Virou hábito, parece fazer parte do calendário da cidade os munícipes contemplarem, anualmente, as labaredas que dilaceram as entranhas da Pedra Itaúna. Em meio ao fogo, nasce uma inquietação: até quando? Até quando as queimadas, insistentemente, farão parte do cenário de horrores que impactam o nosso olhar? Até quando, a insignificância das nossas atitudes permitirá que isto continue acontecendo? Até quando…
Em meio ao fogo a Pedra Itaúna chora mais uma vez. Lágrimas do espanto, lágrimas de verem ninhos, pássaros, animais, flores, árvores… se carbonizarem. Lágrimas de um cartão postal que não é tratado como tal. Lágrimas impotentes, que não conseguem ao menos comoverem o público que assiste a tudo com olhares assustados, mas que ao acordar no outro dia finge que nada aconteceu e a vida segue seu ritmo.
Todo ano é a mesma história, mas sempre com uma desculpa diferente. E de desculpa em desculpa, o verde vira cinza, a vida vira morte, a beleza vira destruição e a cidade torna-se um pouquinho mais desumana, pois vai vagarosamente se acostumando com o desleixo, com o pouco caso com que o meio ambiente é tratado.
O meio ambiente está gritando por socorro e continuamos fingindo que não estamos ouvindo. Lamuriamos demais e agimos de menos. Ainda não entendemos que nossa qualidade de vida está ligada diretamente a um ambiente equilibrado, saudável e que se renova naturalmente, possibilitando assim as condições necessárias para a nossa própria existência.
Infelizmente, até o dia que o meio ambiente for tratado com descaso, de forma irresponsável por aqueles que deveriam cuidar e zelar pela sua preservação, veremos estas cenas se repetirem. Mas a cada vez que se repete algo se perde, não só no espaço queimado, mas na alma que se petrifica.
Enfim, a Pedra Itaúna, um dos nossos cartões postais, e que deveria ser protegida, pois é considerada uma APA (Área de Proteção Ambiental), está sendo abandonada por praticamente todos nós. Alguns por negligência e a grande parte por omissão. Os poucos que gritam, infelizmente, suas vozes ecoam no vácuo do desprezo da maioria.
A Pedra Itaúna está precisando de nós, da nossa atenção, do nosso cuidado! Se realmente queremos dias melhores, sem seca, sem lamúrias, devemos cuidar das nossas matas e permitir que áreas que deveriam ter matas, as tenham, que é o caso da APA Pedra Itaúna. Não dá mais para permitir, impunemente, ano após anos, assistir sua destruição. Algo precisa ser feito, medidas precisam ser tomadas.
É necessário cuidar, torna-se urgente executar medidas que de fato protejam um dos nossos símbolos. E não há outro caminho, é preciso fazer doer no bolso de quem comete tais crimes, pois só assim o brasileiro reage.
Precisamos urgentemente acreditar que todos nós somos um pouquinho do meio ambiente, e que o seu fim é o nosso fim, como da mesma maneira um ambiente saudável nada mais é do que o reflexo de um povo de mente saudável e educado, que valoriza a si e ao outro e que acima de tudo acredita que a vida precisa continuar.
Quando a Pedra Itaúna chora, as maiores lágrimas deveriam brotar em nós, na nossa consciência.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.