A generosidade começa de cima
Recebi uma generosa e muito valiosa contribuição/avaliação do meu trabalho sobre a Generosidade pela Prof. Rosimery Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, a qual estou inserindo neste artigo de hoje.
Prezado Rudi, Fiz uma leitura demorada de seu trabalho “A Generosidade Começa de Cima”, saboreando diversos temperos. Me permito utilizar esta metáfora pois foi uma forma de alimentar minha alma…
Antes de tecer considerações sobre o conteúdo do material gostaria de enfatizar certos aspectos da minha realidade:
Tive uma sólida formação acadêmica, mas em nenhum momento duvidei da existência da alma, mesmo que não seja possível comprovar esta fé com protocolos científicos.
Apesar de ter tido na infância a formação da Igreja Católica (Igreja Nossa Senhora das Mercês e Paróquia São Francisco de Paula) e ter realizado os sacramentos (batismo, crisma e comunhão), deixei de frequentar a instituição religiosa no início da adolescência. Foi o momento em que percebi que o “discurso” não condizia com a prática. O epílogo desta diáspora se deu quando, em 1986, a Igreja foi cercada com uma grade de ferro e o padre justificou que muitas pessoas carentes se abrigavam e dormiam na área coberta externa, o que representava um perigo.
Segui fortalecendo minha espiritualidade por caminhos não formais, não apenas por meio de leituras, mas também de ações concretas. O que você diz, Rudi, sobre não apenas acreditar em Deus, mas temer a Deus, se encaixa.
Esclareci esses dois pontos para que este meu parecer fique mais claro. Possuo agora uma alma mais aliviada de ter virado as costas para a Instituição Linear com discurso paradoxal e só sei avaliar textos dentro das premissas do cientificismo.
MEU PARECER
Conforme os principais autores do contemporâneo que tratam da questão da sustentabilidade o tema da pesquisa “A Generosidade Começa de Cima – O Sonho do Criador para seus filhos” é extremamente pertinente. Vou explicar:
Entendendo-se sustentabilidade como a propriedade de um processo que, além de continuar existindo no tempo, revela-se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b) apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de manutenção (contar com suas próprias forças), (c) pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d) promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza.
Todos os itens se encaixam na questão defendida no seu livro, principalmente a prerrogativa da dissipação, tendo em vista a harmonia da sociedade, ou seja, a generosidade enquanto base de ação.
Em relação aos autores que trabalham o tema, Edgar Morin, em sua obra “Os sete saberes necessários à educação do futuro” propõe a Antropo-ética enquanto missão com os seguintes objetivos:
➢ trabalhar para a humanização da humanidade;
➢ efetuar a dupla pilotagem do planeta: obedecer à vida, guiar a vida;
➢ alcançar a unidade planetária na diversidade;
➢ respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a identidade quanto a si mesmo;
➢ desenvolver a ética da solidariedade;
➢ desenvolver a ética da compreensão;
➢ ensinar a ética do gênero humano.
O autor defende que a regeneração democrática supõe a regeneração do civismo, a regeneração do civismo supõe a regeneração da solidariedade e da responsabilidade, ou seja, o desenvolvimento da antropo-ética. Penso que a generosidade permeia todos os itens, com ênfase na ética da solidariedade e da compreensão.
Ignacy Sachs em sua obra “As cinco dimensões da sustentabilidade” propõe que o planejamento em prol de um real desenvolvimento deve considerar, simultaneamente, cinco dimensões de sustentabilidade, quais sejam: sustentabilidade social, cultural, ecológica, espacial e econômica.
A sua proposta defendida no livro, Rudi, se encaixa principalmente na sustentabilidade social, cujo objetivo é construir uma civilização do “ser”, em que exista maior equidade na distribuição do “ter” e da renda, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as condições de amplas massas de população e a reduzir a distância entre os padrões de vida de abastados e não-abastados. O padrão deve considerar o desenvolvimento em sua multidimensionalidade, abrangendo todo o espectro de necessidades materiais e não materiais, como corretamente enfatiza o PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – no Relatório sobre Desenvolvimento Humano, ainda que tal ênfase não se reflita no reducionismo de índices quantitativos de desenvolvimento.
A instituição religiosa teria muito que participar desta justiça, caso seguisse o que foi estipulado em suas normas essenciais. Desculpe minha falta de termos técnicos na área de teologia…
A maioria das obras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, versa sobre estas disparidades das entidades sociais, com ênfase ao estado. Outro livro dele que está na minha lista de leituras é Globalização: as consequências humanas.
Rudi, vejo no seu trabalho muita pertinência e coragem!
Me maltrata saber que muitos estudiosos se calam em relação às raízes dos conflitos humanos.
Como diz Isabel Allende no prefácio do livro Veias Abertas da América Latina “guardamos um silêncio que beira a estupidez…”.
Então só tenho elogios a sua produção, e terei imenso prazer em ajudar a divulgação da mesma!
Teria muitos outros autores de peso que seguem a mesma linha de pensamento, mas não quero produzir uma análise científica de algo que tenho tanta convicção!
Espero poder conversar pessoalmente muito com você sobre o trabalho!
Obrigada pela honra!
PROF. ROSIMERY OLIVEIRA
Universidade Federal do Paraná
Curitiba, PR
NOTA: Ambos livros de minha autoria – A GENEROSIDADE COMEÇA DE CIMA, e RESTAURAÇÃO ACONTECENDO – podem ser adquiridos na Livraria Caratinga (Avenida Olegário Maciel), e na Loja Ponto Cristão (Rua Catarina Cimini).
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – rudi@doctum.edu.br