A QUESTÃO NÃO ESTÁ EM PAUTA
Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política (IUPERJ)
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB-RJ)
Analisando todos esses fatos que nos têm sido apresentados por meio das mídias, gostaria de levar essa reflexão para meus e minhas leitoras – O que vocês escolheriam para seu filho ou filha cujo objetivo é contribuir para o crescimento de nosso país?
Aprender a ler, a frequentar a escola, conviver com o outro, lidar com as opiniões contrárias, saber perder em certas situações pelo fato de que a vida nos atropela em muitas circunstâncias, mas por outro lado lhe dará oportunidade para ter um pensamento crítico? Ou você escolheria que seu filho ou filha precisasse somente a aprender a matar, a usar uma arma em todas as situações que ele se sentir “desonrado”?
Pensemos, somos sobreviventes de uma pandemia que ainda não acabou, mas o número de mortes está bem reduzido, quase chegando a normalidade. Será que precisamos nos organizar interiormente em primeiro lugar para estarmos bem com o nosso eu e depois pensar em agir? Desrespeitar o outro em nossa própria família, as leis, trazer consequências para o entorno que envolve ações negativas para o desequilíbrio seja ele pessoal, ambiental, o econômico, o discriminatório em todos os sentidos?
A pergunta é: – Para quê? Existem fatos que não temos como evitá-los citando por exemplo as tragédias, e sobretudo a morte.
Estava pesquisando sobre a educação e o crime, e observei que existem aqueles jovens que nasceram com o mínimo de oportunidades ao “ Bem-Estar”. Sabemos que o Bem-Estar exime a moradia digna, a fome, saúde, falta de atendimento nos hospitais, educação na escola e na família, resumindo, retira os direitos fundamentais de todos poderem ter uma vida digna, e a ausência dos ideais de realização de ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL. Observei também que entre os que cumpriam pena por terem realizado algum tipo de delito, pode se dizer que os números de jovens considerados relevantes foram aqueles que haviam largado a escola entre 11 e 12 anos e foram e são recrutados pelo tráfico de drogas tendo como consequência a socialização de forma perversa.
Na pesquisa realizada em 28 de maio de 2017, por Thiago Guimarães da BBC Brasil em São Paulo, a qual se encontra entre as que eu analisei, me chamou atenção foi o fato da “resposta dada a violência extrema, aquela que mata ou fere mesmo quando não há provocação nem reação da vítima. Modalidade que, acredita ele, está em alta no Brasil”.
Mas as pesquisas também mostram o problema do crime, dos delitos, que esses não estão atrelados somente aqueles que sofrem pela falta de oportunidades, mas também os jovens de classe média e alta contemplados pelo BEM-ESTAR, e frequentam a escola, tendo um bom nível de educação.
Ao depararmos com a realidade atual, o que os leva a pensar sobre esses jovens que gozam de boas oportunidades fazerem parte também do estudo do crime e da criminalidade? Será fruto de uma sociedade complexa e multicultural como a nossa?
Observei nas pesquisas que o conflito mental, a desorganização pessoal das classes médias e altas, a vida de aparências, como meio de um incremento como intuito de incentivar nas normas de condutas éticas e na prática das atitudes sociais a palavra liberdade é muito sério. Além do uso de drogas que é um fato que se deve considerar como um ponto de grande relevância, mas que não levaremos a reflexão nesse momento.
A palavra liberdade pode ser considerada pela modificação cultural o que irá resultar em uma mudança social e evocar ideias de direitos. Por outro lado, liberdade, pode provocar conflitos em que certas posições tidas como ilegítimas e simultaneamente revelam aspectos importante da nossa ordem social.
Retornando a reflexão que coloquei acima sobre a escolha. Temos a liberdade de fazê-la se queremos o uso de armas ou a educação familiar e escolar para nossos filhos e filhas?
Para nos ajudar a pensar observemos aqui o exemplo de Carla Zambelli, deputada federal que sacou uma arma e apontou para um homem na tarde do dia 29 de outubro de 2022, no bairro dos Jardins em São Paulo, nos contou e ainda nos conta todos os tipos de mídia.
Zambelli foi correligionária do ex-presidente à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Armamentista, a deputada é a favor da liberação das armas de fogo é o que as mídias nos mostram e nos mostraram pois ainda o caso não foi finalizado.
As imagens de Carla Zambelli correndo atrás de um homem com a arma apontada para ele, me remeteu ao livro que me debrucei em meu doutorado em Sociologia, “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO”, escritor Roberto Da Matta, onde ele faz a distinção entre indivíduo e pessoa no Brasil, estudou o cotidiano brasileiro, e reconstruir uma resposta para contribuir para o aprendizado de aprender o que é viver em uma democracia.
O que é indivíduo para Da Matta?
O ritual autoritário de quem está falando? Qual é o subordinado? Cada um deve saber qual o seu lugar, ou seja, o indivíduo não participa de nenhum poder, assim seria um “João Ninguém”. Ele nos ensina que quando mais alta a posição de uma pessoa em relação aos seus inferiores, maior é uso do “ sabe com quem estar falando”?
O forte componente estético, a posição por ela ocupada e o estereótipo do homem que a deputada perseguiu, a falta de critério moral que é complexo na nossa “ modernidade” pormenorizada do mundo social brasileiro pode ser a conclusão da atitude da deputada. Urge a necessidade e a possibilidade de clarificar a relação entre o nosso sistema de classificar pessoas, isso pode nos remeter a aspectos reais, cristalizando a discriminação das pessoas de determinadas esfera social.
E o qual foi o ganho de Carla Zambelli com o uso de porte ilegal de arma e constrangimento mediante uso de arma?
“A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por porte ilegal de arma e constrangimento mediante uso de arma. Além da condenação, o órgão pede que ela seja obrigada a pagar uma indenização de R$100.00,00 por danos morais coletivos e que tenha o porte de arma de fogo cancelado em definitivo”. (revistaoeste.com/politica/pgr-denuncia-carla-zambelli).
Ainda a revista citada acima:
“De acordo com a deputada, sua defesa será apresentada no prazo legal e que, o decorrer do processo, “irá demonstrar quem foi a vítima e o verdadeiro agressor nos eventos ocorridos”.
PAZ E BEM!