O Coração do Líder
Qualquer tipo de movimento precisa pensar adiante – algo que responda à pergunta, Como este meu trabalho vai ter continuidade.
Contei no último relato que o fundador que estou acompanhando não tinha – no início – a felicidade de ter no seu único filho um admirador. Pelo contrário: desde cedo o moço demonstrou-se determinado a não seguir nos passos do seu pai, porque isso exigia muitos sacrifícios e, talvez, pior, por ter visto muita injustiça e incompreensão até da própria comunidade.
A verdade é que – infelizmente – dentro de nossas igrejas há pelo menos duas incongruências horríveis:
- Exercer sobre a esposa do líder e seus filhos pressão desumana para que sejam ‘perfeitos’;
- Ser o único “exército” conhecido que, ao invés de cuidar bem, de tratar com carinho, de fazer tudo para a ‘cura’ do general ferido, esse exército está sempre pronto e propenso a derrubá-lo, a liquidá-lo.
Pessoalmente tenho observado isso muitas vezes e sempre tentava entender – mas até hoje permanece um assunto em aberto, um daqueles “casos” não resolvidos.
A continuidade pode ser um problema, e Jesus foi muito sábio em chamar muito cedo um grupo de seguidores com quem compartilhava mais profundamente os segredos do seu trabalho com crescimento contínuo e com impressionantes resultados de transformação.
Estes líderes-em-treinamento iam se formando na medida em que acompanhavam o Mestre, e cada um foi sendo moldado segundo sua individualidade – Deus ama a diversidade de personalidades, pois, afinal, é tudo criação dele. Bem, não completamente: aí entra a parceria Criador-indivíduo, na qual cada um reage dentro de sua ‘liberdade’.
O filho de ‘nosso’ fundador estudou e chegou a ter uma carreira profissional de sucesso, alcançando uma posição que lhe garantia a estabilidade de emprego com a possibilidade de mais promoções, caminhando em direção à posição mais elevada de sua empresa.
Certo dia, porém, ele procurou seu pai, que sempre o tinha apoiado em tudo o que ele tinha decidido.
“- Pai, não aguento mais!”
“- O que foi, meu filho – que está acontecendo?”
O filho desabafou: “- Não aguento mais essa pressão dentro de mim. Sei que fui chamado para fazer o que o sr. faz – Deus me chamou também. Estou hoje aqui para lhe dizer que eu renuncio a tudo o que conquistei, e estou pronto para ir onde o sr. quiser que eu vá!”
O pai já tinha aprendido a lição: ele mesmo não estava planejando nada, muito menos para seu filho – contudo, Aquele que o tinha colocado nessa missão também iria colocar de seu lado todos os seguidores e continuadores da obra. O pai apenas confiava no seu Deus, o verdadeiro autor deste ministério-movimento de ir ao mundo levando a Jesus.
Pelos muitos diálogos com seu filho até então, o pai conhecia também as limitações dele e não fez plano algum. Esperava que o seu Senhor lhe dissesse como reagir à decisão do filho. Pois, por esse tempo, ele mesmo, juntamente com sua companheira de sempre, já tomara uma licença temporária de sua comunidade no Brasil para passar esse tempo em terra estranha, iniciando ali um trabalho da estaca zero, e conseguira – somente com a ajuda do Alto – um grupo de umas 20 pessoas, que começou a se reunir regularmente nos lares e no local alugado.
O fundador também nos revelou uma parte de sua estratégia que ele tinha testado nessa primeira “investida missionária”: Ao viajar em missão, ele não visitaria nenhuma igreja, mas estaria “cumprindo sua missão” no seu contato normal e diário, no posto de gasolina, no mercado, na farmácia, em lojas, em todos os encontros casuais, etc.; o outro lado da estratégia seria de NUNCA deixar de apresentar o seu Senhor Jesus de forma clara e, sobretudo, através de atitudes, e ações.
Assim, no caso de deparar-se com algum mal-entendido, ele, ao invés de se ofender, demonstrava logo aquele amor profundo que conquistava a simpatia e atenção das pessoas; ou, também, ao invés de se “preocupar” com a doença ou dificuldade de alguém, ele ajudava, dando de si, de sua fé, intercedendo, impondo as mãos. Ele cria na promessa que Jesus tinha feito aos seus discípulos: “… e estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome …” farão muitas coisas maravilhosas... (Mc 16.17-18)
Assim, numa terra estranha, num país com língua e costumes diferentes, ele chegara por indicação de Cima, e mesmo que parecia que nada acontecia, ele cria que estava fazendo o que o Senhor lhe mandara fazer.
E exatamente para aquele lugar, para aquele país estranho que o Senhor da obra, Aquele que cuida das árvores, e que é o Tronco, indicou que seu filho deveria ir. Detalhe: Ele se lembrava que seu filho lhe dissera uma vez que nunca nem visitar queria aquele país. E agora?
A história continua fascinante. Pois sem titubear, o filho aceitou a missão de cuidar daquele pequeno e novel rebanho em terra estranha. Mas mais: ele vendeu tudo o que possuía, pagou suas passagens e levou sua esposa e filhos com ele. Não havia salário prometido – eles se autossustentaram por 10 anos – ele, cinco, a esposa, os dez anos – limpando casas (um trabalho contra o qual muitos tem preconceitos, mas que foi o caminho aberto para seu autossustento naquela terra).
Um dia no Consulado brasileiro daquela cidade chegou um rapaz que tinha ficado preso por imigração ilegal. Estava sozinho no exterior e nessa cidade – e tinha perdido tudo. O Consulado lhe disse que não tinha ‘verba’ para ajudar – mas alguém ali se lembrou de um pastor que com certeza iria dar apoio. Recebeu o número de telefone desse ‘nosso’ novo pastor que tinha deixado profissão, posição, tudo, e vindo para aquela cidade por ordem e a serviço de Jesus.
Foi o telefonema mais curto que o ex-presidiário fez: “- Sim, posso. Você pode vir agora aqui?” Ele foi. O pastor o recebeu como se recebe a um irmão a quem tinha perdido: deu-lhe suas roupas, que vestiu após um refrescante banho; levou-o a uma loja e lhe disse para escolher três mudas de roupas e sapatos – um enxoval para recomeçar a vida; e foi colocado num hotel por uma semana.
Outras necessidades também foram supridas: depois de uma semana, ele já tinha novos documentos, e conseguira um emprego – e podia começar uma nova vida – tudo provisões deste pastor e de sua equipe.
A conversa de despedida foi assim:
“- Pastor, quanto eu lhe devo?”
O pastor respondeu: “- Nada. A única coisa que eu peço a você é que você esteja atento e disposto para ajudar alguém no futuro assim como você foi ajudado!”
Nem ser membro da igreja foi exigido dele!
Quando ouvi esse relato, me lembrei daquele trecho que conta a história da primeira igreja em Jerusalém: “… ninguém afirmava ser sua alguma coisa que possuísse, mas tudo era compartilhado por todos… Pois não existia nenhum necessitado entre eles; porque todos os que possuíam terras ou casas, … traziam o valor … E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade.” (At 4.32-35)
Sinceramente, e com lágrimas nos olhos, confesso que essa é a atitude da verdadeira comunidade de Jesus, que verdadeiramente traz honra ao nome dEle e à Sua missão aqui na terra!
O que vai além disso é invenção humana, ou capricho de mentes pervertidas, ou subterfúgios enganosos para satisfazer a vaidade pessoal.
A igreja é como uma árvore que DÁ FRUTOS saborosos…
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]