A generosidade começa de cima-3
QUANDO DEUS É COLOCADO CONTRA A PAREDE
Você já imaginou Deus sendo colocado contra a parede?
Desculpe a franqueza, mas não temos dado o devido ‘carinho’ à situação dos pobres (dentro e fora da igreja). Dificilmente nossa pregação é certeira e fervorosa como a de nossos antecessores, os profetas.
Fato é que o mundo não melhorou – muito pelo contrário: chegamos à marca superior a um bilhão de pessoas que lidam e sofrem na carne o problema da fome, da pobreza diariamente!!!
Na Bíblia, e principalmente, no Antigo Testamento, somos confrontados por textos que tratam deste problema de forma extensiva e conclusiva. Tenho para comigo, porém, dúvidas que tenhamos dado a necessária atenção e consideração a tais palavras divinas. Na atual complexidade do problema cabe dizer ‘só Deus’ – somente uma intervenção divina pode trazer uma solução verdadeira para a pobreza.
Ademais, o fator surpreendente, sem dúvida, é que Deus mesmo TEM DADO E CONTINUA A DAR dicas neste sentido, e a mais clara, por incrível que pareça, é sobre o poder do clamor do pobre: se for feito na forma ‘certa’, o eterno e justo Juiz se sentirá ‘obrigado’ a agir.
Acho que, sobretudo a igreja precisa conhecer mais de perto esta SOLUÇÃO de Deus para a pobreza – ela deve ser mais explorada, em minha opinião. Como diz o teólogo sul-americano José Comblin na Introdução Geral ao Comentário Bíblico:
“[…] a opção de Deus pelos pobres não é um aspecto acessório da Bíblia: é o próprio núcleo da revelação […] Ela nos obriga a entender a totalidade da história num sentido bem preciso. A opção pelos pobres é precisamente o que nos dá a conhecer a essência de Deus. É a novidade cristã que diferencia o Deus cristão dos outros deuses da humanidade, quer dos deuses das filosofias, quer dos deuses das religiões.”
Pesquisando na Bíblia sobre o assunto descobri muitos textos mostrando como é essa parte mais central – o coração do nosso Criador, em especial, em relação à situação de sofrimento do nosso irmão pobre. Dois textos apenas como exemplo:
22 Não maltratem as viúvas nem os órfãos. 23 Se vocês os maltratarem, eu, o Senhor, os atenderei quando eles pedirem socorro. Êxodo 22:22-23 (NTLH)
26 Se você receber a capa do seu vizinho como garantia de uma dívida, devolva-a antes que anoiteça. 27 Pois a capa é a única coisa que ele tem com que se cobrir quando dorme, para esquentar o corpo. Sem a capa, ele não tem nada com que se cobrir. Quando ele clamar a mim pedindo ajuda, eu o atenderei, pois sou bondoso. Êxodo 22:26-27 (NTLH)
Focados, então, no coração de Deus, vemos que ele ‘se sente obrigado’, que ele ‘se obriga a si mesmo’ a atender o clamor do pobre. Ele faz isso por causa da sua natureza. Temos falado da bondade e misericórdia de Deus – estamos dispostos a pô-lo à prova em relação ao pobre? Ou, até onde vai a nossa responsabilidade neste assunto?
Se esta ‘revelação’ é conhecida em nossos meios não sei, mas acho que não a temos levado a sério o suficiente. Sem dúvida, ela requer mudanças radicais em nossa forma de ser e viver.
De forma geral, as atitudes que nós, cristãos bíblicos, temos em relação à pobreza podem ser classificadas em três grupos:
(1) Não quero ser nem rico nem pobre (Pr 30.8) – com isso, porém, muitos estão dizendo ‘indiretamente’, que nada pode ser feito pelos pobres, o pouco que eu fizer não fará diferença, e, afinal, os pobres ‘sempre estarão aí’;
(2) Preciso ser abençoado, ser próspero (Gn 12:3) – entenda-se ‘ter em abundância’, aí poderei ajudar. Pergunta: Qual é o nível de bênção que é preciso alcançar para começar a ajudar? Ou estou apenas me esquivando, e ‘cuidando de mim mesmo’?; e
(3) Preciso fazer todo o possível para trazer mais justiça social na sociedade – é um empreendimento que não atrai, é uma caminhada solitária, ou preciso me aliançar com qualquer um? – é difícil…
Todas as três posições têm algo correto. Contudo, está faltando algo básico. Creio que existe uma quarta atitude em relação ao pobre: Deus precisa me ajudar nisso:
(4) Preciso da cooperação de Deus para cumprir o mandamento de ajudar meu irmão pobre.
Acredito que esta quarta atitude contêm em si o ingrediente capaz de provocar reações semelhantes às que a primeira igreja de Atos viveu em seus primórdios, quando ninguém considerava como sua qualquer coisa que possuía (At 4.32). Todos os que creram pensavam e sentiam do mesmo modo. Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham.
Mais do que nunca é tempo de nos colocarmos ao lado dos necessitados e clamar a Deus com eles e por eles. Somente uma intervenção divina pode trazer uma solução verdadeira para a pobreza. Este é o maior poder que temos, inclusive o próprio pobre: clamar da forma ‘certa’ – o eterno e justo Juiz se sentirá ‘obrigado’ a agir.
Vale a pena conhecer mais de perto esta solução de Deus para a pobreza. Que grandioso o desejo de Deus, que o leva a fazer uma declaração assim! Um Deus que ‘se sente obrigado’, que ‘se obriga a si mesmo’ a atender o clamor do necessitado. E ele faz isso por causa da sua natureza.
Temos falado da bondade e misericórdia de Deus – estamos dispostos a pô-lo à prova em relação ao pobre? Ou, até onde vai a nossa compaixão e amor pelo nosso semelhante?
Imagino mais e mais homens e mulheres de Deus se unindo nesta oração pelo nosso irmão pobre. Imagino Deus, o onipotente Senhor, sendo colocado contra a parede por nossas e as orações dos pobres que eles aprenderam a fazer conosco. De acordo com a palavra de Deus, a ajuda, a resposta não tardarão.
(Extraído de A GENEROSIDADE COMEÇA DE CIMA, ANEXO II, que pode ser adquirido na Livraria Caratinga/ou no Ponto Cristão).
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – rudi@doctum.edu.br