Walber Gonçalves de Souza
Último ano do segundo milênio, líderes de 164 nações reuniram-se na famosa cidade de Dakar, no Senegal, para mais um encontro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). E o resultado deste encontro foi a criação de seis metas, que deveriam ser cumpridas pelos países participantes até 2015. Todas elas diretamente ligadas à educação.
As metas estabelecidas no encontro, pela Cúpula Mundial da Educação da ONU são as seguintes: Meta 1: ligada à primeira infância, propõe expandir a educação e os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis; Meta 2: universalizar a educação primária, particularmente para meninas, minorias étnicas e crianças marginalizadas; Meta 3: destinada aos jovens e adultos tem como objetivo garantir acesso igualitário de jovens e adultos à aprendizagem e a habilidades para a vida; Meta 4: proporcionar uma redução de 50% nos níveis de analfabetismo de adultos; Meta 5: alcançar a paridade e a igualdade de gênero; Meta 6: melhorar a qualidade de educação e garantir resultados mensuráveis de aprendizagem para todos.
Os anos se passaram e 2015 está aí sendo vivido por todos nós. Ano em que as metas deveriam ter sido alcançadas pelos países envolvidos. Assim, no último dia 08 de abril, a Unesco divulgou o relatório analisando o cumprimento ou não das tais metas pelos participantes.
De acordo com o documento, vamos ver como ficou a situação do Brasil, a “pátria educadora”. Das seis metas propostas, nossa nação alcançou duas, que são: meta 2, que trata da educação primária e meta 5, que tem por objetivo dar tratamento igual para meninas e meninos na educação. As outras quatro não foram alcançadas, deixando assim de serem cumpridas.
Como não poderia deixar de ser, principalmente porque os dados apresentados não são favoráveis, o Ministério da Educação contestou as informações do relatório. O referido ministério, analisando, segundo sua ótica, e não poderia ser diferente, contradiz as argumentações feita pela Unesco.
Mas de fato o que estes dados apresentam? Que lições podemos tirar desde cenário descrito pela Unesco? Uma resposta, bem simplória, que podemos dar é que, temos que melhor, avançar, mas avançar mesmo, se quisermos ser o mencionado slogan da atual gestora pública, que é “Brasil: Pátria Educadora”.
Sabemos que as metas propostas não são problemas somente do Brasil, mas sim de boa parte do mundo. Justamente por isso, viraram metas que deveriam ser perseguidas e atingidas. O Brasil alcançou poucas metas. Qual seria a melhor justificativa para tal feito? Falta de interesse da população? Políticas públicas ineficazes? O nosso modelo de desenvolvimento social não condiz com nossa realidade? O que aconteceu para não atingirmos boa parte ou a totalidade, que deveria ter acontecido, dos objetivos propostos pela Unesco? Objetivos que em 2000 foram aceitos e ratificados pelo Brasil.
São perguntas, que parecem ficar no vácuo das argumentações. Mas que, infelizmente, representam um quadro social, em que a educação de fato, não é prioridade em nosso país. São 515 anos de descaso, sendo deixada de lado, ou tratada como forma de fazer politicagem, a exemplo do que acontece em vários outros setores, como saúde, cultura, economia…
A existência das metas e o seu não cumprimento é a perpetuação de um cenário de desequilíbrio social. Onde a violência, a fome, o jeitinho, a brutalidade, a aversão à meritocracia… reinam sem ser incomodadas. Sendo um “prato cheio” para políticos e suas políticas torpes, mesquinhas, populistas…
Quando preferimos não enxergar a realidade, acabamos aceitando como verdade uma situação que de fato não condiz com o que está acontecendo. Ao rebater o relatório da Unesco, o Ministério da Educação prefere mentir para si mesmo e como os sofistas criar argumentos que tentam mostrar aquilo que não existe. E quem mente para si mesmo, não encara a realidade, sendo a primeira forma de fugir do problema e por consequência não resolvê-lo.
O slogan Pátria Educadora só se tornará uma realidade quando a Pátria acreditar e der o devido valor à educação. E as metas continuam…
Walber Gonçalves de Souza é professor.