Presidente da Associação Nacional de Jornais do Interior do Brasil concede entrevista exclusiva ao DIÁRIO DE CARATINGA
Como o próprio nome indica, Associação Nacional de Jornais do Interior do Brasil (Adjori Brasil) é a entidade mais representativa dos jornais do interior do País. Por meio de suas afiliadas, congrega mais de 600 jornais associados. Dentre suas tarefas, Adjori Brasil trabalha para organizar, fortalecer e capacitar os jornais interioranos associados às adjoris estaduais. Seu presidente é Miguel Ângelo Gobbi, que nos concedeu entrevista exclusiva.
Nesta entrevista, o presidente fala das dificuldades enfrentadas pelos jornais do interior e também aponta caminhos para driblar momentos adversos. Do alto de seu conhecimento, fez uma advertência: “A falta de independência mina a credibilidade”. Para Miguel Ângelo Gobbi, os jornais do interior têm que lutar pelas bandeiras da comunidade.
Quais as principais dificuldades enfrentadas atualmente pelos jornais do interior?
Como todos os demais setores da economia, os jornais do interior foram penalizados pela retração econômica que vem se arrastando desde 2015, sem uma perspectiva de retomada vigorosa no curto prazo. Paralelamente ao cenário econômico, os jornais do interior – e não só eles – vêm se defrontando com as mudanças no hábito de leitura, tendo que atuar em novas plataformas para levar informação de qualidade às comunidades em que estão inseridos. Bons sites e ações inovadoras em redes sociais têm conseguido ampliar a visibilidade e fortalecido a presença das empresas jornalísticas do interior.
Por que boa parte dos jornais do interior não tem longevidade?
Essa não é uma realidade para a empresa jornalística que tem como foco ser porta voz da comunidade em que circula. Temos em Santa Catarina, e em muitos outros estados brasileiros, jornais com dez, vinte, trinta, quarenta anos ou mais de atuação. O que existe, ainda hoje, são jornais que são abertos visando oportunidades momentâneas, seja por um atrelamento político ou mesmo por uma situação de mercado. Sem elo forte com a comunidade, acabam fechando.
Para os jornais do interior, em que a internet foi benéfica e em que ela foi prejudicial?
A internet foi benéfica para aqueles que souberam atuar nesse novo meio de levar informação ao público. Os jornais que ainda resistem em aderir à internet – ou seja, que não têm bons sites e não exploraram as ferramentas de rede sociais – vão perdendo terreno, vão perdendo visibilidade e força editorial. Isso, sim, leva ao fechamento da empresa jornalística. É certo que toda essa enorme quantidade de mídias, fez o jornal – não só do interior – perder parcela das verbas publicitárias, de clientes governamentais ou da iniciativa privada. E o custo da produção jornalística e da impressão de jornais têm peso elevado na empresa de comunicação
As redes sociais são aliadas ou ‘rivais’ dos jornais impressos?
As redes sociais não são propriamente fontes de informação, no sentido de serem geradoras de conteúdo. São propagadoras de informação, e em velocidade espantosa. São grandes aliadas quando bem utilizadas e podem ser rivais quando veiculam notícias de fonte duvidosa, prejudicando o trabalho daqueles que se dedicam a uma criteriosa apuração dos fatos. Para alguns, hoje informações são muitas, mas superficiais.
Está faltando apurar as notícias?
É o preço da instantaneidade da informação. Essa busca de alguns veículos de comunicação em ser o primeiro a dar a notícia acaba comprometendo a qualidade da informação que chega ao público.
É possível independência jornalística no Brasil, principalmente entre os veículos de comunicação do interior?
O proprietário de um jornal tem que ter em mente que quem consome informação, seja no papel ou no meio virtual, reconhece facilmente quando o jornal é tendencioso. A falta de independência mina a credibilidade, o que é motivo para perda de leitores e clientes. Porém, manter bom relacionamento com governos e empresas não significa perder a independência jornalística.
Em carta aberta publicada em novembro de 2016, a Adjori Brasil fez uma declaração da importância de jornais do interior. Esse vínculo com a comunidade atendida é que deixa jornais como Diário de Caratinga mais fortes?
Certamente. Ao assumir as ‘bandeiras’ da comunidade, ao lutar por suas reivindicações, o jornal do interior cria laços muito estreitos com deu público leitor. É isso que torna o jornal do interior, como o Diário de Caratinga, tão importante em sua comunidade.
O senhor compartilha da opinião daqueles que dizem que os jornais impressos irão acabar?
São muitas as projeções e até estimativas de tempo para o fim do jornal impresso. Nada, porém, muito preciso. Há, sim, uma forte tendência da substituição da leitura em papel pela leitura em meios virtuais. Essa velocidade de substituição é muito variável, especialmente em cidades do interior, onde o hábito de leitura, em papel, é ainda muito forte. Os jornais do interior continuarão sendo fundamentais para suas comunidades. O que é preciso que eles aprendam é a levar a informação da maneira que o consumidor quer receber: no papel, no tablet, no smartphone.
Qual conselho o senhor daria para que quer abrir um jornal no interior do Brasil?
Nossa orientação, que vale para qualquer tempo, é não perder de vista a importância que cada jornal deve ter em seu município e região como empresa produtora de conteúdo. O jornal é o RG da informação que circula seja em que meio for. É isso que nos diferencia de tantas outras fontes de conteúdo, algumas de origem incerta. No mais, recomendamos estar sempre atento às novas tecnologias e ferramentas que facilitam o gerenciamento da empresa jornalística. E, por fim, valorizar o associativismo, pois juntos somos mais fortes.
Miguel Ângelo Gobbi, presidente da Adjori Brasil, é Bacharel em Ciências Econômicas, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), RS, Miguel Ângelo Gobbi é sócio diretor do empreendimento jornalístico, responsável pela edição do periódico – Folha do Oeste, com sede em São Miguel do Oeste, SC, (bissemanal). É também sócio-diretor de empresas do ramo de internet e de softwares para o mercado editorial. Assumiu a presidência da Adjori Santa Catarina em 1995, sendo reeleito sucessivas vezes. Atuou como membro do Conselho do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), participando, também, como conselheiro de outras entidades de classe da sociedade civil organizada, como a ADVB Santa Catarina. É o primeiro presidente da Associação Nacional dos Jornais do Interior do Brasil (Adjori Brasil) – eleito por seus pares, presidentes da Adjoris de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Mato Grosso e Rondônia.
Um comentário
Célio Figueiredo
A entrevista do presidente da Adjori-BR, Miguel Gobby é uma demostração da realidade da imprensa do interior do Brasil. Continua forte, enfrentando a crise. Ela é muito importante para a democracia e a população, pois fala de perto dos problemas da sociedade.