Os rios sempre tiveram um importante papel na história da humanidade. Não somente pelo fato do fornecimento de água, para o cultivo dos alimentos, higienização e ingestão, mas também, por servirem como uma forma de guia natural, pois suas margens possibilitam o tráfego de pessoas que podem se guiar pelo fluxo das águas. Afinal, seguindo as margens do rio, qualquer pessoa pode percorrer longas distâncias e voltar ao local do ponto de partida.
É obvio que o início do desbravamento, das mais diversas regiões do Brasil, não foi uma tarefa fácil, pois as margens dos rios eram formadas de matas nativas, geralmente florestas densas, cachoeiras, rochas, entre outros obstáculos naturais, todavia, não empecilho suficiente para impedir o deslocamento das pessoas.
Sabemos que o Brasil foi ocupado, levando em consideração o processo de colonização, primeiramente, pela sua faixa litorânea. Povoados, cidades, as primeiras formas de desmatamento e ocupação do território, ocorreram de forma significativa nas terras banhadas pelo Oceano Atlântico. Somente, tempos depois, com mais intensidade a partir do século XVII, através dos movimentos conhecidos como Entradas e Bandeiras, surgem expedições que desbravaram e ocuparam o interior do Brasil, que ainda estava em processo de colonização. Como curiosidade vale destacar que o interior, na época da colonização, era denominado sertão. Por isso, a expressão sertanejo em menção aos interioranos.
Portanto, com essa breve contextualização, percebemos que essas expedições, comumente seguiam os rios. E várias delas ocorreram na Bacia do Rio Doce, que nasce na Serra da Mantiqueira e tem sua foz no litoral norte do Espírito Santo. A primeira expedição realizada na Bacia do Rio Doce foi comandada por Fernandes Tourinho, ainda no século XVI, sua tropa avançou pelo Rio Doce até chegar às proximidades do lugar que se tornaria Ouro Preto. O detalhe que fez toda a diferença é que sua tropa não encontrou ouro no local, o que viria acontecer décadas depois através de outras expedições.
E a partir de Fernandes Tourinho, tantos outros desbravadores começaram a enveredar pela Bacia do Rio Doce. E de modo particular, Domingos Fernandes Lana é considerado, oficialmente, o primeiro desbravador a chegar, onde atualmente se localiza a cidade de Caratinga, pois seguiu as margens do Rio que recebe o mesmo nome e que é um dos afluentes do Rio Doce. Sua expedição, que a exemplo das demais, buscava riquezas naturais, não obteve, ao seu ver, o sucesso que deveria, a tropa por ele comandada encontrou uma planta medicinal, denominada poaia, que tinha um relativo valor comercial, mas não o suficiente para motivar uma fixação no local. Entretanto, foi o bastante para abrir caminhos para os demais que aqui chegaram e fixaram-se.
Percorrendo as margens dos rios que compõem a Bacia do Rio Doce nossa região foi sendo ocupada e transformada pelos novos habitantes, dando origem às mais diversas cidades que formam o Leste de Minas.
Assim, percebemos a importância geográfica e histórica da Bacia do Rio Doce para o processo de ocupação da região de Caratinga, tendo Domingos Lana como pioneiro e a partir dele tantos outros que povoaram nossa região construindo novas histórias.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.