No dia 5 de novembro o rompimento da barragem de propriedade da Samarco em Mariana trouxe, como consequência, o maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil e um dos maiores da história da humanidade.
Desde o dia desta “ecocatástrofe”, como tem sido mostrado pelos meios de comunicação, inúmeras “barbaridades” tem sido provocadas pelos governantes e também pelas empresas proprietárias da Samarco. Este espaço é pequeno para que se possa mostrar tudo de errado que tem acontecido desde o dia desta tragédia.
A inoperância dos poderes constituídos (do Estado e da União), responsáveis pelo processo de licenciamento e fiscalização de barragens, aliados aos técnicos da empresa, que têm obrigações técnica-jurídica e, acima de tudo ética, de mostrar para a sociedade e, principalmente pelos atingidos, qual a constituição físico-química de todo o material que jorrou da barragem e os impactos que ele pode provocar na saúde humana e em todo os ecossistemas atingidos na bacia hidrográfica do rio Doce e, mais recentemente, no litoral capixaba? Isto não foi feito!
O ápice da incompetência deste festival de atrocidades foi o de colocar boias para conter material trazido pelas águas do rio Doce até ao mar, tentando diminuir os impactos ambientais negativos a serem provocados por este material. As boais colocadas são para conter principalmente óleos e borras de derrame de petróleo e não estes rejeitos de minério de ferro produzido pela Samarco. As imagens divulgadas pela televisão nos mostram o resultado de tanta incompetência! Este material pode atingir um raio de cerca de 10 km do estuário do Doce. E, o que é mais assustador: esta lama pode chegar até ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos, localizado no litoral sul da Bahia, o que constituir-se-ia em um desastre ainda maior!
No dia 25 de março a ONU (Organização das Nações Unidas) fez uma dura crítica ao governo brasileiro, a Vale e a mineradora anglo-australiana BHP pelo que considerou uma resposta “inaceitável” à tragédia acontecida em Mariana e suas consequências sócio-econômicas-ambientais. De acordo com a Organização houve a demora de três semanas para a divulgação de informações sobre os riscos gerados pelos bilhões de litros de lama vazados no Rio Doce pelo rompimento da barragem.
Ainda, conforme relatório da ONU, “as providências tomadas pelo governo brasileiro, a Vale e a BHP para prevenir danos foram claramente insuficientes. As empresas e o governo deveriam estar fazendo tudo que podem para prevenir mais problemas, o que inclui a exposição a metais pesados e substâncias tóxicas. Este não é o momento para posturas defensivas”, disseram os especialistas no comunicado.
Infelizmente a recuperação de todos os ecossistemas afetados será de longo prazo e seu sucesso dependerá de um plano de ação coeso, envolvendo vários atores que trabalhem num projeto factível, integrado, multidisciplinar, usando ao máximo todo o conhecimento que já está disponível visando o sucesso desta remediação.
Diante de tudo isso se deduz que a tragédia de Mariana constitui-se em mais um exemplo de negligência de empresas e de governantes de nosso País. É preciso que os culpados por este crime ambiental, dentro da legislação em vigor, sejam punidos exemplarmente para que coisas desta magnitude não mais aconteçam no Brasil. É preciso também que sejam protegidos os direitos humanos para todas as populações atingidas e afetadas nesse quadro desolador pós-desastre!