(Noé Neto)
Sempre que somos convidados a comparecer a uma festa vivemos momentos de ansiedade e tais momentos variam de acordo com a importância do evento. Participar de uma festa implica escolher uma roupa adequada para a ocasião, preparar um calçado que se adeque à roupa, em alguns casos preparar maquiagem, cabelo, etc. Enfim, é importante que os convidados se vistam e se comportem conforme pede a ocasião. Não se vai a um luau de terno, como não se deve ir a um júri de regata.
Quando o evento é em nossa casa os preparativos são ainda mais intensos. De acordo com a festividade e com a situação em que a casa se encontra, devemos ter um tratamento que não decepcione aos convidados. Às vezes é preciso pintar a casa, em outras precisamos apenas de um belo vaso de flores e um bom vinho; mas toda ocasião festiva requer um cuidado diferente. O que é mesmo imprescindível, é que em qualquer ocasião a casa esteja limpa, impecável.
Por favor, não entenda que eu estou dizendo que a casa deve ser limpa apenas para ocasiões especiais, claro que não! O que gostaria de deixar claro é que em dias de festas os pequenos detalhes ressaltam e por isso temos que ter um cuidado especial para que nosso convidado saia encantado e nós fiquemos realizados. Não adianta ter os melhores convidados, a mais saborosa comida e a melhor música tocando, se o ambiente não for agradável aos olhos.
Nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, o que estamos vendo é um anfitrião que se propõe a fazer uma grande festa, mas se esqueceu de que a casa não estava preparada para receber os convidados e que não havia tempo suficiente para a reforma, até porque é uma reforma complexa, não é só passar a cal nas paredes. A noiva, por mais lindo que seja seu vestido, não conseguirá disfarçar uma cicatriz que há anos carrega no rosto.
Ao longo dessa semana assistimos nas redes sociais longos debates sobre os painéis (ou tampões, entenda como quiser), colocados ao longo da linha vermelha, principal corredor de acesso do aeroporto internacional Tom Jobim para os locais dos jogos na cidade, encobrindo o complexo de Favelas da Maré. Por um lado o secretário de turismo afirma que a intenção não é esconder as favelas, por outro lado vários críticos afirmam que é essa sim a intenção. Se é ou não, não entrarei no mérito, mas certo é que não cabe debaixo do tapete da sala a sujeira acumulada por 500 anos.
A casa não está preparada para receber os convidados, tenho convicção ao dizer isso, pois nem quem nela habita vive com qualidade. A saúde pública é sucateada, no Rio, pelo que vemos e lemos nos veículos de comunicação é pior ainda. O transporte público é de péssima qualidade. E a violência… é desnecessário comentar.
Que o Rio é um belíssimo palácio encantado, ninguém discute. Que seus moradores são pessoas do bem, acolhedoras e dignas, também é indiscutível. O problema é que esse palácio, por falta de cuidados, vem perdendo seu encanto há décadas. Então, mesmo torcendo para que a festa seja linda, para que os convidados saiam satisfeitos e que ao final o anfitrião tenha a sensação de dever cumprido, não posso tapar o sol com peneira e dizer que estamos preparados, pois não estamos!
Enfim, com a festa pronta, não vamos abandonar a noiva no altar. E desejo profundamente que da lista de presentes venham muitos ouros. Não só em forma de medalhas, mas principalmente em saúde, educação, segurança e qualidade de vida, pois povo doente e com fome (de comida, de segurança, de educação) não tem o que festejar.