(Noé Neto)
Conta-se que no tempo da pangeia, existia um reino de território amplo, porém mal distribuído, habitado por várias tribos.
Apesar de fazerem parte do mesmo reino, cada uma das tribos possuía características bem próprias: roupas típicas, dança, música, comida, etc. Assim, o reino era grande não apenas em território, mas também em diversidade cultural, em produção de alimentos, em formação e informação. Por isso, por escolha de seu povo acatada por Vossa Majestade o rei Arabutã, ele foi nomeado Hetero Reino.
A riqueza de religiões, opiniões, habilidades e gostos, não era um problema para os habitantes desse reino, que, além de saber conviver com as diferenças, se ajudavam nas adversidades. As tribos, ainda que rivais, admiravam os feitos umas das outras e buscavam aprender aquilo que fosse útil na melhoria da qualidade de vida do grupo.
Ocorreu que, com o passar do tempo e a expansão do grande continente, criou-se novas linhas e demarcações territoriais, fazendo com que as tribos se sentissem violadas em seu direito de ir e vir por todo o território, as mesmas foram sendo invadidas por convicções e imposições de regras vindas das tribos maiores.
Os conflitos foram ficando mais constantes e o respeito mais distante. Então, com o objetivo de amenizar a crise que se agravava, o rei foi deposto. Sua principal bandeira, a heterogeneidade, não era a bandeira dos pajés das tribos. O objetivo agora era padronizar.
O saudosismo em relação a mobilidade facilitada da pangeia trazia à tona a bandeira da globalização. Assumira o reinado Amebes II e o reino passava a se chamar Homo Reino. O slogan do reinado (“Trabalhe, progrida e seja igual”) ficava fixo nas ocas de atendimento público, para que ninguém ousasse pensar diferente dos “escolhidos” para homogeneizar o reino.
As lutas travadas com o objetivo de padronizar os povos não foram poucas. Conflitos diretos, banhados a sangue, deixavam um rastro de destruição e medo pelo caminho. Os “rebeldes”, que insistiam em pregar a diversidade, eram humilhados, maltratados e destruídos, para que se tornassem exemplo a não ser seguido.
Aos poucos o caos foi se instalando, as tribos não queriam mais ouvir aquela música que não era delas, ler o livro que não encantava, viver em função de agradar. Novamente o rei foi deposto, pois o povo queria ter a liberdade de escolher o que vestir, o que crer, com quem estar, onde ir. Criou-se o Reino Plural, onde hoje governa o rei Divergente.
Há quem acredite que a pluralidade vai vingar, que as diferenças serão respeitadas. Dizem até que as individualidades de cada tribo serão tratadas de forma personalizada e que cada membro terá o mesmo poder e a mesma liberdade para opinar nesse reinado. Ouvi dizer também, que os pajés que representam as tribos vão realmente representa-las e buscar priorizar o interesse da comunidade. A imagem, ainda que desfocada, é o maior comercial do atual reinado.
Confesso que tenho sérias dúvidas sobre esse sonhado futuro do reino plural, não que eu seja descrente, mas é que o Sr Snell e o Sr Descartes, ensinam há anos aqui na minha tribo que os divergentes só produzem imagens virtuais é que ela “vende” melhor. A imagem real não é viável de ser apresentada, afinal ela é sempre invertida em relação ao objeto desejado.
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel