Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais.
Pesquisadora CNPQ
Na sexta-feira, dia 05 de agosto de 2016, exatamente às oito e onze, quando eu estava indo correr ao redor da Lagoa Rodrigues de Freitas me deparei com a tocha olímpica passando na rua onde moro. Vou confessar que fiquei emocionada! Não estava imbuída do “espírito olímpico”, mas é impressionante como me deixei contagiar. Digo não estava, porque diante de tanto desemprego, saúde, corrupção, tantos problemas em nosso país, eu me questionava, como ficar feliz com a realização das Olímpiadas no Brasil?
Entender o significado da tocha, o seu poder de emocionar os atletas como ocorreu com a ex-jogadora de vôlei Isabel Salgado, no Corcovado, junto a imagem do Cristo Redentor ao recebê-la das mãos de dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, faz nascer em nós um sentimento esportivo e ao mesmo tempo o querer entender o panorama histórico dos jogos olímpicos no mundo.
Um evento internacional desse porte com sua origem na Grécia Antiga à contemporaneidade e que está agora, acontecendo aqui no Rio de Janeiro, posso perceber a existência de uma abordagem multidimensional com intervenções políticas, urbanas, econômicas, culturais, jurídicas e institucionais.
Um cenário caracterizado por um descompasso de emoções, a dialética das contradições, quando se vê protestos em Copacabana, sendo um contra o presidente Michel Temer e outro organizado pelos servidores públicos do Estado do Rio de Janeiro. Atos de parentes de policiais mortos quando estavam trabalhando nas favelas do Rio de Janeiro também podiam ser vistos enquanto a tocha circulava pelas ruas do Rio de Janeiro. Os escândalos de corrupção, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro no mundo esportivo mais presentes nos noticiários.
Li um artigo de Andrew Jennings explicando a ideia do esporte como “ideologia para dar conta de uma lacuna existente entre a imagem e as engrenagens financeiras que movem o esporte global. Por trás do discurso olímpico de trégua das nações, isonomia competitiva e convívio fraterno entre os povos, estaria a legitimação da autonomia política e jurídica que blinda suas instituições promotoras quando realizam esses valores de forma invertida nas nações que ocupam”.
No contexto pode-se questionar o que a Olímpiada de 2016 poderá trazer de positivo e negativo para o Brasil, principalmente para a cidade do Rio de Janeiro, quando se parte da ideia de que todo evento desse porte precisa ser preparado com antecedência e que para isso ocorrer, o campo de produção do espetáculo esportivo se submete ao campo econômico?
Há os que defendem os megaeventos como estratégia de desenvolvimento e há os que alegam que a “gentrificação”, definida como fenômeno que afeta um bairro com a construção de novos edifícios e a valorização da região, expulsa a população de baixa renda local, tendo um custo social para a parcela mais pobre da população. Como entender isso? Os menos favorecidos têm a obrigação de pagar a conta. É espantoso!
No entanto o momento no Rio de Janeiro é representado por um quadro político-institucional organizado para atender a realização das olímpiadas e lança mão de medidas para o controle social. Posso dizer que nunca vi tanto policial circulando nas ruas, o Rio está mais limpo, tudo planejado para instaurar a “ordem urbana” e vender ao mundo a imagem de uma cidade atraente aos investimentos. Ela foi criada para as Olímpiadas, afinal precisamos convencer ao mundo de que o Rio de Janeiro é realmente a cidade maravilhosa, sem conflitos e inseguranças.
Não poderei deixar de falar aqui da praia de Copacabana que foi invadida por borboletas! O hotel Copacabana Palace presenteia a todos os moradores e visitantes com uma linda projeção da artista islandesa Kristjana S. Williams. As borboletas, representando cada um dos países participantes das Olímpiadas, enfeitarão a fachada do hotel diariamente às 19 horas. Um espetáculo que vale a pena ver de perto!
O que preciso fazer é continuar a pedir ao Nosso Senhor Jesus Cristo suas bênçãos sobre o Rio de Janeiro e que ascenda em todos os corações a paz, o amor e o respeito principalmente para com os mais necessitados!
Termino com as palavras do Papa Francisco: “Diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida, almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião”.
Vamos torcer para que as palavras do papa, independente de qualquer credo, possam ser penetradas no fundo da alma de cada pessoa e assim vencermos o egoísmo, as vaidades, as ambições…
A PAZ!
RUMO AS OLÍMPIADAS!