente”, observou a ex-presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Elisabetta Recine, também professora e coordenadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da UnB. “Essa fome, no final, é produto de um momento agudo, que é expressão de uma situação crônica nesse país”, ela complementou, durante o evento de divulgação do relatório sobre a fome, tocando num ponto nevrálgico para discutir o que é e de onde vem essa chaga. Existe um enorme contingente de brasileiros tendo que contar os centavos no dia a dia para decidir entre pagar as contas ou comer. Milhões de pessoas enfrentam a fome como rotina, com uma falta constante e diária de alimentos. Parece que, houve uma verdadeira negligência relativas a uma série de políticas fundamentais para evitar um retrocesso na garantia da alimentação e nutrição adequadas, eis que, elas mantêm uma estrutura de segurança alimentar e nutricional que torna o país mais resistente às crises econômicas. Com uma política com programa de aquisição de alimentos eficiente, por exemplo, garante-se ao mesmo tempo tanto que um agricultor mantenha a produção, evitando a variação de preços, quanto que alguém passando por necessidade financeira tenha acesso à alimentação.
Por isso, torna-se muito difícil abordar os relatos dramáticos daqueles que estão sofrendo com a fome, é fundamental entender o que se fez ou deixou de ser feito para que isso aconteça. Divulgar, apoiar e incentivar as ações da sociedade civil contra tal situação ajudam a mitigar alguns dos efeitos, mas não se pode perder de vista que o Brasil enfrenta hoje um problema eminentemente político — de opções de orçamento, de definição de prioridades, de desenho de agenda, de formação de alianças, de projeto para o futuro. É oportuno registrar nesse pequeno artigo, que a questão da forme não está muito longe.
Em Caratinga, por exemplo, observa-se nas praças, nas portas do comércio, dos bancos e, em diversos outros locais, principalmente no centro da cidade, esse verdadeiro drama da fome, onde que passa ouve o clamor “quero simplesmente comer”.
Fome e pobreza andam juntas!