O QUE PODEMOS CONCLUIR?
Nossa questão é como ‘gerar’ homens e mulheres que podem de forma genuína cuidar altruisticamente do bem estar dos outros, outros verdadeiramente outros (não somente membros da mesma família, mas até aqueles com costumes e culturas diferentes, em certo sentido, com valores opostos).
Voltando no tempo, tínhamos, por exemplo, a Escolástica ou Escolasticismo (do latim scholasticus, e este por sua vez do grego σχολαστικός [algo ou alguém que pertence à escola, ou que é instruído], um método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500.
Não era tanto uma filosofia ou teologia, mas mais um método de ensino / aprendizagem. A escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. Colocava uma forte ênfase na dialética para ampliar o conhecimento por inferência, e resolver contradições. (A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é frequentemente vista como exemplo maior da Escolástica.) Nossa pergunta: Onde ficavam as atitudes de bondade, generosidade, etc. de Jesus e dos apóstolos? Geralmente eram negligenciadas em favor do “ensino superior” da filosofia.
Por outro lado, houve outra influência muito forte dentro da igreja: a do antissemitismo. Para ser bem claro, e de forma geral, essa “doutrina do inferno” sempre se caracterizou como uma reação irracional do resto do mundo ao posicionamento do povo judeu em relação ao Deus que os judeus cultuavam.
O que aconteceu? Os verdadeiros pais do caminho pregado por Jesus e os apóstolos – e seus discípulos, geralmente de origem judaica, com embasamento no conhecimento do Antigo Testamento, foram pouco a pouco substituídos por estudiosos sem a base no Antigo Testamento. A conexão hebraica foi perdida, e os novos pais da igreja começaram a propagar doutrinas contra os judeus. Por exemplo, o Bispo João Crisóstomo, bispo do IV século, escreveu: “A sinagoga é pior que uma casa de prostituição… é o antro da pior laia e um covil de bestas selvagens… [É] um lugar de encontro dos assassinos de Cristo… um antro de ladrões… uma casa de má fama; um lugar de iniquidade, o refúgio de diabos, um abismo de perdição”. Até hoje tais palavras reverberam no mundo, e muitos desavisados as tomam ao pé da letra, e o ódio e a discriminação são reavivados.
Voltando ao nosso tema: temos que lembrar que a generosidade tem um assento profundo no ser humano, e define a “massa central” do ensino que se quer passar. O respeito da alteridade só pode acontecer através de um “transplante” de sensibilidades, uma capacidade que requer convivência e envolvimento entre seres humanos comprometidos uns com os outros, algo mais que fazer uma dinâmica em sala de aula. Para alcançar o alvo uma decisão maior precisa ser tomada, e que marcaria mais ainda a vida de todos os egressos.
Não conhecemos o “como” criar no interior do aprendiz algo que se expressa e que todos nós conhecemos como ‘solidariedade’. O artigo do MEC sobre “Solidariedade” (35. MEC – Temas Transversais – 5ª. à 8ª.), citado por Jung MO Sung em anexo ao Capítulo 1 de seu livro Competência e Sensibilidade Solidária, é uma análise da situação de nosso ensino no Brasil, incluindo as graves anomalias que têm chocado a sociedade pela sua violência, brutalidade, calculismo e frieza. As palavras centrais do artigo do MEC são: “Os alunos necessitam aprender como, de fato, traduzir a solidariedade em ações”.
Esta forma de afetar profundamente o ser humano é que consta da ideia básica da nossa busca. Se o aumento de conhecimento e de saber através do estilo greco-romano produzisse solidariedade, esperança, generosidade, etc., nada haveria que o desabonasse.
(Extraído do nosso livro/e-book A GENEROSIDADE COMEÇA DE CIMA, Parte I, O que podemos concluir? Págs. 33-34)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]