Livro de autoria do juiz diretor do foro da Comarca de Caratinga, Anderson Fábio Nogueira Alves, é lançado em noite festiva. Obra é voltada para o público infantil
CARATINGA- “Tem criança na plateia?”. Essa foi a indagação do juiz diretor do foro da Comarca de Caratinga, Anderson Fábio Nogueira Alves, ao subir ao palco para o lançamento do livro ‘A História do Macaco Vermelho’, de sua autoria. A resposta foi imediata e externou a empolgação do público infantil, que o juiz atribuiu como grande estrela da noite, pois é o público-alvo da obra que foi escrita “pensando nelas e para elas”.
A cerimônia de lançamento ocorreu na última terça-feira (26), no Auditório Celso Simões Caldeira, do Centro Universitário de Caratinga. Trata-se de uma iniciativa do judiciário, que visa estimular a produção cultural e artística entre meninos e meninas em idade escolar. O livro conta com ilustração do artista Camilo Lucas e foi organizado pelo professor Eugênio Maria Gomes, com edição da Fundação Educacional de Caratinga (Funec). Funec e Ycambi Ranch, através do empresário Jean Lacerda, que custearam a impressão da obra, que será vendida ao preço de R$ 15. Toda a renda será destinada às casas de acolhimento de menores.
Durante o lançamento, oficinas de arte foram promovidas junto às crianças. Também aconteceram apresentações musicais e artísticas. Autoridades e comunidade prestigiaram o evento.
O PROJETO
O juiz Anderson é titular da Unidade Jurisdicional Única do Juizado Especial de Caratinga e coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc). Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, ele resume como surgiu ‘A História do Macaco Vermelho’. “É um macaco criança que mora na floresta e vai brincar. O pelo dele é vermelho e nessa brincadeira acaba mudando de cor. Então, a história desenrola com ele tentando voltar à cor original e para isso ele pede ajuda de amigos, da mãe. Uma história que já existe há alguns anos, quando minhas filhas eram menores eu contava para elas e agora foi para o papel”.
O livro é o primeiro passo do projeto Macaco Vermelho do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da comarca, realizado em parceria com a Vara da Infância e a Superintendência Regional de Ensino de Caratinga. Foi criado um “selo” do Cejusc local, que reunirá a publicação periódica de livros com textos, desenhos e letras de música e autoria de crianças e adolescentes da comarca. “O judiciário vai até as escolas com palestras e usar o macaco vermelho personagem, como uma forma de ter um acesso mais lúdico com as crianças”.
A partir do lançamento do livro, o personagem Macaco Vermelho será utilizado como material pedagógico nas escolas da rede de ensino regular. Ainda está prevista publicação de editais para escolha dos trabalhos a serem publicados em obras posteriores, com prioridade para temas relacionados à infância e juventude e à defesa do meio ambiente. Haverá a seleção de textos- categoria aberta a todos os alunos da rede de ensino- e trabalhos de artes plásticas e na área de música. Essas duas últimas categorias serão restritas a escolas ou receberão trabalhos indicados pela rede de assistência social.
A diretora da 6ª Superintendência Regional de Ensino (SRE), Landislene Gomes, o relacionamento com o judiciário já tem trazendo resultados. “Nossa palavra-chave é agradecimento. Agradecimento ao poder judiciário de Caratinga, que vem estreitando a parceria com a Educação. Quero agradecer ao doutor Consuelo (Consuelo Silveira Neto, juiz da 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais) pelo projeto que já está implantado nas escolas, ‘Cidadania, Voto consciente’. Este projeto já está atingindo todas as nossas escolas do Ensino Médio e já vem trazendo frutos imediatos. É imediata a relação dos nossos alunos, ao término da palestra do doutor Consuelo e do Arilson, chefe do cartório, os alunos já vão para frente falar da importância do Poder Judiciário na escola. E nosso agradecimento especial também vai para o doutor Anderson que vem consagrar essa parceria com o lançamento deste livro, que a partir de segunda-feira já estará nas nossas escolas. E com a presença também do doutor Anderson fazendo palestras junto das famílias, na reunião de pais e para nossos alunos.”
Os trabalhos serão selecionados por comissão julgadora composta por magistrado ou promotor de justiça da infância e juventude, comandante da Polícia Militar, superintendente regional de ensino, representante da sociedade civil indicado pelos parceiros financiadores do projeto e uma personalidade convidada, indicada pela Academia Caratinguense de Letras (ACL) e Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas (AMLM).
