O que é um ato de justiça? Para bem entender o conceito, precisamos voltar ao texto bíblico. Nossa busca será para entender o que é imitar a Jesus e os apóstolos em seus atos.
Linha bíblica de Atos de Justiça
Podemos construir diversas hipóteses sobre o que aconteceu em Jerusalém quanto ao ‘ter tudo em comum’. Alguns textos escritos anos mais tarde mas dentro da MESMA igreja nos dão uma boa ideia sobre qual era a preocupação muito básica em relação aos pobres:
Tg 2.15-16 “[…] que vantagem há nisso de dizer ao necessitado de roupas: Vai em paz, aqueça-te e sacia-te, e não lhe deres as coisas necessárias […] Veja também 4.17; 5.1-6; 1 Jo 3.17 Quem pois tiver bens do mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fechar-lhe o coração, como o amor de Deus pode permanecer nele?”
O pensamento central (e nossa conclusão corajosa) é que uma comunidade de fé tem todas as condições para cuidar de seus necessitados, de transformar-se numa sociedade mais justa, portanto. Essa justiça começa com a ‘qualidade’ de seus integrantes, os tipos de relacionamento que têm entre si.
Com mais verdade, sinceridade e comprometimento, chegam ao ponto de renúncia em favor do próximo, de realmente se colocar no lugar dele e fazer tudo o que está ao alcance para que ele tenha uma vida mais digna. Mas não para aí: esta influência, que cada integrante recebe e ‘aprende’ a refletir, é levada para fora, ‘agitando’, ‘transtornando o mundo’. (At 17.6)
Na medida em que mais pessoas se agregam ao grupo, a sociedade é impactada de uma forma maior, através da atuação dos membros desta mini sociedade mais saudável, atuando com mais justiça no espectro maior, seja na indústria, no comércio, nos esportes, na preservação da ordem, na promulgação das leis, no exercício do governo, nas artes, nas letras, no desenvolvimento da filosofia, da cultura, crença, credo, da localidade, etc.
Existem tabus e preconceitos contra o modelo mostrado no início de Atos? O exame de nossa sociedade atual com todas as ferramentas da ciência e tecnologia deveria clarificar quais são as verdadeiras dificuldades, ou barreiras a serem ultrapassadas.
Tal investigação iria considerar o conhecimento sobre a natureza humana, especialmente do ponto de vista psicológico-social, quebrando também os falsos axiomas sobre a estrutura da sociedade, e sobre sua formação.
Como aludido anteriormente, o lastro à nossa disposição é a estrutura dada a Moisés (Capítulo 2, 2.1.1 PENTATEUCO) para que o povo de Israel, ao fazer o assentamento na terra prometida, pudesse receber condições dignas, e um tratamento justo: medidas definitivas, com glebas de terra para cada família perpetuamente (mesmo que só para uso, pois ela pertence a Deus).( Ex 19.5: “[…] porque minha é toda a terra”.) De fácil interpretação, as provisões do Ano do Jubileu mostram um Compromisso profundo com os pobres, especificamente os sem-terra.
Preparação I: Contra o exclusivismo / com identidade
Os atos de justiça não são formas de exaltar nosso nome. Uma atitude de humildade deve ser cultivada nas sessões preparativas para tal empreitada. Numa escola de Teologia temos alunos de todas as idades, e vindos de diferentes famílias e formações religiosas. Alguns virão com uma identidade formada, e outros, por formar. E teremos aqueles cuja identidade está deformada, e precisa de restauração. Nada mais eficaz do que estar num ambiente que é propício para o crescimento pessoal, e para desenvolver relacionamentos sadios.
Com a identidade sendo examinada e apurada, os alunos e futuros líderes religiosos estarão sendo preparados para o diálogo com outros grupos, inclusive com outras religiões. A globalização tem chegado a todos os cantos, trazendo consigo novas situações geradas pela sua abrangência e complexidade. Por que, em certas comunidades, o carente é ‘invisível’, ou se vê forçado a se esconder, pois naquele meio é vergonhoso ser pobre ou ter necessidade?
Isso tem algo a ver com uma ênfase exagerada nas aparências. (Tg 2.1-9) Tiago e Paulo se referem a isso em suas cartas (Tg 2.1-9; 1 Co 12.22-27), essa tendência ‘natural’ de desprezar os mais humildes, a quem Deus, porém, confere maior honra!
Por isso devemos estar sempre abertos para todos, e também, quando for o caso, não nos sentirmos derrotados quando tivermos que recuar em alguma iniciativa que não deu certo. Como Cristo disse com toda a clareza: Tenho ovelhas que não são deste aprisco!
(Extraído do nosso livro/e-book A GENEROSIDADE COMEÇA DE CIMA, Parte III, Ideias e sugestões para os nossos tempos, Págs. 93-96)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]