Comunidade terapêutica “Casa de Davi” acolhe e trabalha na recuperação de viciados, dentre eles um pastor
CARATINGA – Depois de receber o que chama de um “chamado de Deus”, o empresário do setor imobiliário e cafeicultor, Gustavo Rocha Gonçalves Sobreira, decidiu ajudar pessoas a ficarem livres do vício das drogas. Gustavo Sobreira é o presidente da Comunidade Terapêutica Casa de Davi, que fica no parque Bem-te-vi, na MG-425, na estrada de acesso a Entre Folhas.
Esta semana a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA esteve na comunidade terapêutica onde conversou com o presidente e com os chamados “acolhidos” que tentam se livrar do vício que os acorrentou por muitos anos a uma vida de amargura, de dor e perdas. São 22 acolhidos que estão recebendo ajuda e um tratamento espiritual depois de se afundarem na maconha, no crack e na cocaína.
COMO O TRABALHO COMEÇOU
O presidente Gustavo Sobreira, que não tem denominação religiosa e se intitula apenas como cristão, disse que certa vez ouviu uma voz que dizia “toma conta deles” e então começou a se questionar como faria isso e quem seriam “eles”. Entendendo que era um chamado de Deus, Gustavo decidiu fazer algo que poderia ajudar o próximo. Foi então que surgiu a Comunidade Terapêutica Casa de Davi, que pertence a Associação Bem Sustentável, também fundada pelo empresário.
Como já tinha o parque Bem –te –vi, Gustavo fez algumas parcerias, dentre elas com uma pastora, chamada Aline Cangussu da Comunidade Evangélica Casa de Davi, que ajuda pessoas que vivem nas ruas. “A pastora começou a trazer as pessoas pra cá e com isso Deus foi agindo”, disse Gustavo.
O FUNCIONAMENTO DA COMUNIDADE
A comunidade terapêutica Casa de Davi existe há cinco meses e o coordenador é Bruno Eduardo da Silveira, que já foi dependente químico e entrou na casa para se tratar, adquiriu a confiança do presidente e hoje também é funcionário.
Bruno conta que também chegou à Comunidade através da pastora Aline e depois procurou Gustavo. Ex-viciado em cocaína e crack, Bruno que é casado e tem um filho, trabalhava como motoboy e chegou a furtar dinheiro das entregas que fazia para manter o vício. “Usei drogas por cinco anos e há cinco meses estou limpo, o primeiro passo foi ter a vontade de me libertar, apesar de ter os momentos de euforia com as drogas, elas me fizeram muito mal, então decidi parar e Deus me abriu as portas”.
Segundo Bruno, o foco da Comunidade Casa de Davi é Jesus Cristo. Os acolhidos acordam cedo para fazer a higiene pessoal, depois vão para a tenda fazer orações, tomam café da manhã, arrumam as camas, participam de laborterapias, limpando a casa, cozinhando, cuidando da horta e diversas atividades.
Além dos cultos na tenda, os acolhidos também oram nos montes que ficam no parque e contam com a ajuda de pastores amigos para pregações.
Durante o tratamento, quando o acolhido passa por fortes crises de abstinências, são levados ao Pronto Atendimento Microrregional e caso necessitem de medicamentos, a Comunidade consegue através de doações. O tratamento dura nove meses e a Comunidade Terapêutica só atende a homens. No sexto mês, o acolhido pode visitar a família. Dos 22 acolhidos, apenas três conseguem contribuir financeiramente, o restante é mantido pela Comunidade Terapêutica. “No momento não temos mais vagas para pessoas que não podem pagar, pois os custos são muitos e vivemos de doações, caso exista algum dependente químico que queria se tratar, pois é preciso querer e que a família tenha condições de ajudar, o custo mensal é de R$ 800,00”, informou Bruno.
A Comunidade também dispõe de parcerias com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), onde os acolhidos fazem diversos cursos para quando saírem ter uma profissão e serem novamente inseridos ao mercado de trabalho.
A casa fica aberta ao público nos finais de semana, que podem participar dos cultos, pela manhã às 7h30 e a noite, Às 19h30.
Para ajudar o trabalho da Comunidade Terapêutica Casa de Davi, as pessoas podem fazer depósitos na agência da Sicoob Credccoper, na conta da Associação Bem Sustentável, através da conta corrente 14950-0, ou no ponto de recolhimento que fica na Rua Coronel Antônio da Silva, 25, ou ainda ligar para o 33-3321-6898 e falar com Viviane, Márcia ou Fernanda.
OS PRINCÍPIOS DA CASA DE DAVI
DEPOIMENTOS
PASTOR OSMAN
Osman Lopes de Oliveira, 41 anos, pastor, divorciado, pai de dois filhos, também está na Comunidade Terapêutica Casa de Davi. Osman é natural de Mendes Pimentel/MG, durante oito anos pastoreou igrejas Assembleias de Deus em Ipatinga e no Rio de Janeiro. O pastor Osman conta que em determinada época de sua vida precisou deixar o ministério e procurar um trabalho secular e foi então que se afundou nas drogas.
