Walber Gonçalves de Souza
O assunto desta semana nas rodas de conversas entre amigos e vizinhos não tinha como ser outro.A febre amarela contaminou e aumentou a temperatura dos papos também. Provavelmente, está sendo o tema mais falado nos últimos dias em todas as cidades que compõem a região leste de Minas.
Nestes papos aparecem de tudo, histórias antigas relatando a presença da doença em outras épocas e regiões, algumas pessoas contam os seus medos e superstições em relação às agulhadas e ao próprio ato de vacinar, alguns manifestam que não estão nem aí, outros defendem que não é preciso tomar a vacina e tantos outros, com olhares amedrontados, discutem a preocupação para com a doença e possível contaminação.
Dizer que ela pegou todo mundo de surpresa não pode ser considerada uma verdade completa, mas o fato de ser em um momento de transição dos governos municipais, aí sim contribui ainda mais para com o problema. Não pela competência das pessoas, situação que não tenho como dizer, mas pela própria circunstância que envolve o processo de mudança dos comandos municipais.
A febre amarela está demonstrando mais uma vez como o nosso sistema governamental está vivendo uma situação que beira o caos. O Ministério da Saúde, bem como a Secretaria Estadual da Saúde, no nosso caso de Minas Gerais; deveriam estar atentas ao controle destas doenças. Pois, sabemos que elas não são novas e precisam ser monitoradas constantemente.
Muitos biólogos já alertavam para o problema, muito antes de se tornar o que se tornou esta situação que beira a calamidade. Mas, infelizmente, para variar, não tiveram suas vozes ouvidas. Algo que é comum em nosso país. Hoje o quadro que vivemos não deixa de ser também um pouco do reflexo da nossa ignorância, do ato de ignorar algumas profissões.
O governo municipal não deixa de ter sua parcela de culpa, mas a nova gestão ganhou logo no início de mandato um abacaxi para descascar. Algo que é difícil para qualquer um administrar. Pois, não permite um planejamento coerente para todas as ações, podendo assim gerar falhas. Torna-se muito mais uma ação emergencial, como diria no popular, uma ação para apagar incêndio.
Pela gravidade da situação, pois a contaminação pode gerar o óbito, algo que está acontecendo na nossa região, por mais que os dados oficiais ainda não confirmem notamos muito mais um jogo de interesses nos discursos, do que realmente uma ação eficaz.
Querer que o município tivesse vacinas para todos os munícipes, acho que seria uma estupidez pensar assim. Não tem como todos os municípios terem um banco de vacinas para todos os tipos de doenças. Mas, pensando nas dimensões do Estado e do próprio país, algo a mais deveria ter sido feito. Uma força tarefa da Secretaria Estadual de Saúde para trabalhar (ação concreta) em função de imunização das pessoas deveria ter acontecido com maior agilidade. Vacinas de outras regiões e/ou órgãos diversos poderiam ter sido deslocadas para a nossa, assim, as pessoas seriam vacinadas com maior rapidez. Lembrando que, quanto mais tempo demora-se para vacinar, mais tempo a pessoa ficará à mercê da sorte.
Não sejamos também injustos com nós mesmos, como o nosso ato de cidadania, pois é muito mais fácil colocar a culpa nos outros e por várias vezes esquecemos que somos corresponsáveis por este quadro no qual estamos inseridos.
A propagação da doença deve-se muito ao nosso jeito de ser. Enquanto não aprendermos a sermos mais educados, civilizados, doenças como estas nunca deixarão de nos acompanhar. Pois, sabemos que a propagação e infestação da doença estão diretamente atreladas ao fato de mantermos nossas atitudes ligadas ao controle de vacinação, à falta de higiene e cuidado com o ambiente. Ainda há nascedouro de milhões de mosquitos transmissores da doença espalhados em vários cantos e recantos das nossas cidades.
Não dá para pensar como um amigo que tenho. De acordo com ele, “deveríamos matar todos os macacos, assim não haveria mais doença”. Pelo visto, ele não está nem aí para o desequilíbrio ambiental, pela importância das espécies para outros aspectos da vida humana. E é justamente um pensamento deste que mantém o caos. Pois, não assume responsabilidades.
Com certeza passaremos por mais este momento. Triste para as famílias que perderam seus entes queridos. Que mais uma vez sirva de lição para os que ficam e que as autoridades constituídas assumam suas responsabilidades, bem como todos nós.
Walber Gonçalves de Souza é professor.
(Observação: este artigo foi escrito dia 12/01)