Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais
Pesquisadora CNPQ
Na maioria dos países ocidentais, o Dia dos Finados, é celebrado em 02 de novembro. Data esta, que nos faz relembrar a memória dos mortos, e assim rezar para as almas. De acordo com a doutrina da Igreja Católica, a alma da maioria das pessoas se encontra no Purgatório passando por um processo de purificação. Nesse contexto, a oração dos vivos é de grande valia para que possamos interceder a Deus pelo sofrimento que as aflige. Desde a época do Cristianismo primitivo, que se desenvolveu sob as ruínas do Império Romano, é que os cristãos rezavam pelos seus mortos, em especial pelos mártires, enterrados nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma. O costume de rezar pelos mortos foi sendo introduzido paulatinamente na liturgia da Igreja Católica. Mesmo com a secularização e laicização milhões de pessoas se dirigem ao cemitério para rezar pelos mortos.
Depois que me mudei para o Rio de Janeiro, senti o chamado de Deus para fazer parte do Ministério Extraordinário da Consolação e da Esperança, o mais antigo do nosso país. O referido Ministério nasceu como Pastoral da Esperança (ou das Exéquias) por iniciativa do cardeal dom Eugênio Sales.
Necessitei fazer um curso e após a conclusão deste, recebi a investidura. Esta sinaliza que estou apta a fazer parte do Ministério. Após receber a investidura pude fazer a encomendação dos corpos. O cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, conta com várias salas, que são denominadas de capelas, onde os corpos são velados. Como vivemos em um país laico, a primeira coisa a fazer, quando entrar na capela é perguntar se a família aceita a nossa oração. Caso a resposta seja positiva, rezaremos pela alma do falecido como também para a família enlutada, e por aqueles que sofrem pela ausência da pessoa falecida. Essa oração se fundamenta na certeza de que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Através de Jesus chegaremos ao Pai, exaltamos assim, a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como Deus ressuscitou seu filho Jesus Cristo, que Deus também nos conceda a salvação! Uma vez uma pessoa me fez a seguinte pergunta: Se esse morto foi um traficante, uma pessoa do mal, porque eu haveria de rezar por ele? Respondi que não conheço os desígnios de Deus, mas sei que a misericórdia de Deus é infinita.
Uma vez por mês, tenho esse dever de ir ao cemitério. Confesso para vocês, que somente com a graça do Espírito Santo é que consigo fazer este trabalho. É na fraqueza do homem que Deus se faz presente.
Se fizermos uma reflexão da morte, no tempo histórico, nos confrontaremos com visões contraditórias dos filósofos, pois são variáveis com a realidade cultural.
Afirmou La Rochefoucauld no século XVII, “Não se pode, olhar de frente nem o Sol e nem a Morte. Olhar o sol ofusca a vista, encarar a morte perturba a vida”. Por outro lado, preocupar-se em morrer, julgava Platão na Grécia do século IV a.C., “era uma boa via para se filosofar”.
O cristianismo introduziu a noção de sacralidade da vida. A Bíblia Sagrada conta que as mulheres se dirigiram ao sepulcro, levando bálsamos para o corpo de Jesus. Ao chegar lá, foram surpreendidas porque nada encontraram. O sepulcro estava vazio, Cristo ressuscitou! A religião transforma a forma de ver a morte: “Deixem os mortos enterrarem os mortos, que se esqueça a morte e se viva a vida, pois o que se chama de morte, nada mais é do que uma passagem para se alcançar a verdadeira vida”. Que Deus seja louvado!