Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política (IUPERJ)
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB-RJ)
Durante a palestra dada por Romeu Zema na Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC) que ocorreu em Minas Gerais, Brasil, sábado, 23 de setembro de 2023, nosso governador, pontuou que a “direita deve trabalhar unida” (Exame). A referência que Zema fez em relação a expressão: “trabalhar unida” provocou em mim uma reação positiva ao perceber que Zema e sua experiência de vida, além de ser um bom mineiro, aprendeu que uma andorinha só não faz verão. Ele disse:
“_ Ano que vem tem eleição municipal. Temos de eleger bons vereadores e bons prefeitos aqui em Minas e em todo o Brasil. E a direita precisa trabalhar unida. Nós temos de estarmos juntos”.
O ponto da questão é entender o porquê que a fala de Zema irritou parte da direita bolsonarista, em especial do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante discurso no CPAC Brasil? Vejamos.
Fazendo uma análise do Brasil de Bolsonaro, vemos que esse, é um país que trata os adversários que lutam por direitos e pensamentos divergentes no plano político, de forma violenta. A figura de Jair Bolsonaro em seu governo, foi com autoritarismo, com a ideia de que precisamos exterminar o inimigo. Isso é notório em todos os tipos de mídias.
Entretanto, Bolsonaro chegou ao poder por meio de processos eleitorais. Para entender melhor essa expressão que Zema, nosso governador utilizou em sua palestra: “direita trabalhar unida” conforme falei acima, e que causou um reboliço entorno do ex-presidente, resolvi conversar com pessoas de estrato tanto de menor e maior renda, cuja conclusão foi uma realidade, forma de pensar diferente mesmo que tenham estado ao lado de Bolsonaro. Ficou nítido a separação entre os que pensam de forma que temos realmente de aniquilar os adversários como sendo isso uma forma natural e os que são da direita e aceitam que os adversários os ajudam a pensar melhor. Ao mesmo tempo me pareceu uma mistura de pensamentos em que mesmo tendo um perfil de classe média alta e menor estrato, não carregam consigo querer barrar os avanços sociais da democracia.
A extrema direita tem como raiz fundamental na forma como o capital enfrenta a sua crise estrutural, eliminando direitos, retomando as políticas que contêm a pobreza e essa causa o desespero e esse consequentemente produzido por meio da violência. O ressurgimento da extrema direita em outros tempos históricos utilizou de instrumentos diversos com a finalidade de produzir o ódio aos pobres, ao racismo, a ordem cultural contra as mulheres no mercado de trabalho, as greves, a construção das escolas e universidades públicas e por todos os movimentos que desejam maior igualdade. No entanto hoje vimos por meio das políticas de extrema direita do ex-presidente a história se repetir, vimos que as pautas do ex-presidente contra os direitos humanos, o ataque às disciplinas de filosofia, história, sociologia, que se espelhou na doutrina de um pensamento ultraconservador.
Perguntei às minhas entrevistadas e entrevistados o que acharam sobre o resultado das eleições, e indiferentemente da classe social que ocupam, alguns me responderam que o resultado não foi legítimo, e que não aceitam de forma alguma o presidente Lula subir a rampa do planalto por se tratar de um ladrão. E que não querem que os filhos ou filhas quando nascer não seja definido em sua certidão o sexo, e ainda pensar no comunismo, na invasão de suas propriedades é um pesadelo. Ainda perguntei sobre a questão de se ter um filho ou filha que tem por preferência se casar com a pessoa do mesmo sexo, a minoria me respondeu que não aceitariam de forma alguma e a maioria que jamais iria perder o filho ou filha por causa desse fato. E sobre a mulher no trabalho todos responderam que “claro que sim, pois a mulher deve ganhar o mesmo que o homem ganha”. A questão do aborto me trouxe uma surpresa, pois para aqueles de estrato superior aceitam a descriminalização do aborto de forma mais natural do que os que possuem menor renda. Mas preciso esclarecer aqui que descriminalização do aborto já é realidade em nosso Brasil, em alguns casos. Vejam o nosso Código Penal. Não aprofundarei nessa questão pois não é o nosso tema de hoje, mas sou totalmente contra a qualquer tipo de descriminalização. E para finalizar, sobre a questão da educação, apenas uma pessoa me disse que não vê problemas se o filho for alfabetizado sem frequentar a escola.
O importante é destacar que existe um pouco de confusão em pensamentos, pois parece que a sociedade de hoje não entende bem o que é ser extrema direita, ultra- conservador e ser da direita. No entanto obtive pequenas conclusões sobre o que unifica esses grupos em torno da liderança de Bolsonaro?
Para mim o que ficou de forma expressa foi o antipetismo. O medo do comunismo no Brasil Contemporâneo. As variações da forma de pensar estão presentes no Bolsonarismo, mas encontraram em Bolsonaro o rigor que ele produz em suas falas e ações contra os processos de uma politização progressista da diferença entre gênero, sexualidade, educação pública seja nas escolas ou universidades como se fosse possível calar a democracia. A sociedade parece que foi arrastada por supostamente atos heroicos do ex-presidente, agitação e propaganda que constroem uma alternativa falsa entorno de uma realidade também falsa dedicada à violência, a eliminação dos adversários, como se vivessem sem pecados. E quem não os têm?
Efeitos de ordem moral parecem ainda perdurar na base social bolsonarista apesar de que as mídias apontam para falhas que podem ser consideradas imorais, antiética do ex-presidente. Ao mesmo tempo por meio das respostas que me foram dadas não querem legitimar uma ruptura democrática no Brasil pois acreditam na educação como o futuro de nosso país. Acreditam nas escolas, nas universidades, na mulher que vai para o mercado de trabalho e, além disso, pensam que os filhos e filhas devem ter um pensamento crítico ao seu entorno.
Segundo o site Uol, Bolsonaro falou por vídeo-chamada ao CPAC, esse evento conservador que ocorreu em Belo Horizonte, conforme citei acima que “a direita está unida, mas que precisa acertar um “Norte”, e conclamou militantes a disputarem cargos em prefeituras e câmaras municipais”.
Será que esse “Norte” é o que o nosso governador Zema estava se referindo e foi criticado pela extrema direita é o ponto chave para que a direita tenha um nome forte para a disputa presidencial para o ano de 2026?
“A direita precisa estar unida e as rusgas eliminadas e haja um trabalho mais colaborativo” é isso que o nosso governador pensa, e vocês acham que ele está errado?
Sabemos que quando utilizamos o termo uma andorinha não faz verão, ressalto que Zema não utilizou essa expressão, mas por outro lado entender a sua prática para alguma situação o ditado tem seu valor. A verdade é que utilizando poucos recursos quando na verdade seria necessária uma multiplicação desses recursos, vale a pena levarmos em conta a fala de nosso governador.
Penso que devemos andar em bando sim, respeitando as opiniões contrárias e com humildade assumir a responsabilidade de resolver os pequenos e grandes problemas.