O pastor disse que foi trabalhar em São Paulo em uma obra elétrica industrial e começou usar cocaína com os colegas de serviço. Osman cheirou cocaína por sete anos, depois passou para o crack e há um ano e meio veio para Caratinga ainda dependente químico e chegou a morar nas ruas.
Sem rumo após voltar de São Paulo, pois em Ipatinga a vida de Osman estava complicada já que estava muito envolvido com as drogas, ele conta que resolveu vir para Caratinga, ficou três dias nas ruas, depois invadiu o local onde seria o posto Gentil, próximo ao terminal rodoviário Carlos Alberto de Matos. “Eu invadi mesmo onde seria o posto, limpei tudo, juntei as coisas que estavam espalhadas, o gerente apareceu e disse que eu poderia continuar ali, cuidando do local, onde morei por oito meses, depois apareceu o dono, o prefeito de Central de Minas e disse que me daria um serviço, o que não aconteceu”.
O pastor contou que sempre pedia nas ruas algo para comer, pois tinha apenas o lugar pra dormir, então certa vez foi a um supermercado da cidade com muita fome com intuito de pedir algo e foi retirado do estabelecimento pelo vigia que disse que ele estava furtando. “O vigia chamou a polícia e um militar disse que eu havia roubado um celular no Morro da Antena, ele me levou preso, queria que eu confessasse algo que não fiz, cheguei a subir para o presídio, onde passe uma noite, mas o gerente do posto pagou a fiança e consegui sair”.
Osman voltou a pedir comida nas ruas e certo dia encontrou com Gustavo Sobreira. O pastor disse que quando conseguia dinheiro usava drogas. O empresário o ajudou com alimento para crianças, pois Osman disse que era isso que estava precisando. “Inventei que precisava disso, fui ao Morro junto com o Gustavo levar para uma família qualquer, mas eles foram ingratos, não quiseram receber a ajuda e fui embora e o Gustavo também”.
Passado alguns dias, o pastor disse que encontrou uma pessoa da casa de recuperação Hebrom de Vargem Alegre, disse que o levaria para lá, mas não cumpriu a promessa e Osman continuou usando drogas. Depois disso, saiu do posto e foi morar no telhado da escola Polivalente, conseguiu um prato de comida levado por um aluno, mas a diretora ficou sabendo e chamou a polícia para que o retirasse da escola. Osman passou um dia no Monte Carmelo e depois foi embora. “Na rua encontrei uma aluna do Polivalente, ela já tinha me visto na escola e tinha prometido me ajudar, ela chamou a mãe que disse que eu era bom, pois não usava drogas perto dos alunos e ligou para a pastora Aline, que me trouxe pra cá”.
Há quatro meses o pastor Osman não usa drogas e ajuda os acolhidos com orações, mensagem bíblicas, além de fazer o seu tratamento.
Osman ainda não sabe se voltará para o ministério pastoral e afirma que quando acabar o tratamento, o que Deus lhe der, aceitará.
DHARLEM
Dharlem Robert do Couto, 20 anos, se considera um vencedor por conseguir ficar longe das drogas. Dharlem contou que aos com 11 anos conheceu maconha dentro de uma escola, em Caratinga. Aos 16 anos usava cocaína em festas, trabalhava para comprar, e abandonou estudos. “Trabalhava muito à noite, não via o dia e nem a vida passando”. Aos 17 anos, o jovem começou a usar crack e disse que no início conseguia controlar as vezes que fumava, mas depois ficou totalmente dependente da droga. “Aos 18 anos trabalhava com meu pai durante o dia, pedia dinheiro e comprava crack para usar à noite. Usava na rua e depois voltava pra casa”.
Dharlem ficou nesta vida por um ano e meio e depois foi para o Desafio Jovem em Dom Modesto, uma casa de recuperação, onde ficou apernas por 45 dias, saiu começou um relacionamento amoroso e teve uma recaída. Aos 19 anos, foi para uma clínica de reabilitação em Timóteo, onde fez o tratamento por nove meses, voltou para Caratinga, teve outra recaída, foi novamente para Dom Modesto, ficou três meses sem usar drogas, mas precisou sair para fazer uma cirurgia de apendicite e usou crack novamente.
Mas uma nova chance apareceu para o jovem, agora, aos 20 anos, que conheceu uma parenta de Gustavo Sobreira e decidiu voltar a fazer o tratamento na Comunidade Terapêutica Casa de Davi. “Estava fraco espiritualmente, qualquer coisa caía nas drogas, há três meses estou aqui, sou monitor, ajudo na casa, busco doações para a casa e aprendi a dar valor a vida”.
Dharlem voltou a sonhar e conta que tem vontade de fazer um curso teológico e ir morar em Recife, onde tem um pastor amigo de sua mãe, que prometeu lhe ajudar, ensinando a Bíblia. “Drogas nunca quis na minha vida, mas como minha mãe fala, tudo tem um porquê e se foi da vontade de Deus de tudo isso acontecer para que vidas sejam salvas para Jesus através do que vivi, tenho que continuar dando o testemunho”.
Um comentário
jose jeronimo dos reis
Preciso de internar minha irmã pois a mesma e alcoólatra .Ela tem 60 anos de idade