Eugênio Maria Gomes
Nada pode ser pior, para essa maravilha da criação que é o ser humano, do que ser medíocre!
Aristóteles dizia que o homem poderia ser sábio, medíocre e cretino! Entendida em termos, a frase bem representa a ideia da palavra medíocre: o que está no meio; o que nada acrescenta; o que é vulgar, sem qualidades, sem “sal”. O homem medíocre, diferentemente do virtuoso – que domina a temperança e que se coloca sempre com posições equilibradas -, se comporta de forma anônima, repetitiva. Não é mau, não é bom… Não é nada!
No trabalho, normalmente, é bajulador. Esconde sua mediocridade, sua falta de atitude, sua falta de preparo intelectual, sua falta de iniciativa e seu despreparo técnico, bajulando as chefias, apelando para o reconhecimento sentimental e não profissional.
No dia a dia, é rotineiro. Faz sempre as mesmas coisas, repete, sistematicamente, as mesmas roupas (mesmo tendo um guarda-roupa cheio delas), cita as mesmas frases, quase sempre clichês, que ouviu de outros. Quando se arrisca a opinar verdadeiramente sobre alguma coisa, é vago, pois lhe falta substrato. Na verdade, falta-lhe opinião.
Na política, quase sempre é de Centro. Pode haver coisa pior do que ser de centro? O que é ser de “centro”? Ser de “centro” nem sempre é ser moderado, mas sim, não ter posição. É viver em um movimento pendular, ora prá cá, ora pra lá… Que coisa triste!
Nos relacionamentos pessoais, é apático. É capaz de permanecer em um relacionamento falido e acabado, apenas por medo de arriscar-se num novo. Sofre calado, pois não é capaz de inovar, de dar vazão às suas vontades, aos seus delírios, às suas fantasias de amor, vencido pelo medo.
Nas amizades, costuma ter centenas de amigos e, no face e no zap, desconhece a maior parte daqueles que compõem a sua lista… Confunde quantidade com qualidade. Aliás, nada mais prático para um medíocre do que esses novos instrumentos de comunicação, através dos quais ele pode expressar seus sentimentos com as famosas “carinhas”, os emoticons… Estou triste, uma carinha de triste! Estou alegre, uma carinha feliz… As frases são curtas, pois não tem substrato. O “compartilhamento”, sem critérios, de fotos, pensamentos, comentários, poupa o cérebro de pensar, de criar, de viajar… Para que pensar, se posso simplesmente reproduzir algo que está pronto, mesmo sem o cuidado necessário da observação de seu conteúdo?
Seus gostos musicais são sempre pobres. Aprecia a música comercial, sem letra complexa, sem arranjos elaborados, com aqueles velhos refrãos, chatos, sem criatividade… Música erudita? Nem pensar. É “chata”. Sim, claro, seu cérebro medíocre não consegue perceber a riqueza das notas, nem deixar-se levar pela harmonia… É claro que existem os mais diversos gostos musicais, mas, gostar apenas do que é ruim é, sim, um traço peculiar da mediocridade.
Uma das marcas mais significantes de um ser medíocre é que ele normalmente faz o que pedem. Exatamente como pediram. Não faz o que precisa ou deve ser feito. Faz o que pedem, simplesmente. Nada mais, nada menos. Não procura melhorar, elaborar, aprimorar a tarefa. Se duvidar, ao digitar um texto, reproduz os mesmos erros do autor, apenas pelo medo de desagradá-lo. Não se posiciona, não diz “isto está errado” ou, então “isso ficaria melhor ali, não acha?”
Normalmente, o medíocre é um imitador. Procura imitar os outros. Imita-lhes as maneiras, os trejeitos, as opiniões, os gostos, as frases ditas… Pensa que se os outros fazem, é porque deve ser certo… Se o outro for seu chefe então… Nossa, aí que ele imita mesmo… Os chefes normalmente reconhecem o medíocre e, dele, se utilizam muito bem para seus propósitos, pois sabem que ele nunca vai lhes fazer concorrência.
O medíocre, no entanto, quando é chefe, tem medo daqueles que são criativos, inovadores, empreendedores, queridos, polêmicos. Teme aqueles que têm opinião, que não se dobram ao comando arbitrário, que discutem, que opinam… Nada pior para um chefe medíocre do que um subordinado autêntico, carismático, competente. Esse se torna um perigo, um possível competidor.
O medíocre tem sempre o mesmo comportamento, a mesma atitude. É totalmente previsível. Pode ser encontrado em todos os ambientes, mas, quando é oriundo das periferias, dos rincões e dos subúrbios, jamais é abandonado por esses lugares e por tudo de pejorativo que eles podem significar.
O Medíocre é, no fundo, um covarde. Seu medo de errar, de se expor, de arriscar o impede de desfrutar os melhores prazeres da vida. Normalmente é invejoso e é um expert em torcer contra o sucesso dos outros ou em colocar defeito no trabalho alheio.
Passar uma vida medíocre, não deixar uma marca registrada para a posteridade, é uma das piores coisas que pode nos acontecer. Quem se lembra das mocinhas das novelas? Com exceção da eterna escrava Isaura, normalmente nos lembramos das vilãs. Odette Roitmam, Bia Falcão, Carminha. Não porque sejam más ou cruéis. Lembramo-nos delas porque elas eram autênticas! Autenticamente más, mas ainda assim, autênticas, com personalidade.
Mas, antes que você comece a se preocupar, a me xingar ou a se achar medíocre porque usa sempre a mesma roupa, mora em um subúrbio, está numa fase da vida em que busca tranquilidade, aprecia uma “country music”, ou não vive sem o seu zap zap, lembre-se que o que descrevemos acima, são apenas sinais da mediocridade. Todos nós os temos, em menor ou maior escala. Porém, nada, isoladamente, é determinante. O conjunto de vários deles, sim. O importante é que você seja feliz e que seja lembrado pelos seus valores, pelas suas posições e pela sua honestidade.
Não seja medíocre. Não viva uma vida medíocre! Mude, se recicle, arrisque, crie, inove, apaixone-se a cada dia, ainda que seja pela mesma pessoa! Fuja, a cada dia, da síndrome de Gabriela (“Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim…”), e lembre-se: “só as pedras não mudam de lugar…”
Deixe sua marca, nessa maravilhosa jornada que é a Vida…
* Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da Unec. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do MAC, do Lions Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.