Em tempos de eleições as atenções se voltam para a disputa eleitoral e para o ranking entre os candidatos nos estados e cidades. As informações que são apresentadas ao eleitor são variadas, vindas principalmente das mídias televisiva e impressa. O volume é imenso, mas selecionar e sintetizá-las são tarefas complicadas para o público, difícil mesmo. São milhões de eleitores que, distribuídos em 26 estados mais o Distrito Federal, votam utilizando a urna eletrônica que tem se mostrado um método eficiente e, principalmente, muito ágil, sobretudo no cômputo final. Na busca por uma análise da conjuntura espacial do eleitorado brasileiro, como a geografia pode contribuir nesse trabalho?
Poucas horas após o fim da votação, temos o resultado das urnas e, assim, se inicia uma nova etapa: saber quantos e onde cada candidato obteve seus votos. Começa a organização e comparação dos dados entre os candidatos, efetivam-se cálculos, definem-se porcentagens e se chega, enfim, aos resultados. Existem variadas maneiras de se organizar e divulgar essas informações ao eleitorado. Uma efetiva e eficiente forma de análise para um grande volume de dados e que se estende a uma grande quantidade de aplicações é a utilização do SIG.
Esta sigla em língua portuguesa – Sistemas de Informação Geográfica – é derivada do termo original em inglês GIS (Geographic Information System), entendido como o conjunto de ferramentas computacionais composto de equipamentos e programas que, por meio de técnicas, integra dados (das mais diversas fontes), pessoas e instituições. Pelo SIG é possível a coleta, o armazenamento, a análise e a disponibilização, a partir de dados georreferenciados, de informações produzidas por meio de aplicações, visando à maior facilidade, segurança e agilidade nas atividades humanas referentes ao monitoramento, planejamento e tomada de decisões relativas ao espaço geográfico.
Dessa forma, pode-se entender que a informação é o coração de um SIG. Contudo, ele não é só o conjunto de informações de um Atlas e nem um sistema de informações espaciais estáticas, mas é também composto pelos sistemas computacionais e de localização que lhe dão a interatividade e a multitemporalidade da informação. Por isso, quanto mais completo for o banco de dados armazenado pelas técnicas de geoprocessamento, melhor e maior será a possibilidade de aproximação do modelo conceitual criado para o mundo real que tentamos representar. Bem, é preciso esclarecer que SIG e geoprocessamento são tecnologias diferentes, mas complementares.
O geoprocessamento é um conjunto de tecnologias, de coleta, tratamento e apresentação de informações espaciais voltado para um objetivo específico. As áreas do conhecimento que se servem dessa tecnologia têm, em comum, o interesse por objetos e/ou fenômenos de expressão espacial, sua localização ou distribuição, ou ainda a distribuição espacial de seus atributos (RODRIGUES, 1990). As técnicas do geoprocessamento contribuem com a modelagem do que será representado, elas são uma etapa importante na construção dos modelos, no entanto, a manipulação, organização e a atualização das informações são realizadas por um SIG.
Assim, de forma geral, a coleção de dados guardada pelas técnicas do geoprocessamento é uma parte do sistema de informação, “enquanto que o sistema de informação é um arranjo de entidades que propicia relação entre eles e relação entre o sistema e seu ambiente” (SEGANTINE, 2001, p.12).
Voltando para as eleições, como os meios de comunicação se utilizam dessas tecnologias para informar e apresentar os resultados do processo eleitoral? Qual é a vantagem para os telespectadores e usuários da NET? Nas eleições para presidente, governadores e deputados de 2014, a imprensa utilizou largamente essas tecnologias para análises e comentários sobre a atuação dos candidatos e seus partidos. O jornal O Globo apresentou, de forma didática, o mapa do voto no país, inclusive comparando a atuação dos candidatos com a de pleitos passados exibindo sua trajetória eleitoral (http://apuracao.g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/1-turno/governador/minas-gerais.html).
No entanto, como isso é feito? No SIG as informações são integradas a uma base de dados cartográficos e apresentadas ao eleitor por intermédio de mapas. Estes devem ser elaborados de acordo com as técnicas e metodologias de representação cartográfica, relacionadas à semiologia gráfica, que proporcionam uma correta percepção das informações de forma lógica e de fácil compreensão.
Os mapas da performance dos candidatos no 1º turno, que foram apresentados em monitores de computadores, forneceram informações detalhadas de seus aspectos, tais como: a distribuição dos votos em cada município, estado e no país; distribuição por zonas eleitorais e por região. Enfim, a principal ideia é facilitar a informação e a sintetização dos dados por meio da visualização e da espacialização dos resultados.
No mapa ao lado, fica claro como esse recurso facilita o entendimento dos eleitores na distribuição dos votos dos três candidatos mais votados no país, e a geografia tem importante papel na elaboração e análise dessa realidade.
Um geógrafo, especialista em tratamento da informação espacial, está preparado para produzir conhecimento científico e suas representações cartográficas. Portanto, torna-se importante compreender que as geotecnologias são elementos importantes na análise espacial, mas a interpretação do mundo vivido é complexa e necessita de abordagens plurais.
O processo de entendimento da espacialização geográfica de qualquer fenômeno, como no caso presente das eleições, vai muito além da produção de mapas coloridos, uma vez que ser geógrafo significa ir bem mais longe do que confeccionar e analisar tais documentos, já que tal profissional se apropria dos dados que lhes são apresentados, potencializando-os no tratamento das informações. Ser geógrafo é antes de tudo enfrentar as limitações têmporo-espaciais impostas, pois todo pesquisador em geografia sabe que dados
geram informação e esta, por sua vez, converte-se em conhecimento.
Por fim, atuando nas interfaces do conhecimento, tem-se maior chance de sucesso na compreensão do processo eleitoral, logo é preciso compartilhar informações político-geográficas, o que o mapa dos resultados das eleições faz com muita propriedade, ampliando assim, a visão geral sobre como vota o eleitor brasileiro.
* Karina Brasil Pires Coelho é professora do Centro Universitário de Caratinga – UNEC, Graduada em História – FUNEC, Pós-graduada em Geografia Física – UFMG, Mestre em Geografia e Análise Ambiental – UFMG e Doutora em Geografia – Tratamento da Informação Espacial – PucMinas.
Mais informações sobre a autora em http://lattes.cnpq.br/0437311373321693