Eugênio Maria Gomes
A história que dá nome ao título, a ouvi durante a grande movimentação ocorrida na 1ª Feira Literária realizada pela Academia Caratinguense de Letras, no dia 29 de outubro, dentro das comemorações do “Dia Nacional do Livro”. A ACL promoveu uma grande festa literária, nas dependências do UNEC – Centro Universitário de Caratinga – instituição parceira do projeto. Aliás, muitas foram as histórias e os “causos” contados e ouvidos nesse dia, pela equipe responsável e pelos apoiadores, enquanto uma multidão de leitores se deliciava com os mais de mil livros disponibilizados no evento.
Antes de contar a história da “Gata Triste”, vamos a alguns outros acontecimentos e histórias daquela gostosa tarde, com a presença dos acadêmicos Dora Bomfim, Humberto Luiz, José Geraldo, Lígia Matos, Monir Saygli, Monsenhor Raul Motta, Sandra Ramalho e eu; e dos apoiadores Adriana, Ágda Alice, Alfredo Pena, Eliza Rezende, João Victor, Maria Eugenia, Morena Maria e Sudário Pereira Filho, este último um verdadeiro “pé de boi” no apoio ao evento. O primeiro registro vai para Neyda Porto, esposa do companheiro Eduardo Porto. Ela chegou trazendo bons livros para a Feira e, como boa leitora que é, também levou bons livros de lá. Em determinado momento, durante uma entrevista à Unec TV, ela surpreendeu a todos com a sua “caderneta” de anotações sobre os livros lidos, a partir do ano 2000: mais de 800 livros, o que dá uma média de 50 livros lidos em cada um dos últimos 16 anos. Fica fácil entender porque a média nacional de livros lidos por ano é, apenas, de 2,5 livros: porque temos alguns lendo muito e outros não lendo, absolutamente, nada.
Também apareceu o Sr. José Maria, um senhor muito bem vestido, com cara de leitor assíduo, mas que chegou dizendo que estava sem nada para ler em casa. Disse que não tinha livros e que gostaria de levar alguns. Perguntou quanto custava e foi informado que a distribuição era gratuita. Ouvindo tal resposta, imediatamente perguntou quantos poderia levar, recebendo a informação de que poderia levar quantos o bom senso determinasse. Pois bem, ele saiu de lá com uma pilha que mal podia transportar, composto de cerca de 30 livros. Houve quem o condenasse com o olhar, também ocorreu um leve burburinho pelos que visitavam a Feira. Bobagens! Não lhe foi dito para usar o bom senso? Qual é o bom senso para o voraz leitor que não tenha livros em casa, frente a mais de 1000 livros, distribuídos gratuitamente? Depois, dos 1130 livros disponibilizados, ainda sobraram uns 40 livros…
Entre as muitas raridades literárias que apareceram por lá, uma chamou a atenção de todos, não apenas por conta do conteúdo, mas pela dedicatória registrada em sua primeira página: “Ao meu querido esposo, com minhas preces e votos de felicidades pela passagem de seu natalício, ofereço esta preciosa lembrança. A sua de sempre, Tereza. Caratinga, 12 de outubro de 1957”. Muitas histórias no livro, no registro de Tereza, nas vidas de quem deu e de quem recebeu o presente…
Outro acontecimento interessante foi ver a acadêmica Lígia Maria dos Reis Matos, que tomou posse, ontem, em mais uma Academia de Letras – ela passou a fazer parte, também, da ALTO (Academia de Letras de Teófilo Otoni) – dizer que estava emocionada ao ver tantas pessoas participando da Feira e levando livros. Ela expressou o que todos nós sentimos, também nós ficamos surpresos. Tem muito mais gente lendo – ou querendo ler – do que imaginávamos. Tudo o que as pessoas estão precisando é de incentivo para a leitura, como o fato de poder levar livros, bons livros, de graça, para casa. Por isso está clara para nós a importância do evento e a sua inclusão, definitiva, no calendário de atividades da ACL.
Antes que eu me esqueça, vamos à história da “A Gata Triste”. Quem nos contou esta história foi uma das apoiadoras do evento, a professora Eliza Cristiane de Rezende Marques, professora do Unec e nora de outra professora que trabalhou muitos anos na casa, a querida Professora Alvany da Silva Marques Martins, uma das mulheres mais altivas, bonitas, educadas, inteligentes e conectadas com a Educação e o processo ensino-aprendizagem que já conheci. Pois bem, a professora Eliza relatou-nos a história da “Gata Triste”, durante a movimentação da Feira. Um de seus sobrinhos, em fase de alfabetização, teve com ela o seguinte diálogo, enquanto ela conversava com a mãe sobre a Feira Literária, dias antes de ela acontecer:
– Preciso ver alguns livros para doar à Feira Literária. Vamos ajudar a tia a achar algum livro repetido?
– Vamos sim, tia.
– Hum, aqui não tem nada.
– Tem sim, tia, tem muito livros repetidos…
Eliza correu os olhos em uma estante, depois em outra, não encontrou nada…
– Não tem.
– Tem sim, tia, você não está olhando direito…
– Claro que estou, não estou vendo nenhum livro repetido…
– Ah! Está bem… Vou mostrar pra você…
E, apontando o dedo para uma coleção, ele disparou: “A Gata Triste, A Gata Triste, A Gata Triste, A Gata Triste, A Gata Triste, A Gata Triste e a Gata Triste. Embaixo tem mais: A Gata Triste, A Gata Triste, A gata Triste, A Gata Triste, A Gata Triste e a Gata Triste!”.
Eliza e sua mãe caíram em um riso, difícil de conter. O pequeno novo leitor, com o dedo em riste, apontava para uma coleção de Agatha Christie e insistia em dizer que havia muitos livros com o título de “A Gata Triste”.
Foram bons momentos, em uma boa Feira Literária, compartilhados com boas pessoas e compartilhando centenas de bons livros. Sim, sempre há lugar para um bom “causo” e para um bom livro. Até porque, como registrou muito bem a Gata Triste – Opa, Agatha Christie – “Dizem que se escrevem livros demais hoje em dia. E eu digo: não, há sempre lugar para um bom livro”.
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.