Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Sociologia Política.
Pesquisadora CNPQ.
Nós mães, que abraçamos essa imensa tarefa, podemos ser consideradas como uma super-mãe! Isso não quer dizer que não temos falhas, mas o fato é que, se dedicamos a esta imensa montanha-russa é porque nos sentimos responsáveis pelo saudável crescimento de nossas filhas (os). Esses ou essas têm necessidades, contextos, gostos e preferências próprias. Cada uma é de um jeito! Falo assim porque sou mãe de três filhas e as percebo como uma diferente da outra.
E me sinto muito protetora, e às vezes confundo o que é “melhor para elas” com o “melhor do que quero para elas”.
Precisei aprender ou ainda estou aprendendo a vê-las com realismo, como verdadeiramente são, para que o espaço e o apoio possam ajudá-las a desenvolver suas próprias competências, as suas vivências emocionais…
Na semana retrasada participei de um seminário em Brasília (DF) sobre Direitos Humanos e para que eu fizesse a minha inscrição eu deveria indicar o meu sexo. Observei que não havia apenas o sexo masculino e feminino, para ser marcado, e sim havia outras opções.
Sou cristã, católica apostólica romana, praticante, “possuo um fé de leão,” respondo assim, quando muitas vezes me questionam como eu poderia expressar a minha fé. Fui criada dentro dos conceitos da moral religiosa e foi assim que criei minhas três filhas.
Confesso que depois que comecei a estudar Sociologia Política percebi como o “mundo mudou”. Durante a minha participação no referido seminário de direitos humanos, as palestras apresentadas registravam a luta contra a desigualdade, a opressão, os retrocessos que causam uma devastação social. Todos os temas foram relacionados com o racismo, o sexo, a diferença de classe, a religião e os esforços daqueles que se sentem marginalizados pela sociedade, denominados de “minoria”, para enfrentar o atraso na Democracia brasileira, a qual, em nossos dias está correndo sérios riscos.
Esse grito da minoria, clamando para a sociedade, que seja reconhecido a existência de diferentes configurações familiares, a diversidade no campo da orientação e identidade sexual, e passarem da condição de vulneráveis para a condição de protegidos pelo Estado, me levou a refletir sobre a educação que dei para às minhas filhas.
Talvez hoje, seja mais difícil criar os filhos, ou já era na época de quando minhas filhas eram pequenas, mas eu não conhecia ou não queria reconhecer o que é “ser diferente” e assim passei a me questionar sobre como é educar, e qual seria a educação que eu daria para elas se eu enxergasse como acontece comigo nos dias atuais?
A minha primeira reflexão se dirigiu ao desejo que possuo em cumprir os preceitos religiosos, e o mandamento de Jesus, “amar ao próximo”. Como me vestir de armaduras contra o “diferente” em relação à raça, ao sexo, ao poder econômico, se o que eu ensino constitui um imaginário e associa a minha religião, a minha crença com o “verdadeiro”?
Quando me foi proposto a analisar o Projeto Escola Sem Partido, percebi que de um lado existem aqueles da bancada religiosa e que objetivam proibir a utilização do conceito de gênero, em sala de aula. Por outro lado, os que são contrário ao projeto argumentam que não é possível discutir Filosofia, Ciências Sociais, História, sem o debate livre dos pensadores do passado e do presente, levando em conta que a escola é o lugar do confronto de ideias.
Imediatamente vi que o contexto político e social do Brasil necessita de posicionamentos diante do desmonte das políticas públicas e retrocesso em relação aos direitos arduamente conquistados. Tudo o que opera na sociedade como motor de desigualdade e que engendram as precárias condições de existência configura em uma grave violência que gera o ódio e a dor.
Precisa haver um equilíbrio em todas as ações propostas para que haja sucesso naquilo que queremos propor.
Nesse contexto, sendo hoje o dia das mães, gostaria de convidá-las a refletir sobre o que é ser “diferente”, sobre a dor daquelas mães que têm filhos diferentes, e nos colocarmos nos lugares que elas e que seus filhos ocupam em nossa sociedade.
Recebi uma mensagem do grupo que pertenço, denominado Sagrado Coração de Jesus, explicando sobre o falcão. Esta ave tem uma capacidade de voo que parece desproporcionada para seu tamanho: voo retilíneo, indicando total ausência de medo. E sobre essa capacidade do voo do falcão fizeram uma analogia com o homem que eu achei simplesmente profunda:
“É nobre e metafisicamente bela a tranquilidade do homem que cumpriu o que deveria ser feito, empregando todas as suas qualidades. Pois é belo a causa produzir efeito e este se desenrola segundo as leis de sua própria natureza, até seu último extremo. É também bela esta forma de temperança que leva a causa a produzir todo o efeito desejado e encontrar seu repouso ao terminar a ação.”
Um dia, serei vovó, se Deus me permitir e peço a Jesus e Nossa Senhora, que me oriente a ajudar às minhas filhas a criarem os filhos dela. Que eu tenha muita sabedoria, para entender o que está nos aguardando e nunca nos afastarmos de Jesus, o nosso único Salvador!
Precisamos muito da misericórdia de Deus!
Jesus em confio em vós!
Feliz dia das mães!
A colunista Margareth Maciel junta da professora doutora Dirce Mendes da Fonseca, pesquisadora do NEIJ/CEAM/UnB- consultora da UNESCO