Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais
Pesquisadora CNPQ
Tive a oportunidade de pedalar em Copacabana, Rio de Janeiro, com o Dr. Walther Dutra, médico, ginecologista, no dia em que muitas mulheres foram à rua, vestidas de rosa, para demonstrarem sua solidariedade às outras mulheres em relação ao câncer de mama. Todas e todos vestidos de cor de rosa. Procurei entender o movimento, já que o visual era “chique de morrer”, lindo e harmonioso, cor de rosa… Procurei na internet sobre o movimento e assim me tornei solidária, percebi o seu significado e repasso para vocês, tanto para as mulheres como também aos homens, aos profissionais de saúde, no intuito de que a participação de todos, torna-se possível uma melhor reflexão sobre a mulher e seus direitos em relação ao câncer de mama.
“O movimento conhecido como Outubro Rosa, nasceu nos Estados Unidos, na década de 1990, para estimular a participação da população no controle do câncer de mama. A data é celebrada anualmente com o objetivo de compartilhar informações sobre o câncer de mama e promover a conscientização sobre a importância. Desde 2010, o INCA, Instituto Nacional de Câncer, participa do movimento, promovendo espaços de discussão sobre o câncer de mama, divulgando e disponibilizando seus materiais informativos tanto para profissionais de saúde quanto para a sociedade. O objetivo é fortalecer as recomendações para o diagnóstico precoce e rastreamento de câncer de mama, indicadas pelo Ministério de Saúde, desmistificando crenças em relação à doença e às formas de redução de risco e de detecção precoce. Espera-se ampliar a compreensão sobre os desafios no controle do câncer de mama. Esse controle não depende apenas de mamografia, mas também, do acesso ao diagnóstico e ao tratamento com qualidade no tempo oportuno.”
Percebi que o exercício da cidadania é uma questão que vem recebendo cada vez mais atenção e reflexão dos profissionais de saúde, os direitos do cidadão devem então ser respeitados em todas as etapas do processo saúde-doença. Em conversa com o Dr. Walter, ele relatou sua experiência em relação à história do diagnóstico do câncer de mama, e a dificuldade que as mulheres têm para fazer uma prevenção, muitas dessas dificuldades relacionadas ao pudor com o corpo. Passo a palavra ao Dr. Walther Dutra:
“É com prazer, que faço um relatório sucinto da minha experiência com o câncer de mama. Saí do Rio de Janeiro, formado pela Faculdade Nacional de Medicina para o interior de São Paulo, onde comecei a clinicar em uma cidade de setenta mil habitantes. Ao exercer a especialidade de ginecologia, comecei a investigar as pacientes em relação à patologia mamária. Observei que havia um vácuo, na prevenção do câncer de mama, naquela localidade. Observei, também, casos graves de câncer de mama, avançados por falta de atendimento dos médicos naquela região, e também pela ignorância dos pacientes em procurar atendimento médico para sua patologia mamária. Na época, o tratamento do câncer de mama era exclusivamente cirúrgico, uma cirurgia mutilante, onde se realizava a extração total da mama, com a extração dos músculos peitorais e dos gânglios axilares e onde a quimioterapia e a radioterapia estavam em processo inicial de tratamento. Com o advento, da mamografia, e com o avanço da quimioterapia e da radioterapia, o tratamento do câncer de mama, melhorou consideravelmente. Atualmente, a cirurgia é econômica, preservando a mama em sua anatomia e a qualidade de vida, como também a parte estética da mastectomia ficou preservada, porque no momento da cirurgia, retiramos um segmento da mama e em seguida, realizamos a plástica reparadora da mama afetada pelo câncer.”
Eu questiono ao Dr. Walther Dutra se as mulheres com câncer de mama têm a oportunidade de expressarem o sentido que dão a sua participação na escolha de seu tratamento. Penso que essa “sua escolha” torna-se possível facilitar sua reflexão sobre sua participação nesse processo e consequentemente sobre seus direitos à saúde? O Dr. Walther me explica o seguinte:
“O mastologista deve dialogar com a paciente que apresentou uma biópsia positiva para o câncer de mama. Então é necessário um diálogo com a paciente para explicar os tratamentos necessários para a cura da enfermidade. Esses tratamentos irão depender do estágio do câncer, se inicial ou avançado. Se inicial, o tratamento é mais simples e menos agressivo cirurgicamente. Se avançado, o tratamento cirúrgico é mais amplo e há necessidade de tratamento complementar com a quimioterapia e radioterapia”.
Em relação ao movimento, conhecido como Outubro Rosa, é extremamente positivo, na opinião do Dr. Walter, pois revela uma atenção especial no controle da patologia mamária, permitindo então, que as pacientes se previnam consultando os médicos ginecologistas e mastologistas, fazendo exames preventivos e consequentemente, realizando mamografias que vão fornecer diagnósticos precoces do câncer de mama.
Assim concluo que a qualidade de vida é complexa, no sentindo que se apoia na compreensão das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais, e o foco principal está na definição “promoção de saúde”. A Organização Mundial de Saúde define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no conceito de cultura, sistemas de valores nos quais ele vive em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Ressalto ainda que o interesse em conceitos como “padrão de vida” e “qualidade de vida” foi inicialmente, compartilhado por cientistas sociais e filósofos”. O crescente avanço tecnológico dentro da área de saúde trouxe como consequência, condições positivas e aumento da sobrevida das pacientes. Repetindo as palavras de John Kennedy: “Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância”.
Eu sou solidária às mulheres com câncer de mama. E você?