Eugênio Maria Gomes ressaltou que considera gratificante fomentar a produção de um novo escritor. “Enquanto escritor, participei organizando a obra e representando a Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas e pela Funec, que entrou com a parceria da editoração, toda estrutura do evento, lançamento. É uma obra interessante, voltada ao público infantil, mas que traz uma mensagem muito bacana. Trata de uma maneira muito interessante sobre diversidade, família, hierarquia, respeito e relação mãe e filho. É um prazer muito grande ter participado, é comum da Fundação apoiar projetos culturais e é com muita honra que a AMLM chancela essa obra escrita pelo doutor Anderson. Fico muito feliz em apoiar essa obra e ver surgindo novos escritores”.
REFLEXÃO
A juíza titular da 2ª Vara Criminal e de Infância e Juventude de Caratinga, Beatriz Auxiliadora Rezende Machado, propôs um discurso de trás para frente, falando inicialmente do efeito prático do livro já pronto, em seguida do conteúdo e, por fim, a sua origem.
Ela ressaltou sobre o papel das instituições que serão contempladas com a renda dos livros: Amac e Lar das Meninas. “São duas casas que hoje funcionam para o acolhimento de menores aqui na cidade e, excepcionalmente, em alguns momentos não é possível alternativa, acolhendo também crianças de outros municípios. O funcionamento dessas casas para a maioria da população é algo que não se apresenta de pronto em torno de sua complexidade. Acreditam que a criança é levada para lá e ali permanece por algum tempo, recebendo cuidados como se estivesse simplesmente numa casa. Acontece que o funcionamento dessas instituições é extremamente dispendioso. Me lembro que início do ano passado as duas enfrentaram uma situação financeira extremamente penosa, estiveram mesmo em vias de ter bastante comprometido o funcionamento, o que traia um prejuízo enorme às atividades que elas desempenham na sociedade. E com esforço tanto do Poder Público como de muitas mãos até anônimas, conseguimos reverter essa situação, para um controle de pelo menos pagar as contas em dia”.
Para a juíza, o funcionamento destas casas depende além do compromisso do Poder Público, de um engajamento da sociedade. “Compreender que eles desempenham um trabalho primordial e dependem também da comunidade para ter condições de dar a essas crianças o melhor atendimento possível. Registro meu agradecimento a todos os nossos parceiros que ao longo desses um ano meio contribuíram para que essas casas estivessem em condições financeiras melhores para continuar o trabalho. E agradeço aos representantes dessas instituições pelo empenho, trajetória de vida que construíram se dedicando à causa da infância e juventude, são pessoas notáveis que tenho profunda admiração”.
O segundo ponto abordado pela magistrada foi o ensinamento que o livro traz, promovendo reflexão entre pais e filhos. “Se fosse apenas esse o efeito da existência desse livro, para arrecadar recursos a essas instituições já seria algo muito interessante. Mas, além disso, os filhos vão se deleitar com a história, os pais com o olhar crítico além do lúdico vão perceber que a história traz elementos de conversa em família, relações familiares, bullying, meio ambiente, auto aceitação, entre outras temáticas. A tônica cultural desse livro é um elemento de fomento a um trabalho diferenciado. Nós, sociedade brasileira, enfrentamos um problema gravíssimo de evasão escolar com necessidade de reformular as nossas políticas do ensino, para que escola seja sempre local agradável e atrativo para esses alunos”.
Por fim, destacou que a história é resultado de um sentimento paternal, que agora ganha asas para atingir a outras crianças. “Tive o prazer de receber em mãos o manuscrito da história. Ali, escrito à mão, com as primeiras ilustrações e vi algo feito de um pai para as duas filhas. Então, mais do que uma história é um presente de amor de alguém que deseja para os filhos o melhor. E que num determinado momento vislumbrando aquilo que ele fez para as filhas uma oportunidade de disseminar esse amor para os filhos de outras pessoas. Aquilo que vamos contribuir para os outros não necessariamente sai da carteira, não é só com dinheiro que ajudamos uma sociedade a melhorar. Lógico que o dinheiro é importante porque com ele se consegue recursos materiais e eles são interessantes e necessários. Mas, o tempo, atenção, talento, amor, a capacidade do olhar para o semelhante é a diferença”.