No final de semana celebramos o aniversário da Wilma, minha querida esposa, companheira e amiga. Foram momentos inesquecíveis, que nunca iremos esquecer.
Além dos muitos amigos nossos que aceitaram nosso convite, fomos muito prestigiados pela nossa família – irmãos e sobrinhos, que vieram de longe só para estar conosco. E não somente na festa, mais antes e depois – até no dia seguinte estivemos confraternizando como nos velhos tempos quando o Reverendo Uriel, Dona Mariana e a Tia Hilda estavam conosco.
A riqueza que descobrimos toda vez que temos encontros assim me torna um teólogo muito mais ligado à realidade. A família tem muito a ver com as bases de nossa vida, dos nossos costumes, de nossa fé e nossa esperança.
Mais talvez – no desejo de querer compartilhar algo bom numa época com tantas notícias pesadas, tristes e desalentadoras (hoje, a notícia que o Planalto Governo promete, no início do ano, enxugar suas despesas, diminuindo o quadro já super-super-super-superlotado de assessores, auxiliares, assistentes, etc. e etc., decide – no final do ano – oferecer novas nomeações de comissionados, com salários ‘gordos’, para conseguir os votos para passar um projeto que só piora ainda mais a situação do povo, dos aposentandos. Por que não se corta verba e auxiliares no Planalto?) – quero falar da família de uma forma muito verdadeira.
Natal também é tempo especial para a família.
Penso logo em dois grupos de pessoas em nossa sociedade que irão se destacar: primeiro, daqueles cuja família está passando por uma crise, e muitos dos membros não estão querendo participar, comunicar, e decidem ficar distantes; e o outro, daqueles que não têm família: por alguma razão ou razões, estão sozinhos, talvez um casal, velhinhos, ou de jovens, sem filhos, cuja família está muito longe, ou que já não estão mais aqui neste mundo.
Para o segundo caso – aqueles que não tem família e que estão vivendo isolados, a sugestão que preciso dar – e bem enfática – é que você procure pessoas com quem você tem coisas em comum, seja no trabalho, seja numa instituição (igreja, por exemplo), e planeje alguma coisa em conjunto para este final de ano. Uma nova vida, uma nova fase poderá ser iniciada assim desta forma. Há um conselho dado aos cristãos na Bíblia para que não abandonem a comunidade. Por que? A igreja à qual este conselho foi dirigido era de pessoas que tinham tido muitas desgraças na vida – foram expulsos de suas famílias, suas famílias tinham sido exterminadas, etc. – e por isso, a própria comunidade religiosa, seu círculo de amigos na fé, tinha se tornado um substituto para a família.
Ninguém consegue viver de forma saudável sem um grupo de pessoas com quem você se encontra, e onde você pode se abrir, e contar suas dificuldades. Geralmente – e é assim que eu entendo do que é uma família – quando um membro mostra problema, luta, necessidade – os outros se dispõem a ouvir, e a estender a mão para ajudar de alguma forma.
Há muitas comunidades até não-cristãs que são exemplo para nós, que não permitem que um só membro de seu grupo passe por dificuldades. Às vezes esta pessoa, ou casal só precisa de um pequeno acompanhamento para se levantar e aí se tornar participantes no grupo que estarão ajudando àqueles que passam por uma fase difícil.
Não falei nada ainda sobre aquele grupo onde houve problemas entre membros e eles nem falar um com o outro eles aceitam. A primeira sugestão que nós achamos útil é dar tempo às pessoas que foram feridas ou que feriram para que elas mesmas possam reavaliar o que aconteceu. Mas não pode ficar aí. O restante do grupo que está bem precisa se movimentar, e tentar reestabelecer o contato. O importante é não formar partidos. Precisamos todos (os que não estão diretamente envolvidos no conflito) ser excelentes ouvintes, e nunca aceitar que a quebra das relações seja algo definitivo.
Às vezes um encontro em separado com o envolvido e machucado pode ser decisivo. Às vezes a reconciliação começa de forma indireta. O importante é que aquele que se exclui (ou se sente excluído) não fique isolado – precisa ter contato pelo menos com um membro do grupo maior, e de preferência, com um casal que se dá bem com todos os outros.
Natal é uma época excelente para restabelecer relacionamentos.
Cada um de nós pode ajudar. Um pequeno presente pode amolecer um coração machucado. Mesmo que a pessoa diga que não quer mais ou nunca mais ver ou se relacionar com fulano, isso tudo pode ser mudado.
É uma necessidade de todos nós de termos amigos, e o membro de nossa família é o primeiro e principal candidato para esta amizade. Barreiras existem, mas elas não são intransponíveis.
Converse com alguém do seu círculo íntimo e quem sabe vocês dois, ou três, ou quatro podem empreender um movimento para reintegrar alguém de volta na sua família, ou na sua igreja. Tenha certeza: no fundo, o que mais desejamos são pessoas que nos amam, nos entendem, e que nos perdoam, nos dão uma nova chance!
Se a Teologia não contiver esta premissa como uma das principais em seu ensino, então não merece ser escola muito menos uma Faculdade.
Estamos aqui para trazer ajuda à sociedade, e a família tem origem divina: ninguém deve estar excluído. Se causamos o afastamento de alguém, vamos buscá-lo, como o Bom Pastor, que deixa as noventa e nove e busca aquela que está extraviada, sozinha e sem perspectivas.
Rev. Rudi Kruger – Diretor Faculdade de Teologia Uriel de Almeida Leitão