Os formadores de lideranças estão conscientes de seus alvos?
Fizemos uma pesquisa entre um grupo representativo das escolas formadoras de lideranças cristãs no Brasil. Descobrimos muitas coisas positivas, mas também encontramos uma lacuna quanto à ênfase em apreço.
Temos pequenas comunidades de fé que, em sua simplicidade e dedicação, embora com muitos sacrifícios, têm transformado muitas regiões carentes do nosso país. O resultado que os membros tiveram é, primeiramente, um novo respeito próprio mesmo se vieram de famílias e situações bem humildes. E uma nova ética e atitude de trabalho que foram decisivas no avanço de suas famílias, impulsionando-as para fora do nível de pobreza.
É verdade, nem sempre há uma estratégia definida de enfrentamento da pobreza, um esforço consciente de influenciar as redondezas com mais justiça social. E, por vezes, é de se lamentar que existam líderes que desenvolvem uma atitude dominadora, regredindo para o tempo dos ‘coronéis’ das antigas províncias do Brasil-colônia, com ostentação de luxo e outras atitudes pouco recomendáveis.
Mas tais grupos como um todo operam, sem nenhuma dúvida, trazendo mais justiça aos nossos irmãos necessitados. E se houver uma orientação e visão clara e segura de parte de sua direção organizacional bem como dos programas que formam os seus líderes sobre a importância de ser generoso, uma grandiosa transformação de brasileiros “esquecidos” poderá ser alcançada celeremente.
A formação que propicia a comunicação de informação é muito importante. Ela pode, entretanto, oferecer mais: como já visto anteriormente, ela poderá trazer à tona aquilo que oprime o povo, e sugerir possíveis ações da parte da própria comunidade de fé.
Notamos entre as escolas de liderança uma crescente seriedade de aprimorar esta educação, uma busca do diálogo com outros grupos até divergentes, e uma tentativa louvável de alinhar-se às diretrizes estabelecidas pelo MEC supracitadas.
Como avaliar a formação de líderes? O currículo e as ementas, mesmo que incluam uma preocupação com os pobres entre nós, ainda não garantirão que irão desenvolver a atitude de generosidade. Mas é um movimento na direção certa. O essencial é que a diretoria e a coordenadoria decidam formar líderes, homens e mulheres, de olho na generosidade.
Encontramos, em nossa análise, instituições cujo alvo é voltado para a própria instituição. Visam preparar pessoas para servir em suas comunidades locais existentes ou a serem implantadas. Não há menção de uma responsabilidade e maior sensibilidade com os menos favorecidos. Não é de admirar que há em nossas comunidades líderes que sequer sabem identificar o que é ser desprendido, e que são incapazes de levantar um irmão caído.
Existem no Brasil escolas fundadas e ainda dirigidas por filosofias estrangeiras, nas quais todos os esforços visam apenas o crescimento do conjunto, sendo que o membro com necessidades materiais se sente inferiorizado e indigno, e pode até sofrer ostracismo, como é o costume na sociedade neoliberal.
Por outro lado – para completar os tipos de escolas de liderança, há aquelas que são abertas para estudantes de todas as linhas, religiosas ou não, e que tem corpo docente eclético. Assim, a formação teórica e prática permite tanto a atuação pastoral em igrejas, como a educacional em escolas, e ainda, a de promoção humana voltada a pessoas, grupos sociais ou problemas específicos da sociedade contemporânea.
Nada disso, porém, garante que a generosidade tenha sido destacada. Como referido acima, uma decisão coletiva do corpo diretor e docente é imprescindível, e que pode provocar de imediato uma atitude afirmativa da parte do corpo discente. Aí está também aquela escola que forma pensadores e produtores de literatura teológica, o que é demasiadamente necessário em nosso país em ascensão do terceiro-mundismo.
Encontramos também formadores de líderes que visam aprofundar tanto nas Escrituras como nas Ciências Humanas, com intercâmbios regulares com outras faculdades, universidades e instituições afins vizinhas, tanto do país quanto do exterior, e fazendo um destaque especial das alteridades, para que sejam reconhecidas e respeitadas – aspectos que trazem benefícios visíveis na formação do líder.
Muito mais está na pauta dos formadores de líderes: o incentivo para buscar e formar a identidade pessoal, a compreensão de subjetividade, a significação e o discurso no saber-poder, a consideração pela cultura, os gêneros, raça e etnia, sexualidade. E, por último, a conceituação da cidadania diante do pluralismo, multiculturalismo, e da multinacionalidade.
Mas e a generosidade como marca para a vida, para a missão que está pela frente – o novo líder – agora com um diploma – ele ou ela saberá que ela é importante? Se isso não for conscientemente incentivado, cultivado, e vivido, formaremos líderes cada vez mais bem equipados, dispondo de conhecimento e know-how fabuloso, mas em quem falta o ingrediente principal: o próprio ESPÍRITO do MESTRE.
(Extraído do nosso livro/e-book A GENEROSIDADE COMEÇA DE CIMA, Parte I, Os formadores de lideranças estão conscientes de seus alvos? Págs. 26-29)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum rudi@doctum.edu.br