Há 50 anos, Josemar Fialho leva informação à Caratinga
CARATINGA – Com os avanços tecnológicos, o ano de 1972 parece uma galáxia distante. Naquela época não tinha internet, TV à Cabo e nem celular. A informação custava a chegar. Afinal televisão ainda era para poucos. Boa parte da população se servia do rádio e dos jornais para saber do noticiário. E foi nesse cenário, na praça Getúlio Vargas, que Josemar Fialho começou sua carreira de jornaleiro. “Já havia trabalhado como borracheiro e pedreiro. Meu pai tinha essa banca e passei a trabalhar com ele. Tomei gosto pela coisa e aqui estou há 50 anos”, conta Josemar, hoje no auge dos seus 77 anos. Ele acrescenta que após comprar revistas e jornais, seus clientes se sentavam nos bancos da praça Getúlio Vargas e ali a leitura fluía.
Para Josemar, sua banca se tornou uma extensão de sua casa. “Minha banca sempre foi lugar de paz. O pessoal discute de forma sadia coisas como futebol e política. Posso dizer que nestas cinco décadas nessa profissão, fiz muitos amigos. Isso que é o importante na vida. Sou feliz por isso, afinal sou um homem sem inimigos”, faz questão de frisar o jornaleiro, que é casado e pai de uma filha.
Josemar Fialho relembra que até 1988 o seu trabalho deu boa remuneração. Depois, as coisas foram mudando. “Hoje nem se fala. Dá mal pra pagar as contas. Mas houve uma época que dava um bom dinheiro. Tenho casa e carro graças a essa banca. Mas também não reclamo da sorte, pois sou feliz com o que tenho. Não me imagino em outra profissão”, comenta soltando um riso tímido, porém de contentamento.
Dentre as publicações que marcaram a trajetória de Josemar está a revista de esportes Placar. “Nossa, o pessoal procurava demais a Placar. Tinha que deixar reservada. Ainda mais quando era edição com pôster de algum time campeão. Era uma procura danada. Hoje parece que perdeu a graça né, as pessoas recebem as notícias pelo celular, baixam fotos pela internet. Tudo na hora mesmo”, comenta, se referindo ao imediatismo dos dias atuais.
Ele também se ressente com a falta de circulação dos jornais. “Já vi muito jornal nascer e morrer em Caratinga. Sem falar nos jornais de renome nacional ou estadual. O Globo e o Estado de Minas eram muito procurados. Tinha até fila para comprar. Mas como disse anteriormente, agora tudo mudou”.
Sobre alguma publicação predileta, Josemar diz não ter, mas frisa que lê o DIÁRIO assim que ele chega em sua banca. “Se a manchete é boa, leio na hora. Gosto de me manter informado. Uma coisa que a banca me deu foi opinião, embora costumo guardar pra mim o que penso (risos). Sou reservado nesse ponto. Também penso que quem trabalha diretamente com o público tem que ouvir mais do que falar”, ensina.
Sobre o DIÁRIO, ele relata que o jornal sempre foi muito vendido. “Chegava e se esgotava rapidamente, mas hoje tem a concorrência da internet. As notícias estão todas lá, mas o jornal ainda tem saída e quando tem o balanço das eleições a venda é muito grande”.
Uma das coisas que Josemar mais acha graça em sua profissão é o fato de alguns confundirem jornaleiro com jornalista. “Tem gente que chega perguntando sobre tal fato. Só vendo os jornais, não escrevo a notícia”, brinca.
Hoje Josemar diz que quando tem algum concurso a procura por apostilas é muito grande. Tem ainda pessoas que procuram palavras-cruzadas como forma de ocupar a mente.
Sobre o futuro de sua profissão, Josemar acredita que sempre haverá uma banca de jornais. “Não importa o quanto evolua a tecnologia. Num lugarzinho vai ter uma banquinha. Sempre haverá alguém que vai comprar uma revista, um jornal. Isso nunca vai acabar”.
E essas palavras de Josemar parecem refletir sua trajetória. Afinal, em 1972 na praça Getúlio Vargas havia a sede do fórum de justiça, a MinasCaixa e um cinema. Hoje, a paisagem é outra. O fórum se mudou para o bairro Santa Zita, a MinasCaixa nem mais existe e o prédio do cinema foi derrubado, depois reformado, mas não abriga atualmente nenhum evento. Mas algumas coisas não mudam e lá estão a mesma praça, o mesmo banco e o mesmo jornaleiro.
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Com essa matéria o DIÁRIO também homenageia outros donos de banca, caso de Edson, Jorge, Ronaldo e Roni. Afinal eles são responsáveis diretos pela longevidade deste periódico.
Matéria publicada originalmente na revista Conceito, mas elaborada pela equipe do DIÁRIO. Texto foi devidamente atualizado para essa edição.
- Josemar fala sobre os seus cinquenta anos de profissão (foto: Arquivo)