Margareth Maciel de Almeida Santos
Pesquisadora CNPQ
Doutoranda em Sociologia e Política
Universidade Cândido Mendes- RJ
“Não descansarei até você ser expulso dessa faculdade. Pessoas como você não devem e nem podem ter um diploma da Fundação Getúlio Vargas. A mensagem é curta e direta mas serve para qualquer outro racista da Fundação!”
Foi esse o desabafo de um aluno da Getúlio Vargas (FGV) no centro de São Paulo, vítima de injúria racial tendo como agressor o aluno Gustavo Metropolo, que estuda também na Fundação.
A mídia também relatou que um professor de Turismo e Geografia do Instituto Federal de São Paulo, causou indignação ao publicar no seu perfil no Facebook um post racista: “Odeio pretos e pardos.”
William Waack foi demitido da Rede Globo após o vazamento de um vídeo que circulou na internet, onde aparece dando declarações racistas durante intervalo de um noticiário da Globo.
Agora no dia 14 de março, é assassinada Marielle Franco, vereadora do PSOL, mulher negra, jovem, uma das vozes mais ativa contra a ocupação militar, defensora da minoria, dos desesperançados e que tinha como proposta por meio do debate promover a defesa da democracia e dos direitos humanos.
A pergunta é:- Por que as pessoas protagonizam ofensas raciais?
Octavio Ianni analisa o preconceito racial em termos mundiais, onde “esses surtos de diferentes manifestações de racismo e intolerância estão imbricados com a dinâmica da sociedade”. Ele destaca a “brutalidade do racismo que se desenvolveu com o nazismo, incorporado pelo fascismo, seguramente reacendeu o racismo em outras partes da Europa e do mundo”.
Ianni destaca ainda que se mergulhar na história social do Brasil, entenderemos que durante “a escravatura formou-se uma poderosa cultura racista e relata que a presença do emigrante foi um elemento de peso para a discriminação racial.” Para ele, “a sociedade é tão injusta e desigual e competitiva que se produz, o preconceito como uma técnica política de poder. No limite, o preconceito racial é uma técnica de dominação.”
Muito se fala dos jovens, destaco aqui os jovens negros, protagonistas de sua própria história. Também se vê uma grande preocupação com esses jovens, porque são muitos os relatos de ofensas, mortes e de dor diante da realidade cruel que vivemos, de injustiças e violências. Segundo pesquisas, os jovens pobres e negros são os mais atingidos, essas revelam que em cada três jovens assassinados no Brasil, dois são negros.
A realidade nos mostra que a violência tem cor, tem moradia, e como é difícil ser jovem e negro nas periferias das grandes cidades. Esse cidadão, visto com pouco acesso à educação de qualidade, ao trabalho e emprego está mais exposto a sofrer ações de violência. Por outro lado, segundo Relatório Sobre o Escândalo da Desigualdade na América Latina, (Christian Aid, 2017), se pode afirmar que a superação da violência passa pela superação das desigualdades sociais. Essa análise, corrobora com os fatos citados acima, o caso da Fundação Getúlio Vargas em que ambos os jovens eram alunos da mesma instituição, e o caso do professor que publicou nas redes sociais a sua intolerância. Esses dois exemplos, explicam que, o racismo, não se aplica somente pelo fator econômico, mas principalmente pela falta de respeito aos direitos dos cidadãos.
Voltando a Ianni, uma vez ele entrevistou um negro em Florianópolis, e nos relata que quando o perguntou sobre o preconceito racial em nosso país, esse o respondia em tom exaltado que o “ problema do preconceito no Brasil, é que você não tem onde pegar. É um preconceito alusivo, não explicitamente revelado. Ele aparece da maneira mais surpreendente: o negro chega ao restaurante e fica esperando enquanto o garçom atende a outros. No hotel ouve que não há mais vagas e que as crianças brancas e pretas convivem na escolinha em plena igualdade, até que vem a adolescência e ocorre a demarcação”.
Quanto a vereadora Marielle, eu posso dizer que sua ideologia, sua luta, revela que a mulher negra vista antes como substrato de subordinação e exploração do mundo capitalista, passou a ter uma forma de expressar, de alteridade e poder que se desenvolvem de maneira autônoma e solidária com a minoria. A força da mulher negra na gestão da vida e com o compromisso do bem estar coletivo revela o lugar de defesa, de resistência, de complexidade e dos interesses que estão em jogo em disputa no mundo capitalista. Ela nos deixou exemplo de coragem e sabedoria, cujo valores são opostos ao da ordem capitalista mundial. Esteja em Paz Marielle!
Não posso deixar de apontar que os agressores, os racistas, estão sendo repudiados, quando passam a sofrer sanções, como o caso de William Waack, e do afastamento do aluno Gustavo. Sei que ainda, se tem muito que lutar, mas não podemos desistir, não podemos compactuar com o racismo e sim lutar por uma sociedade inclusiva e que respeite as diferenças! Racismo é um sentimento mesquinho e representa um atraso cultural e político, para não dizer um entrave ao desenvolvimento científico e econômico de um país.